Terapia da Cozinha

Nome do Escritor: Arnold Gonçalves

Sonho de poeta

Peço a Deus
Não muita coisa
Talvez, uma única,
A felicidade.
Uma garota não tão perfeita,
Apenas humana
Que me tenha no coração.
Uma casinha singela,
Mas aconchegante como o mar.
Uma janela à direita,
Uma outra à esquerda
Para o sol entrar
E depois partir
Deixando sempre o calor
Da natureza que Deus criou.
Peço também um quintal
Com muitas árvores
Onde os amigos alados
Possam pousar
Quando vierem nos visitar,
E no chão,
Ao invés de cimento,
Uma terra fofa
Sem calvície,
Com a cabeleira esverdeada
Habitada por toda espécie
De pequenas vidas digníssimas.
Em meio a esse modesto mundo
Onde só nós,
Eu, ela e nossos pequenos,
Mas importantes amiguinhos,
Possamos viver muito bem
Com o pão de cada dia
Sempre ao alcance de nossas mãos;
E os olhares invejosos
Da maldade dos que não crêem
Que a vida nesta terra
Possa ser levada com decência
Fiquem bem longe,
Tão longe
Que nossas míopes vistas
Sejam incapazes de percebê-los.
Para um pedido
Me parece que ficou
Um tanto extenso...
Mas é que quanto mais escrevo,
Mais a vontade aumenta,
E uma estranha sensação
Me dá a impressão
De que tudo é mesmo assim.
Que sou feliz,
Que tenho alguém
Que divida um lar,
Que divida a vida junto a mim.
Então não quero mais parar,
O escritor está perto de Deus.
Seu sonho é realidade enquanto escreve;
A realidade é outra
Enquanto as letras vão se juntando,
Formando palavras de amor e poesia.

Local de Nascimento: São Paulo SP

De verdade, te amo

Quando te olho
Quero achar no teu olhar,
No teu sorriso,
Um pouco de afeto,
Talvéz carinho.
Um sentimento qualquer
Que tenhas por mim.
Procuro ver em ti
Uma motivação a mais
Para viver melhor a vida.
Quando imagino onde estás,
Te vejo em qualquer canto,
Mas sempre comigo a te acompanhar.
Na verdade isso tudo pouco importa.
De verdade, nada vale
Saber de ti, ouvir de ti
Se não tenho a chave do teu coração.
E tudo que posso fazer
É dizer a única verdade:
Te amo.

Fim do infinito

Tenho vontade de me esconder
Ou simplesmente deixar de existir.
A claridade do nosso relacionamento
Agora me parece tão escura.
Nossas aureas continuam brilhando,
Mas à galáxias de distância.
É difícil compreender,
Eramos um feito para o outro,
Um amor estilo louco.
Ríamos falando sobre nosso amor infinito.
Hoje apenas nos olhamos
Com lágrimas de até um dia,
Que nunca irá chegar.
Só se for num sonho, ou num pesadelo
Quando rirmos de nosso amor infinito
Que acabou como um fim.

Formação Acadêmica: Letras / Tecnologia da Informação

Covarde

Não sei mais quem sou,
Muito menos o que devo fazer na vida
Minha luta burra é apenas sobreviver
Tentar levar uma vida normal
Para não ser aniquilado
Por tentar apenas ser diferente,
Pensar um pouco menos
Ou um pouco mais do que o convencional.
Noto que meus objetivos estão dispersos,
E é tão difícil alcançá-los.
Meu tempo é todo para o trabalho
As sobras para o estudo
As migalhas para o lazer
E a vida passa como um cometa
Não dando tempo para refletir-me
E saber se sou ou não feliz.
Não posso deixar-me esquecer
Que um dia quis ser feliz
Quis mudar a ideologia dos nossos dias
E sonhava muito, estava vivo
O que quer dizer isto?
Será que me tornei um adulto?
Será que deixei de ser criança?
Meu mundo deixou de ser sonho
Hoje continuo sofrendo
Mas antes ainda sonhava
Restava-me esperança.
Tenho muito medo
Acho que virei um covarde
Não mais morreria por algum ideal.

Assassinato impune

Plantas morrem pelas encostas
De uma serra que já foi do mar
Animais morrem em meio a feridas
De poluentes químicos, veneno atômico
Refinarias, homens, siderúrgicas, homens
Usinas, homens, poluição, homens.
Desliza-se uma terra adoecida.
Desabam árvores ressecadas.
Isso tudo é encarado como empecilho para a sociedade.
Por isso os matar, assassinato impune.
Onde cantava o sabiá
Hoje só se houve o canto da morte
Onde pisava toda uma fauna
Hoje paira um pó viscoso
Sinais do tempo, o progresso está chegando
Vida rudimentar está acabando
Tecnologia humana a serviço do dinheiro.
Serra do mar, zona imobiliária, por isso assassinar.
O que é natural pode-se manufaturar
O que é fresco pode-se congelar
Uma mata é habitada por feras.
Temíveis inimigos da civilização.
Por isso os matar, exterminar.
Não, não. Não há como advogar
A natureza não pode pagar
Assassinato impune vamos presenciar
Pois sem dinheiro o processo vai-se arquivar.

EMAIL: pessoal@sitedoescritor.com.br

Acardia

Quando ele foi expulso do paraíso
Cuspiu o coração e o sangue de suas veias.
Virou um autômato, um robô insensitivo
E nunca mais encontrou a paz do coração.
Se transformou num agonizante predador
Deixando o ecossistema em estado de emergência.
E Deus, temeroso pelos resultados das represálias que impôs
Resolveu levar o paraíso para outro sistema solar.
Largado num cenário estranho
O homem criou o estigma de se transformar no poder.
Pouco a pouco foi se espalhando pelo planeta,
E não tardou para o estigma voltar-se contra o criador.
Em diferentes raças o homem se transformou
Pelo poder todos viveram e mataram
O desentendimento foi tanto que até as línguas mudaram
E a palavra escravidão surgiu nos dialetos.
Hoje os povos sobrevivem cercados por muros urinados e rios de esgoto
Por trás de montanhas desertas, além dos oceanos putrificados
A terra é como o pão, dividida em pedaços
Saciando a fome dos "senhores" de cada raça
Os braços dos homens eram fracos
E suas pernas pouco poderosas
Mas, agora há braços e pernas de metal.
Que lançam fogo, destroem os "irmãos" inimigos
Anestesiam a agonia de não ter um coração
Ativam o ego de ter a razão
Para por ela encontrar Deus e o paraíso que roubou.
Para destruir Deus e reaver o paraíso que julga ser seu.
Com o paraíso ao seu alcance
O homem vai procurar o seu destino
Outras raças, invejosas, virão no encalço.
Outros homens, ambiciosos, entregarão a estas raças
O segredo do paraíso, endereço da morte
Morte que reinará no paraíso da paz eterna
Enquanto os homens lá estiverem lutando por sua posse
Como se fosse mais um pedaço de pão
A ser dividido entre os governantes
Em meio a esta guerra total, o juízo final
Surgirá uma figura dilacerada, fumegando por justiça
Sangrando em seu paraíso invadido pelo robô.
O autômato que busca o coração que perdeu
Mas que neste caminho perdeu a dignidade.
A figura chamada Deus resurge indestrutível
Lançando ondas mortíferas de radioatividade.
Sobre os invejosos, sobre os ambiciosos
Sobre os traidores, sobre os corruptos
Sobre a corja reinante da existência humana
Deixando somente um resto de vida.
O resto é a esperança da verdade.
Registradas em pergaminhos históricos
Que relata sobre o pós-fim, onde haverá o homem em paz
Não se encontrará mais a vontade de prejudicar.
Nem mesmo a de "se dar bem", mas sim a de se fazer o bem.
Reconstruir o paraíso de forma que seja verdadeiro
Não apenas um paraíso descrito por pergaminhos.

Livros Publicados: Poesia: 1990 - Natureza Humana; 1992 - Em Busca de Alguém; 1997 - Sonho de Poeta; 2000 - O Estado das Coisas

Natureza - O habitat que herdamos


A terra era água; nua e vazia
Primeiro havia um grande astro de fogo

Até que Deus disse: "Faça-se a luz"
O intenso calor provocou fortes explosões

E fez-se o primeiro dia no planeta
E fragmentos desse grande astro se espalharam

Aí Deus quis inventar o firmamento
Preenchendo o espaço com pequenos astros

E separou o espaço das águas
Muito tempo passou, e cada fragmento

Das águas fez brotar a terra
Ganhou características próprias da localização

Nesta terra; semeou plantas, árvores, flores...
Um deles se encheu do elemento água

Separou dia e noite através dos astros
E se protegeu do cosmos com uma atmosfera

Nas águas fez surgir animais sem raízes
Com água e proteção a vida surgiu

Que a partir daí subiram para a superfície
Pequenos seres evoluíram sob as águas

Para cortarem os ares sob o firmamento
Movimentos propiciaram a imersão de terras

Na forma de existência alada
Com isso os seres aquáticos se adaptaram

E daí encher a terra árida com vida
Plantas, insetos, anfíbios, répteis, aves, mamíferos

A todo esse conjunto Deus quis um senhor
Aos poucos o fragmento se encheu de vida

Então criou o ser humano, e disse:
Um desses seres subitamente se destacou

"Presidirá e nomeará tudo o que aqui houver"
Aprendeu a organizar a comunicação

Assim este conjunto foi batizado "Natureza"
A manipular todos os outros elementos

Palavra da religião, graças a Deus
Assim surgiu o homem, palavra da ciência

     Como superior o homem agiu
     Escravizou a vida para lhe servir
     Perseguiu a vida que não lhe serviu
     A tudo estipulou medidas e quantias
     Limitou os horizontes, fechou mares
     Quis ocupar cada centímetro da posse
     Como que com medo de perder o direito
     Voou mais alto que o pássaro
     Nadou mais ao fundo que o peixe
     Subiu a topos onde nem mato
     Perfurou terras sob minhocas
     Fincou bandeiras aos quatro cantos
     Então olhou para o céu, romper o firmamento
     Lua, Marte... até onde o telescópio
     "Tudo é meu", "Só me apropriar"
     Herdamos o habitat, toda a natureza
     E à milênios brincamos de senhores
     Palavra da religião, palavra da ciência.

Local onde vive: Brasília DF

Inteligência - Poder de reverter situações

Existe uma inteligência natural
Cada espécie sabe tudo o que fazer
As forças se equilibram eternamente
São raros os casos de descompasso
A situação humana é um desses
Ignorantes, nascemos aos montes
Nenhuma habilidade para o natural
Aprendemos a inteligência artificial
E assim só fazemos uso dela
Tentando criar um mundo irreal
Nos tornamos fator de desequilíbrio
A inteligência natural se adaptando
Tornando inútil muito do que criamos
Em breve estaremos sobrando na cadeia
Ou seremos energia para novos seres

Há tempo ainda para parar de agir
Voltar-se para as Ideias naturais
Refletir sobre a realidade humana
Aceitar a ignorância da consciência
Vê-la como problema que causa
Não é vantagem ter a dúvida
Pagamos cada avanço artificial
Com cada espaço que nos pertence
Na inteligência do mundo natural
Pensamos em conquistar o mundo
Enquanto perdemos nosso próprio universo
A dúvida nos dá muitas chances
Acertar ou errar parece óbvio demais
Só que não sabemos o certo e o errado
Coisa que a inteligência natural sabe

Então é essa inteligência a desenvolver
O certo e o errado lá estarão
Mundo natural nunca erra a mira
Não há dúvida, é porque é, acabou

Mudar! O homem inventou, acabou.

Tarde ensolarada de domingo

Ah, o sol! Após um ano inteiro de lamentações à beira da janela do escritório onde trabalho, poderei enfim apreciar minha pele derretendo sob o efeito do foguento astro rei. Dou uma olhadela pra a rua enquanto tomo um copo de suco de laranja. O gosto dessa fruta me é estranho pela manhã, mas litoral é sinônimo de esportes radicais e suco de fruta é uma das bebidas preferidas dos esportistas; eu faço o que posso, bebo o suco. Na rua, muitas pessoas voltando da praia e as imagens se distorcendo devido à refração provocada pelos raios solares. As pessoas realmente acordam cedo na região litorânea, bem, nem tão cedo; ao olhar para o relógio, percebo que são quase treze horas. Eu tinha certeza que acordaria após o meio dia se não tivesse meu rádio-relógio por perto, o único inconveniente é que me sentiria levantando para ir ao ponto de ônibus pegar a lotação rumo ao "trampo de peão".
O sol está gostoso, minha pele arde como se estivesse tocando numa panela de pressão recém tirada do fogo. Meus pés expiram aliviados por terem um para de sandálias a lhes proteger do incandescente piso de blocos hexagonais. A caminhada até a praia seria de aproximadamente de cem metros, o que me permitiria fazer um pouco de musculação, carregando o guarda sol, uma cadeira, esteira, toalha e bronzeaador! Xi! Esqueci de trazer o bronzeador, tudo bem, o sol não está tão quente assim e, depois, os bronzeadores daqui sãouma porcaria, os paraguaios são mais baratos. Não sei porque falo assim, dificilmente os uso. No meio da caminhada, noto que meus ombros já estão com uma nova cor, só não sei se era assim que eu esperava, talvez, se estivesse mais moreno e menos vermelho...
Esse é o mundo! Admiro o céu e o mar se confundindo no horizonte, me esqueço que a musculatura dos braços está tesa e gritando: "Largue estas bugigangas e me cubra com uma toalha". É, a riqueza do Brasil ninguém leva, nos mesmos é que a destruímos, tamanha é a quantidade de lixo que tenho de diblar. Finalmente encontro um lugarzinho entre um canal de esgoto e outro, ali o lodo não é tão intenso e as latas de cerveja não vão e vêm com as ondas. É lindo ver o mar, mas é mais gostoso ainda estar nele; já não suportava mais suar sobre as queimaduras de meus ombros. O sal que se espalha por todo o meu estômago a cada embolada em que me envolvo diz que a comunhão experimenteda por minha pessoa e pela natureza é perfeita.
Resolvo deixar o sal e voltar ao sol, deitado sobre a toalha não terei mais que aturar caranguejos e garrafas me beliscando quando submerso, além do mais, já estava me sentindo inferiorizado diante dos surfistas que de vez em quando chegavam às minha proximidades, onde a água batia em minhas coxas, para em seguida voltarem ao fundo do mar. Senti-me uma criança brincando na areia molhada enquanto o irmão mais velho se diverte de verdade em meio às ondas. Fingi que estava dormindo por trás dos óculos escuros, as pessoas que passavam me olhavam, eu também as observava e me perguntei se o que pensavam era o mesmo que eu. Por que eles tinham uma pele morena de sol e eu aquela pele vermelha de filme de faroeste?
Deixei para lá a questão, pois a tarde de domingo estava espetacularmente ensolarada, ou direi terrivelmente. Não, não podia apelar para o guarda-sol; tinha que pensar na segunda-feira e nos olhares invejosos dos colegas de trabalho, pena não poder receber os tapinhas nas costas como parabéns.
O sol começa a se pôr, poxa, como o tempo passa! Só minhas axilas não queimaram, parece que fui marcado por um gigantesco ferro em brasa. Ah! Mas quando o vermelho sumir e o ardor passar... Quanta felicidade, vou até comprar uma camiseta regata com os dizeres Long Beach. Antes, porém, terei que recolher todo o lixo que produzi, mas como, se até eu estou contido no meio da lixeira deixada por meus semelhantes? Dou uma disfarçada, enterro alguns palitos de sorvete que usei para criar um relógio solar o qual sequer sei usar; bato desajeitadamente o cabo do guarda-sol para tirar a areia e saio como quem quer passar desapercebido.
A caminhada de volta parece ser mais longa que a de ida; bem que o prédio da kitchenette que aluguei poderia ter piscina, mas uma ducha fria no pátio não é tão mal assim, além do mais, evitou-se o vexame de ficar só nas beiradas por não saber nadar. Logo tiraria a sunga apertada que me deixava assustado vez ou outra quando meus olhos se fixavam num corpo mais tentador. Tiraria também as sandálias que entraram em fricção com o costado de meus pés desde que dei o primeiro passo da volta, aliando-se a esse confronto eu poderia notar a presença de uma leve, mas ardente pitada de areia. Garotas e rapazes passam por mim impecavelmente bronzeados, guiando suas bicicletas não muito reluzentes, ambos resultantes do mesmo agente causador, o sol com o mar. Lembro-me que acordara tarde demais para fazer meu cooper anual.
Não contava com isto: do pátio posso ver as janelas de quase todos os apartamentos, logo a vergonha me dá uma Ideia. Esqueço a ducha fria e subo a escadaria correndo num fôlego só até o sétimo andar. Grande Ideia! Compensei o cooper desobedecendo as regras do condomínio, espalhando areia por todo o corredor. Banho tomado na kitche, o pote de loção refrescante no lixo, seu conteúdo todo sobre minha pele; uma necessidade de ficar em pé o tempo inteiro só para não precisar gemer na hora de desencostar de qualquer lugar. Minha pele ardendo em alta temperatura, um friozinho vindo bem do meio da coluna. Estou com febre de sol, ou será uma vontade que chegue amanhã, quando a dor se tornará prazer e poderei desfilar com minha regata fazendo pressão até que minha pele natural jogue fora a falsa Ideia de garoto bronzeado de Long Beach.

AGORA comentários para o autor.

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