Nome do Escritor: Marcos Antônio Lima

escritor Marcos Antônio Lima

A persuasão da fé.

A fé, esse sentimento de erupção do espírito, que para uns é menor que um grão de mostarda, e para outros, tem a proporção de uma imensa tempestade de areia no deserto, é também pão para quem tem fome e água para quem tem sede. Esse sentimento incondicional aproxima os seres imperfeitos da personificação da perfeição de Deus. Quando conheci a história de Maria Santina de Jesus, ou singelamente; Dona Santa. Era ela "ainda" uma jovem e bela mulher, de pele cor de jambo, e lábio de pêssego, no auge dos seus vinte e nove anos. É bem verdade que o árduo trabalho na roça, extraindo das vísceras da terra o subsidio para a sua subsistência e de sua família, davam-na a impressão de mais de trinta e cinco, o que "envelhecia" mais não excluía a sua beleza. O marido, Zeca vira copo, como era conhecido Joaquim Bezerra, que também era agricultor e exímio criador de ovelhas.
No entanto, o pouco que ganhava deixava nos botecos do povoado, entornado em copos de cachaça, ou ostentando a luxúria dos bordéis. Quando a conheci, e "praticamente" ela me contou a sua trajetória de vida, naquela manhã de sábado em que a brisa havia saído pelas janelas do tempo a passear com o vento por outros sertões. Deixando o astro rei quão solitário e tórrido em sua metamorfose incandescente, a ponto de transformar o solo num imenso colchão de fogo. Ela teceu a sua narrativa nas entrelinhas de seu destino de tal forma, que me senti incluso nela. A sua voz soava suave quanto à brisa de outono, quando ela disse-me: – "Tudo começou quando tive um sonho, foi logo no alvorecer, um pouco antes do despertador do sertão cantar e acordar o sol" Continuou: "Então me levantei sem dizer nada ao meu marido, cutuquei ele e pedi para me acompanhar até a cidade de Paulo Afonso, para fazer o que Jesus havia ordenado".
Aquela mulher em Cristo respirava o evangelho a cada manhã, mas não soube afirmar ao certo se fora um simples sonho, ou uma premonição. Nisso, o marido se levanta ainda meio sonolento e sem entender patavina de nada, criticou: "Ficou doida muié? O que vâmo fazer em Paulo Afonso? Esqueceu que não temos dinheiro algum". Enquanto que ela tranquilamente afirmava: "Não te preocupa com isso, levanta e vem comigo, em nome de Jesus". Zeca, que a essa altura da vida, travava uma luta voraz contra o alcoolismo, e para surpresa de Dona Santa, se levantou disposto. Foi até a bacia de alumínio, banhou o rosto para espantar o sono, escovou os dentes, banhou-se, trocou de roupa e seguiu, meio que atônito, a esposa evangélica. A viagem até o Açaí, em Paulo Afonso durara cerca de uma hora e quinze minutos, aproximadamente. Ao adentrarem naquele centro comercial, ela pegou um dos carrinhos de compras e pediu para que o marido fizesse o mesmo.
Desconfiado, e com medo ele a aconselhou a irem embora dali o quanto antes, pois se caso continuasse com aquela loucura, iriam saírem daquele local direto para a delegacia: "Muié, nois num tem um tostão furado, tu tá querendo passar vergonha é?"– Perguntou o angustiado esposo. – Oh! Home de pouca fé! Confia em Cristo e verás! – Afirmava a convicta mulher. Nisso, foram enchendo de suprimentos, os dois carrinhos. Logo depois de colocarem os pacotes de feijão, farinha, açúcar, café, macarrão, massa de milho, óleo, leite, biscoitos, e frango, dentre outros. Dona Santa parou, olhou na direção dos caixas e disse: – É ali! No número sete! Foi nesse caixa que Jesus mandou vir. – Dizia ela. E assim o fizeram, seguiram em direção ao referido caixa. Desconfiado, e a contra gosto Zeca foi colocando, um a um, os itens do carinho, para se afastar logo em seguida.
Dona Santa, tranqüila, como se tivesse em sua bolsa, um montão de dinheiro, o bastante para pagar todas aquelas compras, foi colocando a mercadoria na esteira do caixa. E de longe, como mero espectador, o marido a observava, mesmo achando uma loucura o que ela estava fazendo, ficou apreensivo com o que estava prestes a acontecer; seriam presos, ou no mínimo expulsos do local, pensava ele. O serviço de som do supermercado tocava Amor I Love You, de Marisa Monte. Vez enquanto, um ou outro anúncio de ofertas promocionais, se fazia ouvir interrompendo a suave melodia, quando de repente, uma voz possante anunciou: – Atenção, muita atenção senhores e senhoras clientes do Atacadão Açaí. – Era uma voz de timbre potente, e grave. – O senhor, ou a senhora que estiver neste exato momento, passando as suas compras no caixa de número sete, acaba de ser contemplado, e ganha totalmente grátis, todos os itens registrados.
O coração de Zeca parecia querer sair pela boca, tamanha fora a surpresa. A maioria das pessoas a sua volta, perplexas, nada entendiam o por quer daquele homem pular e gritar feito louco. Enquanto que a esposa, que se vestia de forma simples e humilde, com seu vestido de chita, e calçando alparcatas de couro de boi, estava eufórica e dava glória a Deus, atribuindo-lhe a autoria daquele episódio. Tudo havia acontecido de forma quão rápida e inexplicável para Zeca, que no inicio não conseguia enxergar sentido algum, o que para ele era um ato de extrema loucura, havia se tornado um sublime ato de fé.

Livro Um homem à sombra de seu destino

Sinopse de Um homem à sombra de seu destino.

Um homem à sombra de seu destino passa-se nos Sertões de Sergipe e Bahia, e narra à saga de um magnânimo ativista sergipano. Carlos Soares de Menezes, Seu Carlinhos, de Lagoa das Areias. Filho primogênito de uma humilde família de agricultores que vivia mudando de ares com freqüência.
Quando seus pais saíram da Comunidade Augustinho, era ainda garoto, encontrava-se com apenas um triênio de vida. Depois da separação, a sua mãe o enviou para a casa do avô João Menezes. Entre seus 11 para 12 anos, antes de ir para casa da tia, Carlos morou sozinho por um período de seis meses. Passou necessidade. A comida era escassa. Fazia trabalho quando lhe davam em troca de alimentação. Porém nunca obteve coragem para pegar no que é alheio. Chegou a dormir em “Cama de Varas” com coberta de saco, tendo apenas uma roupa impar para vestir.
Aos doze anos emigrou para a Bahia, foi parar na fazenda caraíba Município de Pedro Alexandre aonde foi legalmente registrado. Neste período Carlos viveu quase que num regime de escravidão. Trabalhava na roça em troca da comida e moradia. Aos finais de semana se juntava com os tropeiros, com os quais distribuía variedades de mercadorias pelo Sertão de Santa Rosa Ermírio, Lagoa Redonda, Monte Alegre e Minuím.
Certa ocasião teve que atravessar o Rio Vaza Barris com sacos de farinha na cabeça para poder seguir viagem com destino a Pedro Alexandre onde distribuía todo o produto. Neste ínterim varia coisa lhe aconteceram, coisas boas e ruins, como por exemplo: conhecer novos amigos tropeiros, novas culturas e pessoas.
Não mais aguentando a solidão, casou-se aos 21 anos, aos 22 foi pai. No entanto a labuta de sofrimento e superação, sempre o acompanhou. Ao regressar ao sul da Bahia, para trabalhar de capataz, fora acusado, injustamente, de ladrão. A seca castigava, e não tendo alternativa, tornou-se “pinhão de trecho”. Até que sofreu um terrível acidente que o deixou acamado por 105 dias. Ali parecia que sua vida havia chegado ao fim, mas não. Quis o condão que ele chegasse até a Lagoa das Areias, e ali, a custo de muito suor e determinação, conquistou o seu império florestal, e nele construiu o seu habitat junto à sua amada mãe: a natureza.

Local de Nascimento: Paulo Afonso BA

Local onde vive: Santa Brígida BA

As cocadas de Dona Firmina

Lá vem o sol com seu raio de fulgor tórrido e multicor. É primícias de mais um daqueles dias em que o astro rei esta imponente no céu. Aquecendo o planeta e aos corações da humanidade. Enquanto que aqui na terra os simples mortais suspiram e acordam para a vida cotidiana.
Acordo e vejo Dona Firmina, em pé na beira de seu fogão a lenha. Introduzindo em seu tacho de barro, os ingredientes para iniciar a produção de cocadas. Cocadas de variados sabores, sabor de coco com alecrim. Sabor de aipim com as características do nordeste e Sabor de amendoim para adocicar o paladar das pessoas e estimular o “apetite”.
Esta negra senhora, no auge de seus setenta e dois anos já esta de pé bem antes mesmo do sol surgir no horizonte. Enquanto muitos dormem o sono dos inocentes, dos que trabalharam a noite, dos desocupados, dos despreocupados com a vida, com a lida, com a responsabilidade da qual não sente saudade, diferente de Dona Firmina.
Enquanto faz as cocadas, a sua netinha Maria fica grudada a barra de sua saia rodada. Maria espera o doce da dócil avó. Ela gosta das cocadas que a dinda faz, e em especial do cafuné. Mauricio, um negrinho de apenas onze primaveras toma seu café da manhã com pão e rapadura. Logo após ingerir o alimento sai para vender as cocadas da vovó. Tarefa não muito fácil, nem difícil, levando em conta que as cocadas de Dona Firmina são um sucesso.
Assim que de porta em porta grita o garoto --- Olha a cocada da dinda Firmina. Cocada deliciosa para adocicar a boca de homem, da mulher, e da menina --- Quando vem chegando devagarzinho com seus raios violáceos o crepúsculo, e com ele o repouso do sol.
É chegada à hora do merecido descanso para o Mauricio, Dona Firmina, e de todos aqueles que labutaram arduamente para obter o seu sustento, e de toda a família. Eis que de “cocada em cocada” Dona Firmina vai arrumando o dinheirinho da feira. Esse mesmo árduo dinheirinho juntamente com a sua aposentadoria acalanta os anseios e sonhos dos seus dois órfãos netinhos.
Povoado Colônia, 10 de outubro de 2015.

Data de Nascimento: 16/08/1969

Confissões de um Curiboca.

Seu padre eu vim aqui pro mode me confessar. Tem noite que não drumo de tanto penar, com a cuca doída eu não agüento mais ficar. Pro mode isso vim pedir pro Senhor me escutá. Penso noite e dia no má que fiz pra mãe natureza, ao desmatar. Precisava os meus fios dá de comer, e só vendendo lenha pra mode a feira arranjar. Sei que cometi esse tá de crime ambientar, mas seu padre num fale pros zome, pro mode eles não me levar.
A mata era muita, imensa capoeira sem fim que dava até pra esconder uma cabroeira inteira, certo qui hoje tá pouca. Os bichos foi embora, não se acha mais tatu nem preá. Muito menos codorna, nambu, curduniz e nem mêrmo imbú cajá. As veis seu pade, eu me ponho a pensar, oxênte home, tu não foi o único a mata derrubar, mais bem que tu podias evitar.
Chegava até pegar na enxada e sair pra trabalhar. Trabaiá em que? Só se fosse queimando lenha pra fazer carvão. Então desmatei, muito pé de pau derrubei, e minha mão calejei. A lenha na terra estava a queimar, poluindo o mei ambiente, esfumaçando o ar, que tanto má faz pro planeta como pra gente. Lenha queimada pra virar carvão tão negro e escuro como está agora o meu coração.
Tinha noite seu pade, que eu e cumpadre coruja saia pra mode caçar. Naqueles dias tinhas muita paca, estavam cheias de preá as aratacas, e veados tinha de montão pra mode nois matar. Quem lá ia adivinhar que tudo aquilo ia acabá? Será que nois caçava no tempo errado? Ou será que derrubar a mata é pecado? Pois se for ,eu e muita gente tamo lascado
Agora tão arrependido eu tô, e vendo que de uns dias pra cá o tempo melhorô, dexei de caçar, e vivo pé de árvores a plantar. Planto umbuzeiro, mangueira, laranjeira e cajueiro. Sei que sozim não vou resorver os pobremas do planeta, mas não fui só eu que fez estrondar a trombeta. Mas diga o Senhor seu Pade, para com essa minha agonia acabá, quantos Pais Nosso e quantas Ave Marias devo rezá?

Formação Acadêmica: Ensino Médio Completo

Você, a vida, o amor e eu.

             Você
             Chuva de cascata de prata
             De apológica silhueta morena
             De faróis castanhos na torre dos olhos
             De comportamento dócil e sereno.
             
             A Vida
             Luz da áurea amalgamada
             No fôlego do sopro de Deus
             Alegria, tristeza, melancolia e realização
             De esperança constate e desejada
             Na ânsia de um coração.
             
             O amor
             Uma pira de chama ardente
             De sorriso, contentamento e dor
             Ferida que só a alma sente
             Esse dilacerante e delicioso amor.
             
             Eu...
             O florescer da audição em surdos
             
             Um poema dentre o riso e choro
             
             O lusco fusco no plenilúnio que grita
             
             Intenso e constante em coração mudo.
             

É escritor, cronista, poeta e acadêmico ocupante da cadeira de número 22 da Alas – Academia Literária do Amplo Sertão Sergipano. Marcos teve brilhante participação na antologia Encontro com a palavra (Scortecci Editora, 1999). Em 2000, lançou sua primeira obra poética: Amor em versos e reversos (Scortecci Editora). É participante das Seletas; Abrindo Alas (ALAS); II Encontro de Escritores Canindeenses e Convidados; I Encontro de Escritores Monte-alegrenses & Convidados, I Encontro de Escritores Aracajuanos, 4º Encontro Sergipano de Escritores, 1 Encontro Sertanejo de Escritores, e III Encontro de Escritores canindeenses & Convidados.

No caminho do tempo

A caminho de casa eis que estava a veranear pelo campo, ao passar defronte a uma antiga e rústica casa, vejo um senhor de seus oitenta e nove anos cochilando Inócuo em sua inércia.
Aquele ancião repousava no sedentário braço do tempo, a fadiga extinta de sua longínqua mocidade. --- Seu ressonado emitia um som desigual, parecia folha seca ao vento --- Suspiro ocioso desgastado em sua idoneidade.
O seu corpo cansado não parecia, mas suportar o peso dos anos vividos. A sua pele envelhecida pela degradação dos anos, talvez guardasse nos refolhos das rugas os dias de glória.
Homem nascido e vivido no campo, cacto de roça, vaqueiro e lavrador até a medula. Nos áureos tempos de sua jovialidade percorria montado em seu alazão o Mocambo onde de escondia o gado no sertão. Ordenhava as suas vacas, com mãos hábeis admirando os dois jatos lácteos cruzarem o ar e se perder na espuma alva da medida.
Esse mesmo idoso que agora cochila ócio em seu alpendre cultivou com braços vigorosos, o chão de alguns vários alqueires para o plantio da lavoura do milho, feijão e algodão, o dito “ouro branco”.
Não poderia supor que um dia se dobraria nos galhos do tempo --- antes do exéquias --- envergaria sua vértebra direcionando ao chão, o nariz afilado que sempre esteve ereto e apontado para as estrelas, a contemplar o sol.
Povoado Colônia, 06 de outubro de 20015.

Livros Publicados: Amor em Versos e Reversos (Poesia) Editora Scortecci.

Valentia a Flor da Pele

Pedro Soares Cavalcante mais conhecido como Pedro Valente, homem cruel e destemido, há quem diga que era o segundo Lampião. Nascido em Mata Grande Alagoas Pedro levava a fama de alagoano valente e inescrupuloso. Conta-se que matou pra mais de cem, sua fama começou em Santa Brígida na Bahia...
Certa tarde de verão o calor abrasador causticava o solo sofrido do sertão baiano, Pedro chegava a Santa Brígida sempre armado com dois revolveres calibre 38 e não levava desaforo pra casa. Aos 22 anos entrou numa briga de bar, na qual acabou desferindo quatro tiros de sua arma no peito de José Firmino matando-o na hora. Este episódio desencadeou uma ”guerra”. José Firmino era um sujeito pacato, mas quando esquentava a cabeça nada nem ninguém o enfrentava. A família do falecido queria vingança, os irmãos se reuniram num grupo de cinco, com intuito de matar Pedro Valente. Fizeram uma tocaia em plena caatinga, ao sol abrasador do meio dia. O primeiro tiro desferido em Pedro Valente acertou seu antebraço esquerdo. Mesmo ferido ele revidou ao ataque, desencadeando um tiroteio infernal. Pedro derrubou logo três adversários na primeira rajada de tiros dos seus revolveres, faltavam apenas dois e mais um que ficou apenas ferido...
--- Venham cambadas de frouxo, cinco homens contra um é covardia. --- gritava Pedro Valente.
O cheiro álacre de pólvora poluía todo o ar envolto, os estampidos dos tiros pareciam não acabar mais, pouco depois... Tudo silêncio não se ouvia mais tiro algum. Pedro Valente (o único sobrevivente) deste fatídico episodio encontrava-se todo ensangüentado, perfurado por tiros, mais estava bem vivo. A crueldade lhe dava forças, mesmo ferido arrancou as cinco cabeças de seus atacantes e seguiu para a cidade, lá chegando foi socorrido por Valdenor, o enfermeiro curandeiro da região. Da família de José Firmino só restou o pai e uma irmã. Pedro Valente enviou as cinco cabeças decapitadas para o João Firmino, ao receber a encomenda macabra ficou irado, apossando-se de sua espingarda calibre 12 saiu à procura do assassino de seus filhos encontrando-o no Bar de Zé das Cabras...
--- Pedro Valente cabra de peia apareça para morrer. --- gritava João do lado de fora do bar.
Pedro Valente saiu de armas em punhos, não dando tempo de João atirar, acertou dois tirombaços no peito esquerdo, acabando assim com o último dos Firminos.
--- Esse aí era homem valente --- dizia Pedro apontando para o corpo inerte e ensangüentado de João Firmino. --- Valia mais que os seis filhos juntos. --- comentou
Dia a dia Pedro Valente aumentava ainda mais a sua fama. Ninguém se metia a besta com ele. Até que certo dia, João da Onça (Caçador de Onças) não aceitando sua fama decidiu tirar a limpo qual dos dois era realmente valente.
Pedro Valente estava na calçada do boteco da “Dinda” quando João apareceu desafiador... --- Pedro cabra da peste quero ver se tu és bom de tiro como dizem, se não for preparasse para morrer. --- dizia João da Onça segurando firme na coronha de sua inseparável espingarda calibre 12 de cano duplo. Pedro Valente pulou de lado já com os dois cospe fogo empunho.
O tiro desferido pela espingarda de João quase o acertou, mas como vaso ruim não quebra fácil, ele se livrou do disparo fatal ao mesmo tempo atirando acertou três tiros na cabeça de João da Onça. Atirado ao chão estava o corpo de João da Onça. Agora Pedro Valente estava mais soberano que nunca. Não existia homem na região que tivesse coragem para enfrentá-lo. Sua fama foi se alastrando pelo sertão baiano, acabando por chegar ao conhecimento do Coronel Matogrosso que enviou dez de seus soldados da força para dar cabo do Pedro Valente, pois o morto João da Onça era seu primo. A cabroeira do Coronel Matogrosso chegou a Santa Brígida arrotando valentia, este fato chegou ao conhecimento de Pedro Valente. Pedro era valente, mais não era burro. Enquanto a cabroeira descansava na caatinga, rasteiro e silencioso feito serpente fora eliminando um por um. Quando os cabra deram por falta de seis dos seus comparsas desconfiaram que algo estranho estava acontecendo. Não tiveram muito tempo para descobrir, Pedro Valente apareceu em sua frente...
--- Muito bem cabras, o homem que procuram esta bem aqui pronto pra morrer. --- dizia enquanto atirava com os dois revólveres calibre 38. Os quatros indivíduos restantes da tropa do Coronel não puderam fazer muito, mesmo por quer não tiveram tempo para reagir, morreram sem sequer disparar um único tiro em direção a Pedro. Contudo, mesmo estado livre daqueles dez jagunços, ele sabia que viriam mais e mais até que dessem cabo dele. Então Pedro decidiu ir embora dali, foi para Quixadamubim no Ceará e lá viveu tranqüilo por um longo período de vinte anos. Pedro Valente não queria mais saber de matar ninguém, a sua fama de matador ficou lá pro sertão da Bahia, em Quixadamubim Pedro era apenas um cidadão como outro qualquer até ressurgir a sombra dos Firmino. Ana Margarida Firmino, a única filha de João Firmino estava em seu encalço. Ela foi informada pelo Coronel Matogrosso sobre o destino tomado por Pedro. Como se diz: “Mato tem olho e parede tem ouvidos”. Ana passou então a fazer pressão psicológica enviando bilhetes ameaçadores. Em um deles ela ameaçava contar para todos na cidade quem realmente era Pedro Soares Cavalcante e dizia que após o delatar iria matá-lo. Pedro Valente não tinha medo de ser morto por Ana, mas não queria que ela falasse acerca de seu passado. Queria realmente esquecer-se do matador que um dia veio a ser. Ao se deparar frente a frente com Ana Margarida Firmino, o Pedro pensava apenas em entrar num acordo, porém não teve o tempo necessário para fazer a proposta. Ana sacou de sua bolsa, um revolver de cano curto e descarregando todos os seis tiros, atingiu Pedro na cabeça e no peito. Ana finalmente conseguiu o que homem algum jamais havia conseguido; matar o Pedro Valente, o matador mais destemido do alto sertão nordestino.

Livro Versos e reversos

O seu sorriso

             O seu lácteo sorriso
             É o pulsar da felicidade
             Que agora invade 
             Os sonhos meus
                                                    Acalanta o meu desejo
                                                    Florindo os anseios
                                                    Nesse trejeito meu
             
             O seu olhar
             É farol de Estrelas
             Que reluz candura
             Neste mundo
             De amargura
             Dos delírios meus
                                                    Os seus beijos são
                                                    Caricias fascinante
                                                    Cascata de amante
                                                    No oceano meu
             
             O seu amor
             É luva Prada
             Que envolve
             A lua de prata
             Dos sonhos meu
                                                    A sua silhueta morena
                                                    É redoma de proteção
                                                    Magnífica e serena
                                                    Que protege a paixão
                                                    Existente neste coração
                                                    Que é todo seu.
             

EMAIL: marcospoesialima@outlook.com

Reclamação Nossa de Cada Dia

Sabe daquelas pessoas que reclamam amiúde, do ar, do mar, do vento, das estrelas, do plenilúnio, do lusco-fusco, e até pensamentos? Pois bem Lucy é assim. Acorda cedo, logo durantes os primórdios raios fulgurantes do sol, iminente a reclamar.
Acaso o dia esteja propício em ser tórrido – reclama do calor – se for um dia de friagem “reclama do frio”. Vá se entender Lucy. Os deuses devem ficar lunáticos com as suas rabugices. Se o tempo árido produz um ar empoeirado que suja toda a casa ela protesta.
E em tempo chuvoso então? Acumulam muita água, conseqüentemente bastante lama, dia ruim para a secagem de roupas. Ela esbraveja até com as inócuas crianças que gastam o tempo em carreiras, pulos e estripulias no terreiro. Se sente sede reclama da garganta seca, mesmo após ingerir o líquido precioso da vida.
Acaso o grão do feijão seja duro, daquele vulgar “em virtude de ser difícil de cozinhar”, ela queixa-se do preço, mesmo tendo sido uma pechincha, chia da panela de preção que demora em cozinhar, do fogão que é lento. Não gosta de carne ádipe, no entanto degusta mesmo assim “rabujando”. Eu diria que se reclamação tivesse o apanágio de transformasse em “verba substancial” Lucy seria professora e multimilionária.

Site/Blog: marcosalima.com.br

A Natureza

A tamarineira comentava com dona Laranjeira sobre certo homem, que todos os dias, logo no alvorecer, vinha saciar sua sede. E a tarde, no lusco fusco repetia o ato.
A senhorita tangerineira e dona Goiabeira juntamente com o Senhor Abacateiro concordaram com a bela Tamarineira; “Verdade. São raros os humanos que pensam em cuidar de nós, e cuidam. Em sua imensa maioria querem apenas usufruir de nossos frutos sem ônus algum, salvo as pouquíssimas exceções”.
---- Verdade primo ---- opinou a senhorita aceroloeira --- Lembra daquele dia em que as minhas folhas apresentaram aquelas manchas? Pois bem, foi ele que cuidou de mim, além de me alimentar muito bem com os adubos e fertilizantes.
---- Claro que lembro prima --- afirmou o Senhor Abacateiro --- Lembro até que os fertilizantes eram todos de origem natural, muito bom.
---- Por isso mesmo eu capricho, dou o meu melhor de mim, para que possa colher os frutos mais saudáveis e deliciosos, e fazer sucos para sua filhinha linda. --- afirmou dona Goiabeira.
---- Eu não. Dou o fruto mais azedo que posso para esses humanos ingratos --- resmungou o senhor Limoeiro fazendo muxoxo de irritado.
---- Concordo com seu Limoeiro. Os meus cajus não posso negar, mas o que me conforta é saber que bebem pinga com eles. --- disse sarcasticamente o seu cajueiro.
A Presidente do Sindicato das Plantas Frutíferas, Dona Manga se pronunciou dizendo;
---- Pense bem pessoal. Não nos deixemos envenenar pela indiferença humana, ela é mordaz. --- continuou --- Enquanto eles querem apenas nos extorquir e explorar, o problema é deles. Vamos continuar dando frutos. Um mais repleto de lactose, para aqueles que cuidam bem de nós. Dando-nos de beber e comer na medida em que necessitamos. Para aqueles insensíveis continuamos dando frutos, só que azedos e menos saborosos. Concordam?
---- Sim!!!
Foi um hilário só. Sai de fininho, para que não percebessem a minha presença ali. No entanto sai um tanto satisfeito, é bem verdade. Por saber que aquele homem, centro do diálogo do reconhecimento frutífero que todos os dias pela manha e tarde faz a sua parte, sou eu.

Mande AGORA comentários para o autor.

MAIS TEXTOS DO AUTOR

Vou passar.

O poeta na praça.

As minhas meninas.