Pergunta: Em "Versos ìntimos", de Augusto dos Anjos: Qual a justificativa do Eu Lírico para seus conselhos?

"apedreja essa mão vil que te afaga, / escarra nessa boca que te beija!"

O poema:

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

Vocabulário:

quimera = Coisa resultante da imaginação. Fabulação, fantasia, ilusão. Esperança irrealizável. Utopia.
escarro = Insulto.
afaga = fazer carinho. Acaricia.
chaga = Dor moral. Ferida com pus, que não cicatriza.
vil = Insignificante, pequeno, pobre, mísero, mesquinho.

Interpretação:

A justificativa do Eu Lírico para dar esses conselhos está baseada na segunda estrofe.
O homem, apesar de ser vítima das injustiças, assim mesmo, não deixa de cometer injustiças.
E mesmo quem te ajuda num determinado momento, será aquele que te prejudicará num próximo momento.
Baseado nestas premissas o Eu Lírico propõe que se ataque antes mesmo que seja atacado.
Propõe que não fuja à sua essência de fera injusta, que causa as chagas.
Não é natural ao homem ser bom, pois todos os homens são vis, mesmo que não pareçam ser num determinado momento.


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