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Selecionei dez poesias contidas no livro para que se tenha uma mostra de seu conteúdo. Não tenho dúvidas, é um grande livro. Repleto de poesias muito densas...

NATUREZA - O habitat que herdamos


A terra era água; nua e vazia
Primeiro havia um grande astro de fogo

Até que Deus disse: "Faça-se a luz"
O intenso calor provocou fortes explosões

E fez-se o primeiro dia no planeta
E fragmentos desse grande astro se espalharam

Aí Deus quis inventar o firmamento
Preenchendo o espaço com pequenos astros

E separou o espaço das águas
Muito tempo passou, e cada fragmento

Das águas fez brotar a terra
Ganhou características próprias da localização

Nesta terra; semeou plantas, árvores, flores...
Um deles se encheu do elemento água

Separou dia e noite através dos astros
E se protegeu do cosmos com uma atmosfera

Nas águas fez surgir animais sem raízes
Com água e proteção a vida surgiu

Que a partir daí subiram para a superfície
Pequenos seres evoluíram sob as águas

Para cortarem os ares sob o firmamento
Movimentos propiciaram a imersão de terras

Na forma de existência alada
Com isso os seres aquáticos se adaptaram

E daí encher a terra árida com vida
Plantas, insetos, anfíbios, répteis, aves, mamíferos

A todo esse conjunto Deus quis um senhor
Aos poucos o fragmento se encheu de vida

Então criou o ser humano, e disse:
Um desses seres subitamente se destacou

"Presidirá e nomeará tudo o que aqui houver"
Aprendeu a organizar a comunicação

Assim este conjunto foi batizado "Natureza"
A manipular todos os outros elementos

Palavra da religião, graças a Deus
Assim surgiu o homem, palavra da ciência

     Como superior o homem agiu
     Escravizou a vida para lhe servir
     Perseguiu a vida que não lhe serviu
     A tudo estipulou medidas e quantias
     Limitou os horizontes, fechou mares
     Quis ocupar cada centímetro da posse
     Como que com medo de perder o direito
     Voou mais alto que o pássaro
     Nadou mais ao fundo que o peixe
     Subiu a topos onde nem mato
     Perfurou terras sob minhocas
     Fincou bandeiras aos quatro cantos
     Então olhou para o céu, romper o firmamento
     Lua, Marte... até onde o telescópio
     "Tudo é meu", "Só me apropriar"
     Herdamos o habitat, toda a natureza
     E à milênios brincamos de senhores
     Palavra da religião, palavra da ciência.

EVOLUÇÃO: Espiritual ou material?

Faz tanto tempo que me dei por vivo
Nunca havia parado e pensado no quanto cresci
Um pouco pela correria do dia-a-dia
Muito pelo pensamento consumista que nos envolve
Mas felizmente pude parar para avaliar
Descobri que em todos esses anos acumulei
Juntei uma porção de ensinamentos
Cresci como ser humano, e pude agradecer
Por Deus ter me dado a oportunidade de viver
E mesmo tão jovem perceber o quanto aprendi

A evolução é aprender a dizer sim
Sem se deixar explorar pelo próximo
É poder ajudar sem prestar caridade
Sorrir no íntimo mesmo nas horas de dor
Sentir que tudo é lucro, é prêmio
Não cobrar dos outros o que não pode cumprir
É ficar em paz, mesmo diante da inimizade
Aceitar limitações sem somatizar
Adoecer por coisa à toa, enlouquecer
Não se fechar para as novidades
Não fechar as portas para as antigüidades
Refazer a lição quando errar, e não mascarar
Deixar de ignorar as dificuldades
Enfrentar o medo é a maior coragem...
Foram tantas as lições ensinadas pela vida
Muitas ainda terei pela frente
Sei que todos estão aprendendo
Apesar do semi-inconsciente coletivo
E por isso fico feliz, há evolução
Apesar de tantos dogmas psicopolíticos
O ser humano ainda continua se aprimorando.

REALIDADE: Alternância de dor e prazer

Às vezes o frio percorre meu corpo
Um iceberg em meio ao trópico
Distante, alienado, alienígena
Minhas palavras parecem grego arcaico
Sou um estranho, expressão de medo
Ninguém se aproxima com amor
Somente com o tratamento para aberrações
A agressão
Sinto em meu peito um ponto quente
Ainda é vida, apesar de tudo
A realidade ruim não dá direito à morte
O sofrimento é eterna aflição
E a solidão acompanhada
Me dá o direito de não ter o que esperar

Às vezes minhas mãos tremem
Os batimentos cardíacos a descompassar
Tantas coisas boas para fazer
Que a ansiedade e o sorriso autônomo
Nos traem antes mesmo de as fazer
É bom quando as coisas andam bem
Todos acenam, parecem amigos eternos
São mulheres sensuais, a vida em casal
Há camaradagem, dicas, até ajuda
A realidade boa vem sobrecarregada
Tem muito mais do que preciso para viver
Porque quem está bem atrai o bem
E tanta energia positiva deixa tonto
Como abraçar mais felicidade do que posso ter?

INTELIGÊNCIA - Poder de reverter situações

Existe uma inteligência natural
Cada espécie sabe tudo o que fazer
As forças se equilibram eternamente
São raros os casos de descompasso
A situação humana é um desses
Ignorantes, nascemos aos montes
Nenhuma habilidade para o natural
Aprendemos a inteligência artificial
E assim só fazemos uso dela
Tentando criar um mundo irreal
Nos tornamos fator de desequilíbrio
A inteligência natural se adaptando
Tornando inútil muito do que criamos
Em breve estaremos sobrando na cadeia
Ou seremos energia para novos seres

Há tempo ainda para parar de agir
Voltar-se para as idéias naturais
Refletir sobre a realidade humana
Aceitar a ignorância da consciência
Vê-la como problema que causa
Não é vantagem ter a dúvida
Pagamos cada avanço artificial
Com cada espaço que nos pertence
Na inteligência do mundo natural
Pensamos em conquistar o mundo
Enquanto perdemos nosso próprio universo
A dúvida nos dá muitas chances
Acertar ou errar parece óbvio demais
Só que não sabemos o certo e o errado
Coisa que a inteligência natural sabe

Então é essa inteligência a desenvolver
O certo e o errado lá estarão
Mundo natural nunca erra a mira
Não há dúvida, é porque é, acabou

Mudar! O homem inventou, acabou.

AMBIÇÃO: Perpétua ascensão da espécie

Ambição nasce embutida na índole
Ambição cresce junto ao aprendizado
Ambição vem à tona na hora da ação
Ambição, necessidade de sobrevivência

Quando nasce já pensa no peito da mãe
Quer dois para garantir sua única boca
Engatinha pela vontade de tudo alcançar
Ergue-se, ereto, escala estantes e mesas
Treinamento para todo o futuro da vida
O contato com o semelhante é a diferença
Quem pode mais vai mesmo fazer chorar
Certo de que é mais válido poder que querer
Assiste a tudo atento, quer aprender a foder
Cresce mais, vê seu próprio corpo mudar
Momento de descontrole, o destino no comando
Encontra os anabolizantes, os energéticos
Com força fará sua história como estudou
Pisar, sobrepor, destituir, destruir, o mal
Colega infeliz que errou, passou a sua frente
Gente idiota, não sabe o que é o querer
É assistir o preparado assumir o poder
Lá do alto da estante sorri com orgulho
Foi uma vida, mas conseguiu chegar ao topo
Está rodeado por amigos com ideais de cupins
Mas luta com todas as suas experiências aliadas
Quer deixar lição de vitória aos descendentes
Não tem mais nada de bom que fazer na vida
Foi tudo o que aprendeu, só o que ensinaram
Agora que é velho é que não vai mudar
Cria netos com a mesma mentalidade vencedora
Assim morreu perpetuando a espécie humana

Ambição, medonha característica humana
Ambição leva a tantas novidades boas
Ambição malcompreendida é destruição
Ambição, auto-aprovação de capacidades.

PREGUIÇA - O esforço para o mínimo esforço

Aversão ao trabalho
Sonolência cerebral
Morosidade física
Desperdício de energia

Tem gente que tem preguiça
Só é vista onde há encosto
Não faz as mínimas coisas
Deixa seu ambiente contaminado

A sujeira de sua casa
A bagunça de seu trabalho
A desordem de seus cadernos
Refletem o estado de seu cérebro

Não percebem a ação do tempo
Sonham com grandes conquistas
Mas não fazem força para isso
Bocejam a vida a esmo

Coitado!

Morreu de quê?

          Preguiça de viver.

CONFORMISMO: Beijando os pés do destino

Acorda às seis da manhã, o sono é intenso
O desejo de seguir nos sonhos é ardente
Mas a necessidade de ganhar o pão de cada dia é convincente
E ela se levanta cambaleante
Os móveis velhos parecem eternos
Como os de uma casa assombrada
E as roupas no armário disputam um lugar
Entre baratas, traças e bolores
Escolhe uma saia manjada e uma camiseta desbotada
Vai para o banheiro automaticamente
Decerto não precisaria de seus olhos
Pois esse caminho lhe é tão comum
Que até o inconsciente já conhece

Um banho quente numa manhã cinzenta
Um café quente numa vida cinzenta
Repetições comuns na vida de um ser comum
Como por exemplo o ônibus de lotação
Que insiste em justificar o seu nome
Ou o cobrador com aquele velho chavão:
“Um passinho pra frente, por favor”
Dentro do ônibus reina o tão falado
Esquema do empurra-empurra
Ou o consagrado motorista de carro-de-bois
Ao chegar em seu ponto, ela toca o sinal de descida
O motorista passa-lhe os olhos pelo retrovisor:
“Logo agora que eu estava embalando”
Ela desce rapidamente num cooper desesperado
Rumo ao relógio de ponto, mas como é de costume
Um minuto perdido no cruzamento da avenida principal
Faz com que muitos minutos sejam perdidos
Com o sermão dado pelo chefe garboso

Hora de trabalhar, bumbum queimando, cabeça latejando
Uma vontade de virar a mesa da chefia
E sob os olhares admirados dos companheiros
Ser mandada embora sem direito a nada
Pensando nisso, o jeito é pegar a calculadora no armário
Colocar sobre a mesa e constatar que a fita
Ainda é a mesma de dois anos atrás
Um resmungo no ar em nada interfere no andamento do serviço
Mas é fatal para o ânimo do trabalhador

Uma máquina produtiva ou uma criadora de casos?
O chefe lhe impõe muitos afazeres
A hora do almoço já está chegando
Os dedos no teclado da máquina de escrever
A cabeça pensando no que fazer sábado que vem
O escritório é barulhento
E com a fumaça dos fumantes torna-se uma alucinação
Sábado que vem decidiu relaxar, numa danceteria pousar

Almoço num restaurante sai muito caro
E brasileiro trabalhador é quem mais sente isso
Por essas e outras é que o bandeijão está na mão
Passos curtos em fila, como num filme de ficção
À procura de uma mesa próxima da claridade da luz solar
Onde as lâmpadas fluorescentes não bronzeiem tanto
E o cheiro forte e dietético (faz perder o apetite)
Da cozinha não se faz presente com toda a magnitude
Após as treze sempre pinta um clima de lentidão
Uma vontade de dormir, ou pelo menos relaxar
Mas não é dia de férias, e o jeito é embaçar
Uma hora no banheiro, uma hora a conversar
Está na hora do cafezinho, está na hora de se arrumar
Uma tarde ganha no serviço, mas perdida na vida
Pelo menos julga não ser sua a culpa

“Um passinho pra frente, por favor”
Parece que já se ouviu isso hoje
Só há a diferença que as pessoas
Agora estão suadas e cansadas
O clima é mais tenso, pois todos já reconhecem
A parte da tarde é a preferida pelos batedores de carteira

A noite chega, o trânsito piora, o estômago ronca
O cheiro do “churrasquinho de gato” se torna apetitoso
Ela finalmente transpassa a porta de sua casa
Respira aliviada, mais um dia se passou
E mais uma vez sobreviveu ilesa
O que fazer agora? Não há nada de bom para fazer
O jeito é assistir à novela para ter assunto no dia seguinte.

RELIGIÃO - Acredite se Deus quiser

Fiquei esperando os “tementes” cantarem
Pois tinha medo de tentar acreditar
E descobrir que não faço parte
Do paraíso perfeito dos que têm fé

O fato é que eu só queria viver sem desconfiar
De que no mundo não existe amar
Então pus-me a imaginar como seria o amar
Mas nem formas criei, talvez por não saber amar

Fiquei esperando os “tementes” ouvirem
Pois tinha medo de me concentrar
Entender a verdade da palavra do Senhor
E ter a impressão de não ser um escolhido

O fato é que eu só queria compreender
Como acontecem reações tão desiguais
A atos vindos de sentimentos bons
Então pensei: “Meus sentimentos não são bons”

Fiquei esperando os “tementes” sentarem e levantarem
Pois tinha medo de não conseguir acompanhar
Não dizer amém na hora combinada
E ser dispensado da peça celestial

O fato é que não queria ser mais um
Deus disse que cada um era especial
Então por que agirmos sempre de maneira igual?
Talvez para separar o que é certo do errado

Fiquei esperando os “tementes” se cumprimentarem
Pois tinha medo de ser excluído
Só porque não estava bem vestido
Ou não sabia a palavra-chave para a ocasião

O fato é que eu queria me aproximar
Mas as pessoas pareciam robotizadas
Não encontrava ninguém através dos olhares
Ou eu é que ali não estivesse, presente à vida eterna

Fiquei esperando os “tementes” rezarem
Pois tinha medo de alguém me reparar
E ficar olhando como se eu ali estivesse
Somente para meus pecados pagar

O fato é que eu só queria encontrar
Uma tradução que expressasse a palavra de Deus
Então quis pensar no que seria Deus
E por um momento “temi”, talvez por não saber

Fiquei esperando os “tementes” saírem
Pois tinha a sensação de ausência
Minha alma estava quase dispersa
Apesar da casa de Deus cheia de graça

O fato é que eu só queria felicidade
Por isso busquei a casa do Senhor e ajoelhei
Rezei, cantei, ouvi e cumprimentei meu interior
Depois ergui a cabeça e percebi:

DEUS EXISTE.

MATERIALISMO: Fugindo da felicidade

Ia tão bem com tantas privações
Participando ativamente como número na massa
Aí Deus soube das minhas necessidades
Me deu tudo que um homem gostaria de ter
Mostrou-me que o tudo não é suficiente
Que o vazio fica, e fala mais alto
Passei a viver vitorioso como um rei
Mas meu íntimo me entendeu um derrotado
Deus me mostrou que matéria é muito pouco
Que o verdadeiro progresso é o crescimento interior

Sempre me senti diferente do normal
Todos nós temos essa impressão de ser o escolhido
Predestinado desde os primórdios a vencer
Assumir posições de destaque e superioridade
Mas o que é mesmo esse vencer?

Ganhar dinheiro, muito dinheiro, o máximo que puder
Comprar, comprar... juntar bens e mais bens
Ter grande quantidade de pessoas sob seu redor
E chegar a um dia em que possa chorar
Lamentar não ter ninguém que goste realmente de ti
Só estarem por perto para obterem algum lucro

Neste cenário extremamente materialista
Costumamos abandonar vários valores humanos
Principalmente o mais importante, que nos denomina
Normalmente somos humanos sem sermos humanos
A felicidade cai sobre tudo e todos como a chuva
Os humanos são os únicos seres sem perceber
O sucesso é grátis, basta manter-se vivo
Mas o homem prefere tudo que é pago
Então vai à luta, rumo ao sofrimento.

POLUIÇÃO - O habitat que criamos

Hoje a imagem das chaminés
Já não é tão comum a olho nu
As maiores mudaram para bem longe
E continuam sua fumaça no esconderijo
Selva, bosque, parque particular
Fachada verde para um íntimo negro
Da poluição que continua envenenando

Hoje as chaminés restantes na cidade
Parecem caladas, até mesmo desativadas
Mas no escuro da noite, na surdina
Enquanto a fiscalização parece dormir
Ela trabalha discretamente para o mal
Com a ajuda de um novo artifício
Boa parte de seu trabalho desce
E pelos porões chega até o esgoto
Jogado clandestinamente nos rios

Hoje não existe mais grandes vilões
Todos nós contribuímos intensivamente
Para criar o novo habitat na terra
Lençóis de fezes, rios de piche
Lagos de entulhos, mares de óleo
Fazemos casas à beira da represa
Urinamos na água que iremos beber
E ainda não entendemos por que tanta doença

Reclamamos das avenidas congestionadas
Mas jamais largamos o carro
Padaria, drogaria, jornaleiro...
Andar até a esquina parece martírio
Mas a bronquite, sinusite, rinite...
É tudo culpa do governo, e do clima

Andamos pelas cidades, pelas praias
Pelas matas, pelos mares, e algo
Uma coisa sempre existe em comum
LIXO!
Não foi o industrial, nem o petroleiro
Foi o ser humano na forma mais individual
Cada um de nós jogou uma garrafa
Uma latinha, uma embalagem...
Depois pisamos em cima para espalhar
Fazendo cara de "não tenho culpa"

É inegável que os poderosos poluem mais
Através de suas empresas cheias de máquinas
Tornam imundas todas as coisas
Mas é inegável também que ninguém
Na mais completa normalidade
Preferisse parar tudo em nome da preservação
Do fim da poluição no planeta
Ninguém vai querer perder as mordomias
Só para evitar que um peixinho morra
Ou para manter a árvore sempre florida
Com frutos para os passarinhos bicarem
E saírem semeando a terra límpida...

Essa opção certamente terá alto preço
No futuro descobriremos o que é sobrevivência
O desperdício e excessos de nossos dias
Serão exemplos claros da ignorância animal
Interpretação errônea dos recursos naturais
Ar puro, mar limpo, rios fluentes
Não são frescuras de ativistas "ecochatos"
São necessidades fisiológicas do ser humano
Respiração, higienização, alimentação
A vida simples é naturalmente saudável
Não é negócio pagar a mordomia com a saúde.