livro Sonho de poeta Selecionei dez poesias contidas no livro para que se tenha uma mostra de seu conteúdo. É um livro interessante, pelo fato de ter sido totalmente escrito durante a adolescência. Fase em que a emoção fala muito mais alto do que a razão...

SONHO DE POETA

Peço a Deus
Não muita coisa
Talvez, uma única,
A felicidade.
Uma garota não tão perfeita,
Apenas humana
Que me tenha no coração.
Uma casinha singela,
Mas aconchegante como o mar.
Uma janela à direita,
Uma outra à esquerda
Para o sol entrar
E depois partir
Deixando sempre o calor
Da natureza que Deus criou.
Peço também um quintal
Com muitas árvores
Onde os amigos alados
Possam pousar
Quando vierem nos visitar.
E no chão,
Ao invés de cimento,
Uma terra fofa
Sem calvície,
Com a cabeleira esverdeada
Habitada por toda espécie
De pequenas vidas digníssimas.
Em meio a este modesto mundo
Onde só nós,
Eu, ela e nossos pequenos
Mas importantes amiguinhos,
Possamos viver muito bem
Com o pão de cada dia
Sempre ao alcance de nossas mãos;
E os olhares invejosos
Da maldade dos que não crêem
Que a vida nesta terra
Possa ser levada com decência
Fiquem bem longe,
Tão longe
Que nossas míopes vistas
Sejam incapazes de percebê-los.
Para um pedido
Me parece que ficou
Um tanto extenso...
Mas é que quanto mais escrevo,
Mais a vontade aumenta,
E uma estranha sensação
Me dá a impressão
De que tudo é mesmo assim.
Que sou feliz,
Que tenho alguém
Que divida um lar,
Que divida a vida junto a mim.
Então não quero mais parar,
O escritor está perto de Deus.
Seu sonho é realidade enquanto escreve;
A realidade é outra
Enquanto as letras vão se juntando
Formando palavras de amor e poesia.

LUA CRESCENTE DE UM GRANDE AMOR

Antes, queria te ter,
Pois o pouco que conhecia
Me levava a crer
Que só havia magnitude.

Agora, não quero te perder,
Pois à medida que te conheço
Diviso a magnitude do céu
E o quero para ser teu luar.

Antes, queria me ter,
Pois eu era como um herói
Que poderia te encaminhar
Pela trilha de um grande amor.

Agora, não quer me perder,
Pois a medida que o peito diz não
Todo o ser parece tremer
Ante o perigo de não ter um luar.

GELEIRA INCANDESCENTE

O trem, sacolejando, progredia pela serra.
Cascatas, abismos, paisagens...
E eu te beijava e sonhava
Quem sabe viver um amor tão lindo quanto a natureza.

A marola batendo nas pedras,
Ondas indo e vindo chocavam-se
Como nossos lábios, nossos braços,
Buscando o enlace do céu com o mar.

A areia fofa, seus cabelos soltos
Voavam sôfregos na direção de meu corpo
Impulsionados pela refrescante força do vento
Que parecia querer enterrar o passado
E reacender a chama do amor.

A noite veio, a temperatura quis cair,
As geleiras andinas pareceram cobrir meu corpo.
Mas uma mulher feito tocha eu vi
E as geleiras desceram como lágrimas de felicidade,
Quentes como o sabor de um grande amor./p>

OI

Tudo que dá prazer e emoção estava ali.
A tarde inteira como numa lua de mel;
Te olhando, te sentindo
Sempre por perto, também a me observar...
O silêncio de nossos olhos
Nada mais era que o ofegar
De um abraço apertado
Ou de um beijo descontrolado
Articulado por uma orquestra
De medos e desejos
Querendo nos fazer amar,
Nos largar um nos braços doutro
Para provar que é bom,
Gostoso querer e ser querido.

Tudo era prazer, a emoção estava ali.
Já não erramos, agora nos acertamos
E é bom te ver feliz,
Te ver demonstrar toda a sensação
Que quero ver-te realmente provar
Para me sentir cada vez melhor.
Mal vejo a hora de deitar
E pode sonhar com o amor que já existe
Unindo nossos corações;
Acordar no outro dia sabendo
Que à noite irei te ver, admirar,
Conhecer cada detalhe teu...
Notar os detalhes em comum,
Te falar “oi” e ouvir a tua voz
Retribuir apaixonada:

Oi! Que saudade louca de você!

PATAS DE PANDORA

Quando saí de sua casa
Estava tomado pela felicidade.
A cada pessoa que via na rua
Tinha mais vontade de parar,
Dizer o porquê de estar assim,
Falar que alguém querida gosta de mim.
O vento que esbarra em meu rosto
Era como água no asfalto em dia de verão.
Minha face ainda queimava,
Meu corpo não queria se conter;
A vontade de sair do carro era imensa.
Queria pegá-lo com um braço
E correr sem sentido, mas euforicamente,
Como faz um personagem de desenho animado,
Atravessando paredes, pisando nas nuvens,
Desafiando a imaginação de uma criança.
Como criança eu queria falar,
Contar para todos que estou te amando,
Que minhas pernas tremeram
Quando meu tato percebeu
Teu corpo dizer que estava apaixonado pelo meu.
Meu coração veio à boca,
Só queria falar que te adorava,
Saciar tua ansiedade para saber se te amava.
Te beijei e abracei bem apertado,
Isso tu sabes, o que não sabes
É que queria te anexar ao mau corpo,
Fazer-te penetrar através de meus poros
Dilatados devido à sensação do prazer.
Não sei qual a medida desse amor,
Só sei que o encanto que vem de ti
Sempre que ergues os braços e me tocas
É o combustível que me alimenta de coragem
Para lutar eternamente pela manutenção desse estado.
A fúria da realidade agora é mansa,
É Pandora, sabedoria mitológica,
Formosura da música, ingênua, natureza.
Somos suas patas dianteiras quando se tocam
Num movimento de complemento.

SER OU NÃO SER

Há atividades que exercitam o pensamento
Tornando mais claro o raciocínio
Só não sei mais como praticá-las
Uma bomba estampiu tapando meu cérebro
Você já disse tudo que sei
Boa noite, é o que me resta dizer.
Boa noite de criança na hora de dormir;
Não sabe o porquê das coisas, só que são assim.
Assim tudo fica fácil, apenas natural.
Me perco olhando para os detalhes;
O busto que ressalta do corpo da heroína,
O estilo da roupa do grande vilão,
Os olhos de desejo na feição do mocinho.
Há um branco no horizonte de minhas ideias.
O branco é puro, mas neste caso é nada
Ou é toda a desorganização de meus pensamentos.
Não percebo caminhos a serem percorridos,
O que aparece são fragmentos de possibilidades,
Um quebra cabeças faltando peças.
Olho para o lado, o seu já está pronto; o meu,
Com pontas lascadas de tantas tentativas.
Ser ou não ser, a questão é para pensar...
A realidade é meu mal.
Talvez por isso meu pensamento não seja lógico
E meu quebra cabeças, propositadamente inacabado.
O irracional torna-se fuga para a falta de saber.
Assim, dificilmente perceberão que não sei.

FELINA

Um ser raro, senão único:
Bochechas rechonchudas, beicinhos fofinhos,
Próprios para afofar Arnold.

Seus dentes são pontiagudos,
Exclusivos para capturar
O escorregadio Arnold.

Encontrada sempre junto às águas,
É cautelosa, arisca e desapercebida,
Por isso consegue Arnold.

Suas garras estão sempre à mostra,
Demonstração de força, apesar do tamanho,
Intimida muito Arnold.

Seu nome: Gata do Mato.


Uma onça faminta, acuadora,
Porém não ataca homens,
Somente Arnold.

Tem medo dos cães da sociedade,
Sobe em árvores para se proteger,
E lá encontra Arnold.

Sua pele é bege rosada,
Mas pode se avermelhar,
Se em contato com Arnold.

É um animal solitário,
Prefere cavernas a cidades
Para ficar a sós com Arnold.

Seu nome: Suçuarana.


Quando ela ruge rompendo o silêncio
Todos os seres entendem o motivo
Problemas com Arnold.

Seu sinônimo é rainha,
Seu espelho é natureza,
Seu objetivo é Arnold.

Prefere o cair da noite,
O clima fica mais arejado,
Ela então come Arnold.

Guarda zelosamente seu território,
Para uso de seus pertences queridos,
Com preferência para Arnold.

Seu nome: Leoa.


Exímia nadadora, amante das águas,
Busca através delas afogar o calor,
Que sente por Arnold.

Nada durante quilômetros,
Mostra suas garras, range os dentes,
Tudo por causa de Arnold.

Vive dos sentidos naturais,
Através do cheiro e do som,
Percebe o que é Arnold.

Mesmo velha, fraca ou ferida,
Ataca qualquer humana,
Que se aproximar do Arnold.

Seu nome: Tigresa.

PASSAGEM PARA A EMOÇÃO

Check in; “Sua reserva, por favor...”
Emoção no meu corpo.
“Pese sua bagagem, senhor...”
Vontade de que você estivesse ali.
“Dirija-se ao saguão de embarque...”
Sentia puxar sua alma até mim.
Disse-lhe contente, me sinto gente.
Você sorriu enquanto brincava com minhas mãos.
“Atenção, crianças e idosos:
Preferência para embarque...”
Seu corpo semitransparente
Ainda me deixava perceber
Seu rosto indo e vindo,
Procurando quem a ame.
“Boa viagem...”, ouvi você dizer
Através da boca duma aeromoça.
Caminhos ansiosos, corredores desconhecidos,
O novo é quase insuportável,
Um insuportável prazer de querer...
“Seja bem vindo, senhor...”
É estranho, a aeronave não é tão estranha...
Já vivi este momento,
Você se mostrou e disse:
- Fala alguma coisa!
Meu queixo estava caído,
O momento era de apreciar.
Voei assim que o avião decolou,
Sabia que estava fora do ar.
Na verdade, estava com você...
Meu coração teimando em persistir,
Sua face iluminada pelos faróis
Me olhando como se eu fosse especial
Como a paisagem vista deste avião,
Rica em detalhes interessantes
Quase impossíveis de decifrar.
Coloquei o fone de ouvido, hoje não ligo,
Até música clássica parece alegria.
Sinto um breve sentimento de solidão
Ao perceber o assento do companheiro
Vazio como pouco antes de ter você.
Assim como gostaria que me explorasse,
Explorei você desde que a toquei,
Por isso tenho você aqui comigo.
Sinto o calor do seu rosto junto ao meu,
Olhamos o infinito em comunhão.
O avião já sobrevoa as águas de São Salvador...
Como criança, solto pelos poros as emoções.
É lindo como jamais vi!
As nuvens parecem mesmo de algodão,
Quero tocá-las como se fossem você.
O mar visto de cima é irreal,
Lambe mesmo as gigantescas pedras.
Lembrou nosso beijo desajeitado,
Principalmente por ser gostoso.
O pouso suave, contato do ar com a terra,
Nosso encontro meigo, o sonho que encontrou a realidade.
“Pegue sua bagagem, senhor...”
A esteira traz minhas malas
E leva você de volta à aeronave
Com a sensação de ter como rumo
A paixão, quem sabe o amor...

CHUVA NO LITORAL

Tarde de sol, que sede de mar!
Este fim de semana vai ser o maior!
Onde vamos ficar? Qualquer lugar,
Desde que com você possa ficar até raiar.
Dormiu? Você me fez desmaiar,
Apagar de tantosar!
Que tal levantarmos e
Irmos nos encontrar com a praia?
Mas esta chuva não estava nos planos!
Não era bem este banho que pretendíamos tomar...
Então vamos zarpar rumo ao norte,
Buscar ares mais quentes que este inverno,
Fugir das nuvens, descobrir caminhos menos úmidos...
O céu está limpando! Só não sei onde...
Importante é a atitude de procurar.
Paraísos em sequência:
Praia Preta, Camburi, Maresias,
Toque Toque, Sahy, Do Una...
Tantos outros nomes a curtir!
Todos molhados, porém lindos,
Pintura envolta em moldura de barro.
Enlameados nos descobrimos;
Sem sol somos nossos próprios sóis.
Onde vamos ficar? Qualquer lugar...

MENINA INCONVENIENTE

A macia meiguice de uma menina
Conquistou o coração duro e fechado de um homem.
Você me desmontou.
Seu olhar envolve pela alegria,
Atrai por puro instinto
Jogando-me ao perigo do desejo de aventurar-me.
Seu jeito quase infantil torna jovem galanteador
O ar sério e ríspido que em mim estacionou.
Seu beijo tem florais que curam minha alma
De todos os males da vida sem amor...
Seu jeito de ser... jovial,
Paciente, e ao mesmo tempo inquieta,
Reforça em mim a energia
De fazer acontecerem os mais íntimos desejos.
Sua beleza embebeda, enche de êxtase meu corpo.
Como se fosse superdose, me deixa de fogo.
Amiga, amante, mãe, irmã,
Filha, tia, sobrinha, minha família!
Parece tudo que não tenho!
Complexa menina na qual me atiro
Para conhecer cada feixe de nervos e sentimentos
E a partir do conhecimento
Poder conquistá-la mais e mais.
Complexo de tesouros que penso egoistamente
Em esconder para mim, só para mim,
Dizendo aos outros:
“Pobre menina, imatura, irresponsável,
Sem vivência, totalmente inconveniente”.
Com grande sorte poderei escondê-la a vida toda
E ter para mim a menina dos meus sonhos,
Mesmo que um dia ela se torne mulher
E queira de mim um menino fazer.