Eu acredito em milagres

Autor: Paulo Tamburro

Contato: ourome@superig.com.br

No limiar do terceiro milênio, volta à discussão o orgasmo feminino. É natural.
Certas tragédias humanas jamais terão fim, seja a fúria destruidora dos vulcões, os estragos terríveis gerados por tornados, os avassaladores maremotos ou os inesperados furacões, vendavais e geadas. Enfim, toda uma série de eventos desastrosos que sempre marcaram a saga existencial da espécie humana.
Talvez, pelo fato do homem ainda não ter controlado de forma definitiva, nenhum daqueles terríveis fenômenos da natureza, ele sempre se volta para tentar soluções que lhes pareçam, mais próximas, menos penosas e fáceis de resolver. Retoma-se então, a sofrida questão do orgasmo feminino!
Se, tudo o que já foi escrito sobre tão excitante, e controversa matéria, fosse condensado e publicado numa só destas revistas femininas, daria para fazer um número especial com milhões de paginas, só de informações introdutórias.
Neste tipo de publicação, estes temas, são sempre acompanhados de muitos gráficos, diagramas e desenhos multicoloridos muito bem explicados, dando a impressão que nossas parceiras são, absolutamente, débeis mentais, como provam esta seqüência de figuras, recentemente publicadas numa revista especializada, elaborada sob a forma de quadrinhos, muito pedagógicos, nos quais eram apresentados os órgãos genitais masculinos e femininos e, algumas das suas possíveis utilidades:
Figura 1 - “esta é a sua”;
Figura 2 - “este é o dele”;
Figura 3- “o dele deve penetrar na sua e, neste caso, temos o tradicional, comportado e pouco criativo, papai e mamãe”;
Figura 4 – “ele pode, também, pedir (?) para botar o dele, por traz, posição conhecida como retaguarda em pânico, o que já é uma atitude mais de vanguarda”;
Figura 5 – “ou também, calar a sua boca, que é o que todo homem gosta”;
Figura 6 – “finalmente, você pode solicitar reciprocidade, calando-o também”.
Como vocês notaram, estes seriam os módulos mais primários e básicos, de fazer Kama Sutra morrer de tédio!
No entanto, a partir destes, múltiplas variações, sobre o mesmo tema, poderiam ser acrescentadas.
Particularmente, nosso enfoque, na abordagem desta secular tragédia feminina, será bem distinto destas inconsistentes diagramações desenvolvidas nestas revistinhas semanais, que, além de não resolverem este crucial problema da mulher, somente às compelem a comprar o próximo número, prometendo-lhes mais... quadrinhos.
Nossa abordagem metodológica, aqui desenvolvida, será uma investigação, absolutamente, cientifica, sobre este dramático tema do orgasmo feminino e, funcionará com total objetividade, transparência e definições muito precisas.
Senão vejamos: sempre que uma mulher nos pede aconselhamento sobre sua vida sexual, vamos diretamente ao âmago da questão e logo de cara a perguntamos se, realmente, o negócio daquela mulher é: a) homem; b) também é homem ou c) tanto faz. Se ela for sapatão não perderemos tempo com inúteis questiúnculas filosóficas e apenas a apresentaremos à nossa secretária, que realmente é muito gostosa e generosa!
Porém, definido que ela, realmente, é destas mulheres que ainda gostam de homens, devemos pesquisar, se o parceiro:
a) gosta de mulher; b) também gosta, ou c) tanto faz.
Se o cara for daqueles que aprecia mais o sexo virtual ou discorda que, este negócio tenha que ser feito, entre sexos opostos, não será preciso analisar mais coisa nenhuma. Trata-se, objetivamente, de mais uma destas coisas de viado!
Supondo, no entanto, que todos os quesitos tenham sido, coerentemente, respondidos, aí sim, vamos tratar da inapetência do orgasmo feminino, que é tão antigo, quanto à mortandade de peixe na Lagoa Rodrigo de Freitas ou a poluição da Praia de Ramos - a verdadeira Baía dos Porcos, agora transformada em piscinão.
Porém, como nada é impossível, nossa obrigação será sempre acreditar, e com o maior otimismo, em relação às soluções, para o orgasmo feminino. Para tanto, nossa metodologia de aconselhamento, sempre agrupará quatro grandes temas principais, quais sejam:
Os desencontros, os descompassos, as fantasias, e finalmente, a maldição do vídeo.
Desnecessário seria prevenir que o assunto não se esgota desta forma, e este ensaio será no máximo, uma ejaculação precoce sobre a análise de tema tão amplo, profundo, antigo e complexo.
Os desencontros - Fica muito difícil para uma mulher chegar ao orgasmo, se ela não consegue encontrar-se com o seu parceiro, no dia, hora e local combinados. Estes desencontros são muito mais freqüentes do que se imagina, por absoluta falta de planejamento da mulher, quanto ao tempo que irá precisar para fazer sua maquiagem, escolher a roupa, dar uma ajeitadinha básica nos cabelos e, telefonar para a maioria das amigas, dando-lhes antecipadamente, as boas novas.
Nenhum homem irá esperar, indefinidamente.
Os descompassos - Toda relação sexual tem ritmos e opções. Pode ser um suave bolero de Ravel ou um rock pauleira. Começar assim, tipo chorinho e alternar momentos de funk. O casal pode preferir manter-se em ritmo de samba ou entrelaçar os corpos na magia do tango. O importante é que haja sincronismo.
A mulher, não deve se entusiasmar muito, pois em geral, cai da cama ou quebra alguma coisa nas proximidades. Menos, menos! Quanto às opções, devem ser criativas. Aconselhamos que se imagine como se fosse um elevador, capaz de funcionar de baixo para cima e vice-versa.
Jamais deve sentir-se, nesta hora, como se fosse um DVD, que só funciona de um lado, e sim, como aquele disco de vinil antigo, cujos dois lados tocavam.
Para que tudo isto possa acontecer é imprescindível que a mulher, no entanto, se mantenha acordada! Algumas atitudes de concentração e motivação – caso não durma - deverão ser observadas como: jamais deverá ler durante o ato sexual, seja, o boletim escolar do filho, o bilhete malcriado da empregada, prospecto de pizzaria, bula de remédio e outros.
Seja qual for à posição em que esteja jamais deverá perder-se em comentários que nada tem a ver com aquilo que, realmente, está fazendo. Por exemplo, se estiver de barriga para cima, jamais ficar procurando coisas no teto como insetos, manchas de umidade, problemas na pintura. Se estiver de barriga para baixo, ignorar os chinelos no chão com os pés trocados, farelos de algum alimento que os homens costumam levar para cama e correlatos.
Evitar frases aos berros e desastrosos, em meio ao rala e rola, do tipo: “Achei amor, estava embaixo da cama!”.
Tais atitudes - caso as mulheres, ainda não saibam - esvaziam, totalmente, os corpos cavernosos penianos, levando o homem ao pânico da brochura indesejável, e nestes casos, em geral, o parceiro fica tão irritado que, comumente e, de forma deselegante e condenável, costuma proferir palavras obscenas compostas e complexas, que sem duvida nenhuma ofenderão, moralmente, e de forma definitiva a honra das suas mães. Outro detalhe muito importante é o da televisão.
Esta deverá estar desligada, caso contrário, as mulheres correm a inevitável e viciosa tentação de ver a novela, olhando por cima dos ombros do parceiro, e ainda mais, abaixando-os com força, fingindo que estão sentindo um orgasmo prolongado, só para poderem ver melhor as malditas cenas globais. É muito importante que a mulher, jamais interrompa o suado desempenho masculino para perguntar se ele pagou, achou, viu ou comprou isto ou aquilo. Não cometa este tipo de terrorismo sexual!
Você poderá causar traumas irreversíveis em ambas as cabeças do macho.
Outra coisa: pare de perguntar aquelas bobageiras e preciosas inutilidades do tipo: “está bom?”, e no final: “gostou?”. Se você é insegura, procure tratamento psicanalítico!
As fantasias - Em geral, a grande fantasia libidinosa que uma mulher consegue ter - seja loira ou não - é sair de Princesa da Áustria no bloco de carnaval da rua onde mora!
Pára com isso mulher! Incremente sua libido. Seja ousada! Estimule sua imaginação. Seu parceiro está cansado de olhar para você e pensar, literalmente, com a cabeça para baixo, todo murcho, desajeitado e sem ver nenhuma luz no fim do seu túnel. Transforme-se e motive seu parceiro a querer dar “mais umas”. Uma dica importante: pesquisa, recentemente, realizada demonstra que os famosos machões gostam de serem subjugados pelas parceiras na hora do sexo. Então, dê-lhe umas porradas!
É isto mesmo: umas boas porradas! Se você não souber por que está batendo, ele certamente, saberá por que esta apanhando. Mulher aprenda a soltar suas bruxas, comemore seu Halloween, bote sua escola de samba na avenida.
Esqueça, definitivamente, que você tem maminha. Você tem é peitos e torne-os os mais atraentes possíveis para o seu parceiro. O cara que está ali do seu lado não é seu filho. Se ele pretender que você o veja desta forma, caia fora. É isso! Quem tem maminha, é a mãe dele. Você tem é peitaços fogosos, atraentes e irresistíveis!
Faça o tipo de sarada bandida. Sinta-se poderosa e avassaladora. Se ele vive dizendo que é carente e quiser um útero, mande-o assistir a uma necropsia no Instituto Medico Legal. Se quiser colinho, peça para que pague uma babá para mimá-lo. Incendeie o matagal, quebre a cama ,mulher poderosa!
A maldição do vídeo – É quando o feitiço volta-se contra o feiticeiro.
Lembre-se que foi você, mulher submissa que, admitiu a hipótese do seu parceiro só fazer sexo vendo aqueles vídeos pornográficos? Em geral as mulheres não são, absolutamente, interessadas nisso. Na maioria das vezes, vêm estas clássicas peças cinematográficas de sacanagem, mais para atender aos insistentes anseios explícitos do parceiro.
Pois bem, você casta mulher, de tanto ver, acaba gostando e descobre coisas que irão atormentar a sua vida. Um desses exemplos mais comuns é quando o protagonista do filme – um profissional selecionado entre milhares - é dotado de uma incomum centimetragem peniana.
Ora, você vê aquilo tudo e olha para o lado e não vê quase nada, somente aquela coisa, triste, normal e meio acanhada e pensará, imediatamente, que seu parceiro é doente, quase capado, um desprezível mal dotado e que tem “aquilo” atrofiado. Mais lembre - se : a culpa foi sua!
Agora, encontre todas as explicações plausíveis, que tanto as mulheres gostam de exercitar, com medo de serem infelizes, tipo: “tamanho não é documento” ou “em um milhão só existe um daqueles...” Mas, continue lembrando-se: quem permitiu estas altas libidinagens na sua alcova conjugal foi você. Agora se vire! Literalmente.
Convença-se, também, que aquele touro, moreno, corpo sarado, com um metro e noventa de altura, olhos verdes, que aparece na cena seguinte - um misto de
Apolo e Ulisses - que consegue dar cinco em noventa minutos de filme, é uma pura ficção, comparado com seu parceiro que, ao final da primeira já está parecendo um degringolado rato molhado! O apocalipse sexual!
Finalmente, lembre-se de que mulher gosta mais dos títulos dos filmes do que, propriamente dito, dos filmes em si. E no dia seguinte, certamente, ao conversar pelo telefone – fazendo um vinte e um, com medo do sessenta e nove - com uma daquelas suas amigas bisbilhoteiras e que, tecnicamente, você chama de confidente, ouvirá a clássica pergunta:
- Então santa, como foi ontem?
- Ah, vimos um filminho chamado: Pau de resposta.
- Mas, isto é nome de uma erva medicinal! - argumentará sua amiga.
-Bem eu não conhecia. Só fui apresentada a ele, ontem... (risos, muitos risos!).
-E você hoje, vai ver o quê?
-Sabe, ele ia trazer outro daqueles filminhos de sacanagem, porém, como não teria tempo, pediu-me para que eu escolhesse, na locadora (risos demorados e antecipados).
Como não quero que ele pense que eu seja uma dessas depravadas de rua, encomendei um DVD que poderemos fazer juntos e vai ser muito interessante...
-Conta logo mulher, deixa de fazer suspense - Interrompe a amiga em grau máximo de curiosidade;
-Tricô a quatro mãos.
E depois disto, até sua amiga irá concordar, que outro milênio será necessário, até que se avalie de forma mais meticulosa, as intrincadas e difíceis causas da inapetência feminina para o orgasmo. A nanotecnologia é a última esperança!


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