Tempo Líquido

Autora: Fátima Lima

Contato: fatima.lima@numenit.com

Hoje a vida realmente está muito líquida.
Os valores mudaram porque o mundo mudou, porém isso não foi uma evolução, pelo contrário, eu chamaria até mesmo de 'primatização do jeito de ser ver o mundo'.
Os próprios filmes hollywoodianos nos mostram isso cada vez mais: Há 50 anos atrás os homens do futuro, que somos nós, viveriam em casas confortáveis com seus carros voadores...Bom, de fato as casas têm mais conforto hoje e eu soube que os chineses apresentarão o primeiro carro voador em uma feira desse ano de 2014. Hoje, por outro lado, nossos cineastas veem um futuro onde brigaremos por agua, moradia, comida. Um verdadeiro apocalipse não-sustentável.
As coisas que são conquistadas e que antes eram duradouras, hoje se esvaem com a maior liquidez e sem domínio nenhum humano.
As pessoas hoje querem viver realmente como se não houvesse amanhã. Porquê isso? Porque simplesmente sabem que podem não voltar para suas casas à noite pelo motivo de uma bala perdida, infarto que nos acomete em plena rua devido ao chefe mal amado que nos acompanha na rotina, um suicídio decidido no meio da tarde ou um acidente onde o ônibus passa por cima do carro e os pés da pessoa ficam à vista, lembrando à todos que é sangue de verdade: Não é mentira, não é filme e nem série. É verdade. Fato é que aquele motorista em questão cantava com trivialidade sua música favorita quando aconteceu ou de repente pensava numa conta atrasada e pronto: Como em água a vida foi diluída.
Planejamos tanto e não sabemos se iremos realizar, por isso hoje o Carpe Diem está sendo erroneamente vivido por todos, crianças, jovens e velhos. Ele hoje tem mais a ver com o fim do que com o meio. O imediato nos acorda com as mãos fortes em nossa garganta berrando: “Hey! Acorde! Está na hora de viver, de amar e de ganhar dinheiro! Corre! Corre porque senão você vai se atrasar na vida e isso é imperdoável.
...E a Morte, que era para ser uma vez só e aliviadora, vem nos visitar todos os dias e acaba levando um pouco de nós consigo.
As amizades que antes eram duradouras, hoje esvaem das mãos como líquido afinal não fomos à festa que estava marcada, não pudemos atender ao telefonema, não abrimos a caixa de e-mail à tempo de responder. Então: Acaba-se. A má interpretação de mãos dadas ao egoísmo surge e chuta tudo e fica ali e se enraivece e pronto.
...E a Vida, como diria meu amigo Raul, “mal vivida” mata todos por essa liquidez cega.
O que nos resta? Dar um pouco de valor e doçura ao que nos é real e concreto, independentemente da Liquidez urbana e mundana que pode atrapalhar e estará sempre ali: Não foge, não morre e não se cansa.
Não sejamos homens primatas a ponto de não viver e acharmos que estamos sugando tudo o que a vida tem para nos oferecer. Tentemos alcançar o nível humano que esta sendo tirado de nós por nós mesmos. Sempre.


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