Alain de Botton, esteve recentemente em Lisboa, nas “Conferencias, Fidelidades Seguros“, e falou “Como Viver, sabiamente e Bem.”.
Logo saltou-me à memória o grande filósofo do séc. XX Jean Guitton, membro da Academia de França, e professor da Universidade de Dijon e Souborne.
Pouco depois do seu falecimento a 21 de Março de 1999, o Presidente do Conselho Pontifício da Cultura, o Cardeal Paul Poupard, comparou-o a Pascal, um pensador cultíssimo, senhor de fé convicta, admirado por François Mitterand, que o visitou, anos antes o seu falecimento para saber o que se passa além da morte.
Mas não é da sua obra, nem de seus amigos, que abordo a figura de Guitton, mas para vos contar passos enternecedores, dessa grande figura de França.
Prestes a iniciar a vida militar, Jean Guitton, acercou-se de sacerdote para expor-lhe problema que há muito o inquietava.
Estava acostumado, ao entrar no seu quarto, ajoelhar-se para fazer as orações da noite. Ora, receava que os colegas o levassem ao ridículo, por manter tal prática.
O sacerdote, ligeiramente embaraçado, respondeu-lhe que era dever do católico, não se envergonhar da sua fé, e de a demonstrar em público, mas que compreendia o receio.
Jean Guitton, logo na primeira noite, antes de se deitar, ajoelhou-se, vencendo o medo, e em plena caserna, orou, diante dos companheiros. Para seu assombro, ninguém disse palavra de reprovação.
Passaram-se vinte anos. Guitton é professor catedrático e pensador de renome internacional, quando teve conhecimento que colega de camarata, havia falecido.
Como amigo e colega do pai - diretor da Faculdade de Ciência, - sentiu-se na obrigação de apresentar condolências.
Ao vê-lo, muito contristado com a morte do filho, avizinhou-se e após agradecer a presença do colega. Disse-lhe:
- Meu filho, que era ateu, como eu, tinha grande admiração por si. Não tanto por ser um grande filósofo, mas pelo gesto e exemplo que deu ao ajoelhar-se, para rezar, diante de todos os camaradas.
Para concluir, e por considerar curioso, queria reproduzir o que Jean Guitton declarou sobre “ O medo do Além “ a uma revista francesa (tradução, publicada no jornal “ Diálogo Europeu “, de 18/02/95:
“Tenho medo do Juízo Final. Vós sabeis, nas fórmulas da confissão, acusamo-nos dos pecados que se cometeram por Acão, e por omissão. A mim, o que me inquieta, são os pecados que cometi por omissão. Tenho medo que Deus me diga: “ Então Guitton, dei-te muitos talentos, coloquei-te numa sociedade muito interessante, ajudei-te em colóquios excecionais, e o que tu fizeste?”. Não sei como, no outro mundo, se põem de acordo a justiça de Deus e a Sua Misericórdia.”
“Naturalmente, penso que a segunda é superior à primeira, e que Deus acabará por perdoar a toda a gente, que Ele esvaziará completamente o inferno. Mas não estou seguro. .”
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