Fez a crônica de uma São Paulo marcada pela imigração

António Castilho de Alcântara Machado d'Oliveira (São Paulo SP 1901 - Rio de Janeiro RJ 1934) nasceu numa família de advogados e escritores, formou-se em Direito e aos 19 anos iniciou sua carreira de jornalista. Em sua obra, na qual se destacam os livros de contos Brás, Bexiga e Barra Funda (1927) e Laranja da China (1928), fez a crônica de uma São Paulo marcada pela experiência da imigração européia, principalmente italiana, que então modificava as feições da cidade. Suas crônicas estão reunidas em dois volumes, Pathé-Baby, livro com o qual passa a ocupar lugar de destaque entre os modernistas, e o póstumo Cavaquinho e Saxofone (Solos - 1926-1935), que abrange quase dez anos do jornalismo literário do escritor praticado em diversos veículos, entre eles o Jornal do Comércio de São Paulo, o Diário de São Paulo e as revistas Terra Roxa e Outras Terras, Revista de Antropofagia e Revista Nova, divulgadoras das Ideias modernistas e que ele ajudou a fundar. Sua escrita ágil e viva, composta de períodos curtos e rápidos, é exemplo bem acabado da prosa urbana límpida pregada pelo Modernismo. Nas palavras de Agripinno Grieco, "respirava a alma de São Paulo com a deliciosa garoa que lhe envolve as colinas e as torres, e a utilização do material humano que recolheu pela cidade foi sempre feita com amor.". Escreveu também relatos de viagens, crítica de teatro, contos, crônica política e deixou obras inacabadas, entre elas o romance Mana Maria. Morreu aos 34 anos em conseqüência de uma operação de apendicite.
NASCIMENTO/MORTE
1901 - São Paulo SP - 25 de maio
1935 - Rio de Janeiro RJ - 14 de abril
LOCAIS DE VIDA/VIAGENS
1925 - Viagem à Europa, percorrendo Lisboa, Paris, Londres, Itália e Espanha, da qual resultaram as crônicas publicadas em Pathé-Baby
1929 - Viagem à Europa
1933 - Viagem a Buenos Aires a convite do jornal literário A Crítica
VIDA FAMILIAR
Filiação - Filho de José de Alcântara Machado d'Oliveira, escritor e professor da Faculdade de Direito, e de Maria Emília de Castilho Machado. Pelo lado paterno, pertencia a família de escritores: neto de Brasílio Machado, também professor de Direito, e bisneto do brigadeiro J. J. Machado de Oliveira.
FORMAÇÃO
1908/1912 - São Paulo SP - Estudos primários no Colégio Stafford
1913/1918 - São Paulo SP - Curso secundário e Pré-Jurídico no Colégio São Bento
1919/1923 - São Paulo SP - Bacharelado em Direito pela Faculdade de São Paulo, no Largo São Francisco
CONTATOS/INFLUÊNCIAS
Contato e amizade com escritores e artistas do Modernismo de primeira geração, como Paulo Prado, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Sérgio Milliet. Correspondência com Mário de Andrade e Prudente de Moraes, neto.
ATIVIDADES LITERÁRIAS/CULTURAIS
1920 - São Paulo SP - Começa no jornalismo, aos 19 anos, publicando artigo de crítica literária sobre o livro Vultos e Livros, de Artur Mota
1924 - São Paulo SP - Escreve crítica teatral no Jornal do Comércio onde assume interinamente a função de redator-chefe do Jornal do Comércio
1926 - São Paulo - Publica Pathé-Baby, com prefácio de Oswald de Andrade e ilustrações de Paim
1926 - São Paulo SP - Funda com Paulo Prado e outros a revista Terra Roxa e Outras Terras
1927 - São Paulo SP - Colabora nos Diários Associados
1928 - São Paulo SP - Funda com Oswald de Andrade a Revista de Antropofagia
1931 - São Paulo SP - Com Paulo Prado e Mário de Andrade funda a Revista Nova (1931-1932)
1932 - São Paulo SP - Torna-se superintendente da Rádio Sociedade Record
1932/1933 - São Paulo SP - Dirige a Empresa Editora A Vida dos Municípios, que publica jornais em Itapetininga, Sorocaba, São Carlos, Bauru e Botucatu
1933 - São Paulo SP - Escreve rodapé literário para os Diários Associados
1934/1935 - Rio de Janeiro GB - Torna-se diretor do Diário da Noite
OUTRAS ATIVIDADES
1930 - São Paulo SP - Atua em oposição a Getúlio Vargas.
1932 - São Paulo SP - Escreve e em algumas ocasiões lê comunicados sobre a revolução Constitucionalista para a Rádio Record
1932 - Cruzeiro SP - Integra a comissão que negociou o fim da revolta tenentista, com as tropas de legalistas
1932/1934 - Rio de Janeiro RJ - Assume a Secretaria-Geral da bancada paulista, da qual fazia parte seu pai, deputado, para discussão da Assembléia Nacional Constituinte convocada por Getúlio Vargas após a revolução Constitucionalista. Era na casa de seu pai, no Rio de Janeiro, que se faziam as reuniões dos deputados paulistas para elaboração das propostas e acordos com deputados de outros Estados
1934 - É eleito deputado federal por São Paulo pelo Partido Constitucionalista liderado por Armando Salles de Oliveira
HOMENAGENS/TÍTULOS/PRÊMIOS
1929 - Rio de Janeiro RJ - Prêmio pela monografia Anchieta na Capitania de S. Vicente conferido pela Sociedade Capistrano de Abreu
HOMENAGENS PÓSTUMAS
2001 - São Paulo SP - Homenagem ao centenário de seu nascimento com exposição no Memorial do Imigrantexx
MOVIMENTOS LITERÁRIOS
Modernismo (Primeira Geração)
LEITURAS CRÍTICAS
"Antônio de Alcântara Machado foi no Brasil dos primeiros a compreender a influência do grafismo como expressão literária na arte do após-guerra. E soube aplicá-la à sua obra de ficcionista de temas urbanos voltado para o cotidiano de uma cidade como São Paulo, que então iniciava a sua violenta transformação urbana, na escalada para se tornar em breve o maior centro metropolitano e industrial do país, que em menos de cinqüenta anos daria um salto demográfico sem precedentes." Barbosa, Francisco de Assis. In: Lara, Cecília de. Comentários e notas à edição fac-similar de 1982 de laranja da China, de António de Alcântara Machado. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 1982, p. 7. "Uma capacidade crítica, a sua, de fixar em imagens, em cena-diálogo, os casos da vida. Neste sentido o narrador Alcântara Machado sempre se apresentará aqui como cronista, um repórter, um descritor agradável e superficial de fatos de crônica quotidiana. A sua fauna é a fauna multirracial de São Paulo: sobretudo os italianos, ou melhor, os ítalo-brasileiros na sua primeira violenta fase de integração social, carregados ainda de todas as escórias pátrias e levados pela aventura a exasperar aqueles defeitos-virtudes nacionais, que o repertório internacional já estilizara." Stegagno-Picchio, Luciana. História da literatura brasileira. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997, p. 502. "Antônio de Alcantara Machado era tão filho e neto de mestres das Arcadas quanto entusiasta da primeira hora dos desvairistas e primitivistas: foi, assim, uma inclinação liberal e literária pelo 'pitoresco' e pelo 'anedótico' que o fez tomar por matéria dos seus contos a vida difícil do imigrante ou a sua embaraçosa ascensão. Creio que esses dados de base ajudem a entender os limites do realismo do escritor, visíveis mesmo nos contos melhores, onde o sentimental ou o cômico fácil, mimético, acabam por empanar uma visão mais profunda e dinâmica das relações humanas que pretendem configurar." Bosi, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 2.ed. São Paulo: Cultrix, 1984, p. 422.

Fonte: www.itaucultural.org.br