Os contos de "Laranja da China", publicados em 1928, são como flagrantes de um cotidiano rico em acontecimentos. Porém, nada de incomum, grandioso, mas ocorrências mínimas, corriqueiras. Alcântara Machado observa suas personagens, os apresenta em um estilo econômico, de frases curtas e dialógos certeiros, sucintos e reveladores das características essenciais das personagens.
Nos doze contos do livro, cada personagem central tem um dos nomes idêntico `à de uma figura histórica ou da literatura: Robespierre, Cornélia, Platão, Cícero, Jesus são ícones retratados de forma comum, com sua principal distinção emprestada à personagem inventada por Alcântara. As cenas que os envolvem são ótimos exemplos de como o autor percebe a cidade: a visão de um cronista que lança um olhar demorado, tentando deixar transparente um fato, um ato, um movimento, uma decisão. Porém, Alcântara soube ser preciso, natural, entender a fala popular e procurar sua oralidade. No texto "A piedosa Teresa" temos um coloqial premente entrecortado por canções popular-religiosas; em "O lírico Lamartine", a linguagem é mais formal, mas sem nenhum abuso ou rebuscamento.
Inventário dos estímulos, dos desejos, das falhas e das virtudes da alma de um povo empenhado em viver, "Laranja da China" é uma ficção que destila humor, mas emprega ironia e amargura em boa dose. Naturalidade, frases enxutas, oralidade reveladora, combinações que sustentam a literatura singular de Alcântara Machado.
Fonte: pt.shvoong.com
|