A pintora: imagens que buscam a alma

Clarice pintava por necessidade. Para livrar-se da tensão. Não gostava de mostrar suas obras, mas acabou exibindo-as.
"O que me descontrai, por incrível que pareça, é pintar. Sem ser pintora de forma alguma, e sem aprender nenhuma técnica. Pinto tão mal que dá gosto e não mostro meus, entre aspas, quadros, a ninguém. É relaxante e ao mesmo tempo excitante mexer com cores e formas sem compromisso com coisa alguma. É a coisa mais pura que faço"
"Acho que o processo criador de um pintor e do escritor são da mesma fonte. O texto deve se exprimir através de imagens e as imagens são feitas de luz, cores, figuras, perspectivas, volumes, sensações."
"Quero pintar uma tela branca. Como se faz? É a coisa mais difícil do mundo. A nudez. O número zero. Como atingi-los? Só chegando, suponho, ao núcleo último da pessoa.
Estou tentando abrir um túnel na rocha bruta. Eu sei, sei que é penoso. Mas qual é a busca que em si mesma não traga sua pena?
Se uma pessoa perguntar durante meia hora a palavra 'eu', essa pessoa se esquece quem é. Outras podem enlouquecer. É mais seguro não fazer jamais perguntas - porque nunca se atinge o âmago de uma resposta. E porque a resposta traz em si outra pergunta.
O que é que eu sou?"

Fonte: www.estado.com.br