Nome do Escritor: Raimundo Nonato Rodrigues

escritor Raimundo Nonato Rodrigues

Inglório herói

Começo da Noite. O nosso inglório herói esta acidentado. Devido a sua teimosia, acabou-se vitima de si mesmo. Quando o martelo escapulira pela terceira vez do cabo, ele pensara que aquilo poderia feri-lo, mas relaxou. Era o ultimo pedaço. O dono das grades estava ansioso para leva-las, mesmo sem pinta-las.  De repente, num átimo, o martelo lançado fora novamente do cabo, subiu num arco hipérbole, ele fechou os olhos e a pancada seca no dedo mindinho da mão esquerda cortando-o na ponta e deixando-o mole, a dor lancinante, o sangue pingando no ladrilho sujo da oficina e a vontade louca de terminar logo aquele serviço não arrefeceu seus ânimos. Ele não podia parar, pensava no dinheiro que iria ganhar e assim pagar as sua poucas e pequenas dividas. Rasgou uma camisa velha e improvisou um curativo, enrolando-o no dedo para estancar o sangue. E mesmo com todas as dores e a sua ciática, entortou as pontas do chumbadores com a talhadeira e o maldito martelo no trilho para depois finaliza-los no velho torno e finalmente as soldas. Na ultima grade, mandou o proprietário telefonar para o motorista vim busca-las, mas o celular do mesmo estava desligado ou fora do ar. Então o nosso ferido herói orientou-o a procurar um amigo seu, dono de um comercio pequeno do lado do mercado, que nas horas vagas fazia fretes com sua camionete Marajó. E assim dez minutos depois, no momento que fazia a ultima solda numa das laterais de uma das grades e a colocava-a no chão para desempena-la. Eles chegaram. Colocaram primeiro os dois portões de depois as duas grades sobre elas na carroceria. O gentil-homem contente pagou-lhe o restante e entrou no caro. O amigo comerciante e motorista de frete nas horas vagas agradeceu-o pela preferência e partiram felizes.
E agora sentado no seu pequeno sofá, o seu refugio onde passava as tardes todas deitado lendo os seus livros. A cunhada palitando os dentes recordando a sua juventude no interior onde fora criada no meio da inocência. O marido da sobrinha, o deficiente visual jantando sozinho na mesa, as amigas da sobrinha rindo as socapas na escuridão do quarto da pequena Larissa vendo uma comedia. Um gatinho deitado, dormita entre os pés dele. Chorrinha,a cadela deitada e o dedo doendo com a sua ciática. Ele relembra cada minuto de sua atribulada manhã de trabalho que começara as seis e meia, depois de uma noite que passara rolando de um lado para outro na cama sem sono e preocupado se iria dar conta do que se propôs ou seja finalizar as grades e entrega-las ao dono.
Foi um dia bom, apesar do petit acidente. Ele pagou seus principais credores. Seu Raposo, Tia Nana que devia a lavagem de suas suradas roupas e a sua Cunhada a ajuda passa as despesas. Comprou uma banda de galinha assada, antes porém, depois do banho a cunhada desatou o curativo improvisado e fez-lhe um outro com álcool 70 e sulfadeazina triturado, gazes e etc.. E assim depois que trouxe a galinha cortada e meio maço de cigarros para a cunhada, partiu contente para o centro. Iria ao Sebo Poeme-se comprar a sua droga, livros para o seu deleite e prazer. Adquiriu dois; um de um escritor russo Andrei Bitov "A Casa de Puchkin" e outro do novo filosofo francês-argelino Bernard- Hery Levy "Os Ultimos Dias de Charles Baudelaire".      O nosso inglório herói agora sentado num banco hospitalar em frente a porta do raio-x, a espera das chapas de seu dedo. O sangramento continuava, então temeroso resolveu finalmente seguir o conselho de sua Cunhada e encaminhar-se a um hospital. Ele estava na lan-houes quando percebeu que o curativo estava empapuçado de sangue e latejando muito. Um menininho de olhos assustados acompanhado oela mãe sentou-se ao seu lado até o técnico chama-lo para entrar.. Ele estava no Hospital "Socorão I" no centro. Ele ia para a UPA, mas ao entrar num lotação, o seu colega Mozico estava sentado no banco da frente ao lado do motorista, agitado contando que ia para o "Socorão I", porque seu Primo Castratti  fora baleado com dois tiros e estava passando mal..
A porta da sala de raio-x se abriu e o técnico lhe entregou as chapas.
- Quebrou?
- Não sei, só eles que podem dizer - respondeu laconicamente o técnico e fechando a porta em seguida.   Depois de receber a chapa o nosso inglório herói retorna a sala de Pequenas Cirurgias, onde um medico branco grandão e barbudo, olha e analisa a chapa e chega a triste conclusão que o dedo quebrou....  
e o envia para a sala de orthopedia no mesmo corredor. O orthopedista analisa a chapa e chega a conclusão que caso de cirurgia, mas infelizmente ele etrar que fazer no outro Hospital Socorraõ II na Cidade Operaria, o mesmo hospital onde começou a triste saga de sua falecida mãe. O medico e o auxiliar disse-lhe para esperar uma ambulancia que o levará. Segundo o Orthopedista ele corre o risco de perder o dedo. Era só que faltava para o cumulo de azar. Começou a sentir calafrio. O gurizinho de olhos assustados sai da sala com o braço engessado levado pela nervosa mãe. O corredor lotado de macas, todas ocupadas com doentes e seus acompnhantes. Ainda bem que o seu senso de aranha funcionou mais rapido. Mas nada estava resolvido, o drama continuava. Ano passado, ele e o itmão Biné passaram a noite toda nesse mesmo corredor acompanhando a mãe que tivera um mal subito. Ele aguarda com paciencia a ambulancia que vai leva-lo para o mesmo purgatório. O medo de perder o dedo e outras coisas ruins. Uma senhora na cadeira de roda acompanhada pela filha tem uma convulsão. Logo quando chegou em casa, sua Cunhada insistiu para que o mesmo fosse logo ao hospital, mas negligenciara e ingnorou os conselhos dela. Um guarda rotundo conversava pelo walkie-talkie com outro parceiro. Ele sentiu o corpo esfriar, ao seu lado uma senhora obesa cochilava sentada. O auxiliar do Orthopedista saiu da sala. Por que para ele tudo é complicado? Tinha de haver esse acidente, algo inesperado que desviou-lhe de sua rota normal. E as dores continuavam. Uma lourinha afavel anuncia que há distribuição de sopa no terraço. Uma senhora acompanhante ao lado fala para uma colega que a sopa é do Centro espirita e ele é evangelica. O responsavel pela sua transferencia voltou para a sala e prometeu-lhe que iria telefonar para o motorista da ambulancia. O velho clima tenso de hospital, mas uma desventura para o nosso inglorio heroi que não sabe o que lhe espera. Será que vão amputar -lhe o dedo ou algo pior? Um pai com o rosto preocupado carrega a filha desmaiada nos braços, um Soldado PM passa arrogantemente. O Orthopedista e o auxiliar saem da sala, ele acha que vão merendar ou vão embora. Ele fica na expectativa.
Vai ser uma longa noite de espera e vigilia. Começou a bocejar, o dedo suava. O Hoeme de Ligação voltou com uma sacola com um litro d'agua mineral e um copo de suco, entrou e saiu rapidamente da sala e entra na outra mais frente O rapaz da maca proxima vomitae a acompanhante apanha uma lixeira.
- Foi tomar o remedio de pressaõ alta.
Uma velha conhecida dos tempos da Vacaria, a companheira de Seu Raimundo Cara-Larga sentou-se ao seu lado junto com um irmão doente. Depois de horas esperando, quase meia-noite o motorista da ambulancia chegou esbaforido veio falar com ele. Disse-lhe que não adiantaria leva-lo, porque não tinha nenhum cirurgião de plantão e o melhor era ele ir para casa e de manhã cedo ir para o hospital. Cansado e sem opção resolveu aceitar o conselho. E retornou ao lar doce lar.
No dia seguinte, no primeiro dia do mês de novembro, o nosso desvalorizado guerreiro de inumeras batalhas perdidas estava sentado desconfortavelmente numa cadeira de estofamento azul na recepção do Hospital Clementino de Jesus, o temivel "Socorrão II", esperando a vez para ser atendido e encaminhado para algum lugar. Os funcionarios chegando para mais um dia de trabalho com pacientes impacientes. Ao lado dele um rapaz que caira e torcera alguma coisa hurrava de dor cada vez que se mexia. A sala de espera ainda parcialmente vazia.
- Ei! Menina por que tu não atende o meu telefonema? Perguntou uma senhora para a atendente de verde sentada por trás do balcão azulejado.
As quatro e meia  da manhã em ponto, ele despertou-se e levantou-se bruscamente da cama e foi para o banheiro fazer a sua toillete. Um atendente displicente lia um jornal de noticias popular. Uma medica no seu impecavel jaleco branco e uma mascara cirurgica fazia a triagem dos pacientes perguntando-lhes qual era o seu problema. Ela entra no gabinete e chama uma senhora magrinha com a menina que passou a noite toda com febre.  - Mas faça logo a ficha dela - Ordenou de dentro do gabinete.    As dores ciaticas começaram a castiga-lo impiodasemente
- Amanhã é dia de finados - diz uma outra funcionaria conversando ao celular. O atendente com feições seria com a pachorra de todo funcionario publico municipal digita os dados num computador do segundo paciente. Minuto depois que fez a sua ficha ele foi atendido pela doutorinha que o encaminhou para o Orthopdista de plantão, um gigantesco medico que após preencher todos os formularios mandou-lhe para o Centro Cirurgico.

 

Local de Nascimento: São Luís MA

Enquanto escrevo

I  
Dois meses e uma semana sem alcool. O sol ilumina calmamente as nossas frias e irrequietas almas sem esperança. Recebi um e:mail de uma tal de Eunice que quer muito conversar comigo - deve ter me conhecido no site Luso Poema. Mas no fundo não acredito muito que queira alguma  coisa, é uma diversão para alguém. A cabeça dói somente em pensar na tomada problemática.
- Larissa - Chama calmamente minha cunhada na porta do quarto da mesma.
Quando acordei li umas paginas do grande russo Dostoievski para aliviar um pouco as tensões.
Tirei a bermuda caqui da gaveta da velha comoda, um presente de Madame Rameaux na epoca dos amroes e a visto. O PM que mora em frente, manobra o seu veiculo tirando-o da garagem.
Na sala de espera da Unidade Mista do Bacanga, sentado no grande banco de mármore, uma doidinha que conheço de vista lá da vila, com feição de ébria sentou--se ao meu lado, meio cambaleante. Uma buxudinha morena da calça de cotton negra faz a ficha agachada no guinché. Do outro lado uma funcionaria não muito simpática preenche a ficha. A doidinha com a voz embargada pergunta-me se não é a minha vez, respondo-lhe que não e a mando para guinche.  Cambaleia com as perninhas tropegas e sentar-se novamente ao meu lado. O ar abafado. Tiraram o aparelho de televisão.
- Obrigado papai, obrigado mamãe - diz a doidinha que pensou ter perdido a carteira de identidade. Aproxima-se de mim e cutuca-me no ombro e fala cosa sem nexos - tem que invadir logo, se você estivesse morrendo. Tua garganta tá doendo muito? - repondo-lhe que não.
Minutos depois ouço alguém chamar meu nome por trás da grade da porta, levanto-me calmamente entro no corredor, sento num banco ao lado de outros pacientes que aguardam sua vez de serem atendidos pelo medico. Uma serviço-geral com um calipígio atraente vem paquerar os guardas de segurança que estão em pé na porta. Uma velha amiga de minha cunhada faz pilheria ao ver-me sentado ao lado da doidinha ainda na grande sala de recepção.
- Aonde tu arranjou essa? - Pergunta com um ar irônico.
Alguns minutos adentro no consultório simples e apertado, onde um medico jovem e de boa aparência, branco, de jaleco impecavelmente branco espera-me sentado por trás de sua mesinha de ferro. Fez as perguntas básicas e respondi-lhe com detalhes os sintomas que me afligiam, enquanto anotava sistematicamente com a letra indecifrável na minha ficha.
- Vou ministrar um antibiótico que senhor vai tomar na enfermaria e em casa o senhor faz gargarejo com sal, limão e água três vezes ao dia. E amanhã o senhor já estar bem melhor dese pigarro. - Entregou-me a ficha agradeci-lhe, apertei a sua fria e fina mão e sai todo contente da sala.

Data de Nascimento: 19/12/1960

Tuberculose

I
Deitado na cama observo através da grade da janela, o arbusto da romãzeira e um pedaço azul do céu sem nuvem. Devido a minha convalescença ocasionada pela maldita tuberculose, muita coisa mudou na minha já complicada vida. As pequenas folhas de romã, as flores verdes ora vermelhas balançam a cada rajada fraca de vento. O pior dessa doença é a segregação. Separei um prato, uma colher e um copo, não poderei mais abraçar ou brincar com as minhas adoráveis princesas, talvez nem venham mais passar os finais de semana conosco - e aos poucos a noticia vai espalhando-se. Professor, o meu irmão mais velho já fez a parte dele e com prazer, adora uma desgraça alheia. Bebi café ainda pouco enquanto conversava com Larissa sobre a crise no Oriente Médio entre palestinos e israelenses. Agora o quarto vai ser o meu mundo aqui me isolará do contato externo. Nesse momento o comentário a respeito da minha temível doença deve esta correndo "Raimundo, tá tuberculoso" e  as dissertações infundadas começam.
Estava brincando de tradutor, quando deu-me um cansaço, deitei-me e cochilei despertando com a minha cunhada chamando-me e exortando-me para merendar.   - Tem laranja e suco de acerola - Informou-me em pé na borda da cama.
Optei pela laranja, mas estava vencida, então bebi o suco de acerola. Larissinha foi bem solicita comigo, tirou o deposito de açúcar da geladeira, perguntou-me se eu não queria ver alguma mensagem no meu e;mail. Agora o meu quarto de TB esta completo com uma caixa de areia para mim escarrar. Continuou preocupado em não contaminar ninguém. O Brasil e a literatura perdeu o grande escritor baiano João Ubaldo Ribeiro, nutria um certo respeito depois que li uma critica na revista Veja sobre o o livro "Viva o Povo Brasileiro" de l984, ainda morava na grande Casa grande dos Bambas na Rua Afonso Pena. Desde então comecei admira-lo, via varias adaptações para tv "Deus é Brasileiro" e outros. Mas em 2009 no auge das paixões fortuitas, conheci a poetisa Maday que presenteou varias livros de autores nacionais, os embriões da minha atual pequena biblioteca, como fiquei feliz - Dostoiévski, Bandeira, Gullar, Whitmam, Brecht, Ramos,Rosas, Amado, Montello e entre eles o clássico "Sargento Getúlio" que comecei reler esta tarde. Minha cunhada, minha laboriosa cunhada lavando as roupas na lavanderia improvisada no quintal, brigando ou não, esta cuidando de mim ouve as velhas canções de Roberto Carlos. Preparou o almoço e graças a ela que acordei para a minha triste realidade, foi a primeira a perceber que a minha saúde não estava nada bem e começou a insistir para eu marcar uma consulta. Faz um pouco de calor. O céu nublou-se.
A hora da merenda vespertina, a solicita Larissa me serve como de manhã, vamos ver se vai durar o tratamento, ao todo serão seis longos meses. Minha cunhada suspeita dos meus amados livros.
Nem via a noite chegar, lendo Ubaldo aos poucos adormeci. O problema agora é arcaria dentária. Jantei bem, graças a minha cunhada e sempre bebendo o suco de acerola bem reforçado. Dostoievski lido com muito apuro. O cheiro forte das merdas dos gatos, minha cunhada tosse, preocupo-me. E um pesadelo que nunca termina. Como poderei agradecer esse anjo que é minha cunhada, que cuidou dos meus pais e agora cuida de mim, que Deus lhe dê muita saúde. Apesar dos apesares é uma boa alma, algo difícil de encontrar.
II
Manhã de domingo, o sol brilha lá fora, os casais felizes vão para o mercado, a vida flui e aqui dentro do quarto, o odor forte de água sanitária, minha laboriosa cunhada higienizou. Ela liga o rádio que esta sobre a tábua de engomar. Larissa canta "Macarena". Cochilei até ainda pouco, preocupo-me mesmo com a minha saúde bucal. Tia Flor auxilia minha cunhada no preparo do almoço dominical. Bebo um copo de leite. Expulso um gato que vinha fazer suas necessidades debaixo da cama. Fico folheando os cadernos com o dicionário russo-português que traduzi, um trabalho árduo que comecei em 2000, quando recebia do Tribunal de Justiça sem trabalhar, estava no banco de espera. Foram quase um ano, mas me novembro veio a triste noticia, havia sido exonerado a bem do serviço publico. Foi um tremendo baque, fiquei sem chão. Dai em adiante a minha vida familiar foi por agua abaixo. Dona Van, a grande musa deixou de gostar de mim e a crise aumentando como uma bola de neve, até chegar ao ponto de sair de casa com meus panos de bunda e os livros vim para cá.
Tia Flor solícita, vem perguntar se não tomo um suco com uma folha de não sei o quê. Continuou relendo "Sargento Getúlio". Sou despertado pelo rufar das caixas, tocada pelas velhas caixeiras do divino ecoando no silencio do meio-dia numa procissão e rojões. mantendo a tradição., Tia Flor e Mano Biné foram embora para a residência deles no Residencial Paraíso. Tia Redonda chegou na hora precisa do almoço, mas antes estripou uns peixinho que o patriarca ganhou ontem e com certeza dever ter espalhado sobre a minha doença, assim com o falador do Mano Biné Um peido fedorento depois do suco de acerola e laranja que ensinaram para minha cunhada fazer e ele fez bem grosso.   - Vou ver se consigo mastruz para fazer com leite para ele ficar curado mais rápido - Disse para Larissa.
Mais um copo do suco vitaminado,  um gato fio d'egua defecou debaixo da cama, ainda tentei acerta-lo com uma banda da sandália, mas o bicho arisco pulou no colchão e a cancela.
A noite chegou calmamente e silenciosa, lia "O Livro dos Mórmons", antes, porém havia encerrado "Sargento Getúlio" - gosto do estilo, Ubaldo é mestre eu invejo pela sua criatividade. Quando respiro fundo, sinto um peso no peito, e aquele pigarro chato na garganta, estou ficando afônico. Sempre com lenço na mão para evitar  tossir e espalhar as bactérias de Koch no ar e assim contaminar outros. Venho pegar um 'fresco" no terraço, olhar o movimento das pessoas. Carros estacionados, um rapaz numa vespa veio apanhar a sua companheira na casa vizinha. Uma brisa suave. O barbeiro afro-brasileiro vai para o serviço de vigilante. Um vizinho senta-se na calçada. O motorista de ônibus que reside mais embaixo, sai de moto e para em cima do quebra-molas a espera da esposa que fecha a porão de alumínio. O céu continua encoberto por nuvens plúmbeas, choveu duas vezes.
III
Minhas pobres costelas continuam aparecer. A tosse insistente que escarro na caixa de areia improvisada. Seguindo sempre as recomendações de minha cunhada, escaldei os meus utensílios no quintal. Patriarca falando baixo entrou no banheiro. Minha cunhada varre a sala de computação. Larissa bebe café..
Uma caminhada pelo mercado, passei no Cabeludo onde fiquei alguns minutos conversando amenidade, depois dirigir-me para a Praça do Bacurizeiro, onde rapaziada do álcool estavam contente com uma garrafa de pinga e um som automotivo. Matraquinha como sempre me disse baixinho com os olhos piscando e a carinha de ébrio. "- Já estou enfeitado",  No outro banco, Seu Jailson, um moreno e Gato Guerreiro sentados e em pé Jamanta. Matraquinha não aguentando a pressão, levantou-se tremendo e com passos trôpegos dirigiu-se para casa. Depois chegou o velho General, como se não quisesse  nada, encostou-se depois de tomar a primeira dose no Mundé sentou-se ao meu lado.
Desisto da tradução, vou mesmo datilografar os diários de 96 - achei as primeiras folhas e fiquei feliz ao lê-las, mesmo sem a letra A. Alegre datilografei a primeira folha, É isso ai - em vez de perder tempo numa tradução que ninguém vai ler, datilografo os diários, ficará mais fácil, caso alguém se interesse neles, facilitará a digitação. Mudei os livros, tirei-os da mesinha e os coloquei sobre a cômoda para dar mais espaço para o meu novo trabalho.
Almocei uns pedaços de carne de porco frito ontem, estavam um delicia. Seu Pietro, o filho adotivo do Patriarca enfurnado na penumbra do quarto de Larissa, esta no computador. Um gato vomitou sobre a televisão do Patriarca, ele não pestanejou e deu ordem para comprar outra imediatamente no cartão de não sei quem, um de seus cupinchas lá do Desterro. releio "Ana Karenina".- Bebi o suco, tudo em nome da cura. Quando alguém tosse, seja a minha cunhada ou a pequena Clara entro em pânico, penso logo que os contaminei e que de repente aqui vire uma casa de tuberculoso, graças o meu desleixo em não aceitar os conselhos da matriarca.E para piorar virá as vacas magras, a oficina fechada. Deus é quem sabe até onde deveremos ir. Só sei de uma coisa, depois que Mama Grande faleceu, a minha saúde claudicou - Primeiro foi o acidente do dedo quinze dias após o enterro, agora essa tuberculose. Confesso que tenho uma parcela de culpa, os grodes loucos, não me alimentava direito, dormindo ao relento, enfraquecendo,o que poderia esperar dessa vida desenfreada! Mas a matriarca (vou chamar minha cunhada de matriarca e professor, o Patriarca) - devo-lhes a minha vida, sempre insistindo para que eu procurasse um medico, mão fazia ouvido de mercador, achava que era apenas um tosse comum e com o tempo curaria como as outras. Havia outros sintomas, o cansaço, a falta de ar, a tontura quando levanta-me e os calafrios constantes no entardecer, uma moleza, fazendo-me dormir cedo. Jessica traz a bomba que não funcionou, mais um problema. é um atrás do outro. Arroto carne de porco. Os livros em cima da cômoda. O grande Patriarca roncando no quarto, curando uma ressaca da manhã. A grande matriarca colocando a cadela para fazer xixi no terraço, essa late quando passa alguém na calçada, irritando a matriarca.    - Sai, dai Chambinha, sai dai abusada.
A noite a passo de cagados, são dezoito horas e quinze minutos e ainda esta claro aqui fora. Coloco a cadeira e sento-me. Olho para o lado e lembro-me de Mama Grande, todas as tardes ficávamos sentados, pegando uma brisa suava que vinha do Rio Bacanga. Começa os latidos dos cachorros, os miados dos gatos que entram correndo e assustados.Tusso um pouco, mas não escarro, engulo-o. Os passarinhos recolhem-se nos eus ninhos, cansados depois do dia todo na labuta para alimentarem os eus esfomeados filhotes. Claro irrequieta corre de uma lado para o outro, até que a Grande Matriarca vem admoesta-la e coloca-la para dentro. Vez enquanto uma praga pica a minha perna, os moleques brincar de jogar tênis no meio da rua. As luzes dos postes distantes na outra margem acendem lentamente. Levanto-me para acender a lâmpada e fechar a porta. As vozes esganiçadas dos jogadores de dominó na Casa dos Correias. O Grande Patriarca chegou e entra silenciosamente, demora-se um pouco e saiu novamente. Clarinha fecha a cancela. Três meses sem trabalhar, para quem estava também há uns meses sem ganhar nada, a oficina as baratas, parecia castigo - Mas agora entendo tudo graças a Deus estou convalescendo, mas sem nenhuma encomenda pendente, como ocorreu no acidente do dedo que tinha duas. O odor gostoso de uma boa comida. Um gato pula pela janela da Sala de Computação. Alguém me cumprimenta do meio da rua, mas não consigo vê-lo, portanto não sei quem é. Antenor chega mansamente, jogo a minha sandália num gato branco que vem azarar as gatinhas do pedaço e acerto-o em cheio, espanta-se e esgueirar-se rapidamente entre os ferros da cancela. Começou a chuviscar, entrei e vim para o meu aposento. Os pingos grossos batem nas telhas. Antenor janta calado na mesa no lugar do Chefe do Clã.

Formação Acadêmica: Nenhuma

Vivendo & Escrevendo

O CÉU NUBLADO, o rádio na televisão, os gatos deitados no peitoril da mureta do terraço, o gorjeio solitário de um passarinho. Uma moto que passa sobre o improvisado quebra-molas que o PM da frente mandou erguer. Os passos arrastados no asfalto. Os raios solares iluminam as fotos dos mestres Dostoievski e Henri Miller colados na parede abaixo do retrato de Mama Grande. Escaldo as minhas coisas na lavanderia improvisada no quintal, depois bebo café, mas enquanto a água esquentava, observei os novos inquilinos da III Casa Bamba / Vila Embratel. A gata velha, a mãe do enjoado Ling teve uma ninhada de cinco filhotes todos branquinhos com uma pinta preta nos focinhos. Minha cunhada os alojou dentro de uma caixa de papelão e rasgou uma das frentes e colocou debaixo do pé da antiga maquina de costura no canto da copa-cozinha espremidos entre a geladeira e a porta do quintal. As princesinhas ainda dormem. o sono dos inocentes. Larissa sonolenta abriu a janela do quarto da mãe e voltou a deitar-se, e esta faxinava a grande sala pequena de estar. No rádio a propaganda política do estado do Pará. Na Praça do Bacurizeiro bem cedo antes das sete e nenhum papudinho a vista. Os gatinhos abandonados amontoados uns sobre os outros dentro de uma caixa de papelão próximo a um dos portões do mercado. Um moreno baixo, de boné, trajando uma bermuda esperava Diogo, o clown que segundo o mesmo devia-lhe trinta reais.
Todas as  tardes mesmas rotinas, almoçar, deitar, ler um pouco,cochilar e dormir a tarde inteira, geralmente sonhar os sonhos esquisitos, sem pé e nem cabeça, com sua ex-amada, voltando ao lar, fazendo as pazes, as juras de amor - enfim coisas que me emocionam muito, pensando em ser realidade e quando desperto deprimo-me, fico reflexivo e pensativo - lembro-me dos momentos felizes que passamos juntos, momentos íntimos nas tardes de domingo antes do nascimento do único filho. A surpresa feliz de revê-lo ainda pouco, depois de conversarem sentados num banco da Praça Sete Palmeira (do Viva) sobre o assunto favorito, sua majestade  "O Cinema e seus filmes maravilhosos" - recordando dos bons tempos da Casa grande da Rua Afonso pena, do Venerável Grande Mestre Bamba, o filosofo que amo que ensinou-me a amar a arte cinematográfica - por esta razão que nós gostamos muito.   Escrever a verdade do dia-a-dia uma árdua tarefa, principalmente quando não se dispõem de instrumentos adequados, ou seja, conhecimento. Mesmo assim venho teimando. Na sala de estar as meninas brincam e conversam entre si, minha impaciente cunhada assiste um filme. Larissa extravasa as suas tímidas emoções diante do frio computador. O patriarca deitado chama do quarto a pequenina Adriele. "Oi, vô?" - responde correndo em direção a ele. Eu aqui no meu humilde aposento relendo o escritor sul-africano premio Nobel Coetze "O mestre de Petersburgo" - o reggae vindo da Praça do Viva, onde a pouco estive com meu amado rebento. Será que ainda não tive o prazer de ser lido ou alguém ter comprado o meu romance, qualquer um deles? Bocejo, mas o sono não vem, pensando na pobre e sofredora mãe de Diogo, o clown - passando noites em claro, preocupado com ele que não chega andando a esmo pelas bocas em más companhias esperando um  desagradável noticia - meu filho sozinho em casa, a mãe na rua com o namorado novo. Os dois agarradinhos num escuro de um quarto de motel. Os anjinhos no aposento de Larissa e uma delas me espionam por trás da improvisada cortina.
SÉTIMO DIA DE SETEMBRO. Domingo, dia da Independência. Ouvindo "Time" do grupo de rock psicodélico dos anos 70 Pink Floyd. Minhas cunhadas foram a feira, para as compras da semana. As princesinhas ainda dormem enroladas nos lençoizinhos delas, próxima uma das outras na cama de Larissa que lava as louças sujas do café e de vez enquanto dar uma curiada no computador. Para afagar meu ego, leio algumas paginas do meu livro publicado na França. Os cães latem em coro com a chegada de Tia Fleur puxando o carrinho cheio de compras. Gostei do estilo e da estória de Coetze, lembrando-me Hemingway em alguns aspectos ou até mesmo o próprio Dostoievski - Clarinha acorda e vem para a sala embarafustar os seus papeis num bauzinho de plástico e faz-me perguntas sem nexos. Sintonizo no canal 2 para assistir o desfile militar direto de Brasília que acompanhei durante muitos anos aqui nesta sala com o meu velho pai Bamba já decrépito, atormentado pelas doenças diabete e Alzheimer ele não se lembrava de nada.  O arbusto da romã cobre a vista da janela, mas percebe que lá fora já é noite. O céu escuro sem nuvens e nem estrelas. Tia Lena a vizinha que mora na primeira casa bebe com minha cunhada depois alguns tempo ausente. No radio-gravador o velho reggae, odor azedo das axilas. A monotonia e a depressão de um começo da noite, o ranger das dobradiças da porta do banheiro. Um gato miando - coço a barba rasa, não consigo coordenar os meus pensamentos e coloca-los corretamente nos papeis que pretendo escrever. Arroto baixo, quase inaudível. A estática do rádio onde minha cunhada um pouco alta tenta sem sucesso sintonizar uma estação qualquer. E ruim não saber se expressar com gostaria, o barulho vem da cozinha, das tampas nas panelas sobre o fogão. – “Não vem que não tem” - retruca minha ébria cunhada – “Não sei falar com mudo” - Uma duvida me assombra, se devo ou não sai para arejar um pouco, mas para quê, vê e sentir as mesmas tristes emoções, ver os casais felizes namorando e eu solitário sofrendo por não saber administrar meus sentimentos. Um peido barulhento e fedorento. Deito-me de bruços, a coluna dói - no meu do colchão tem um fundo, lembrei-me de Madame Rameaux entrando e saindo dos quartos da Pousada Nazaré na rua do mesmo nome, no prédio neoclássico onde durante muito tempo funcionou um hotel de meu padrinho, um português que conheci pouco chamado Seu Pinheiro. Ela sempre reclamava dos colchões que passávamos a noite e as vezes dois dias. Foram momentos felizes andando pelas ruas desertas do centro namorando na Praça Benedito Leite vendo as putas velhas e travestis embonecadas fazendo ponto na calçada ao lado da lateral da Catedral da Sé disputando os  seus clientes. A noite no centro sempre me fascinou desde a minha adolescência. Lembrando-me do romance "Ulisses", o começo com Mulligan e Stephen Dedalus, depois Bloom preparando o seu prato predileto, rins fritos. O colégio onde Dedalus recebe os seus guineis e a missão de entrega o artigo sobre a "febre aftosa" - o enterro do amigo de Dedalus pai e Bloom comparecem ao féretro de um amigo comum, vão na mesma caleça - quando tiver a oportunidade relerei com mais calma. A velha Dublin com pano de fundo e o catolicismo fervoroso. DIA DA FUNDAÇÃO DA CIDADE DE SÃO LUIS - O computador começa a dar problema eu arquivo esta quase no final, a minha pressa as vezes me leva a fazer loucuras que depois me arrependo, mas agora não tem volta, comecei tenho que terminar. Quando cheguei a Praça do Bacurizeiro encontrei apenas Matraquinha e Seu Valdir Pintor ambos tristes sentados cada um num banco, a espera de outros membros que  pouco a pouco foram chegando.
Começo da tarde - minha cunhada prepara-se para sua viagem a sua cidade natal Pedreira para tratar de um assunto referente a sua sonhada aposentadoria. Tia Ângela faz as unhas. Digitei mais umas folhas, ouvi as canções bregas com Jackson do Pandeiro e outros. Para levantar um pouco a minha decaída moral, enquanto assistia a um filme insosso na sessão da tarde, apanhei o antológico "Pé na estrada" do louco Kerouac, que sempre admirei antes mesmo de Lê-lo nos anos 80 - conheci-o através das reportagens e criticas que lia avidamente no sótão da Casa grande dos Bambas, sentado numa poltrona caindo aos pedaços cor jerimum, debaixo de um fortíssima lâmpada de filamento de 100 velas, até que num começo de noite na banca do Irmão, na Avenida Magalhães de Almeida na calçada do prédio do Ferro de Engomar, onde encostava todas as tardes quando vinha de comprar as bisnagas de pão na padaria do Supermercado Lusitana na Rua de Santana encontrei-o nos meios de outros livros usados, o exemplar de "Os Subterrâneos" com a apresentação do velho e bom Henri Miller elogiando a sua prosa. A historia de amor entre ele e a negra Maddox Fox foi apenas um aperitivo. Passaram-se quase trinta anos até reencontra-lo numa gôndola circulatória num box de uma editora na Feira do Livro, o que sempre procurei. E agora releio para aumentar a minha autoestima - as vezes duvido da minha capacidade de escritor, sou ou não sou? Então sou o quê um farsante? Que  engana a si próprio. A minha personalidade instável, as vezes muda o meu conturbado pensamento. Ora me aceito, ora me odeio e caio em depressão e nada tem sentido. As imagens distorcidas do meu ser questionam-me incansavelmente buscando respostas que nunca encontrarei. Para fugir dessa celeuma psicológica leio e releio Miller, Dostoievski, Balzac, Kerouac e outros - santos evangelhos da sagrada literatura que iluminam a minha escura situação. Não é fácil viver essa dualidade permanente "De ser ou não ser" - ouvindo na SKY os sucessos dos anos 70, que me faz suspirar de saudade da minha vidinha familiar na Casa Grande - de Pai Bamba, de Nhá Gaça, de Mãe bibi, todos. mas sou assim mesmo encabuloso, taciturno, sem firmeza - resumindo sem medo; uma vacilão. Contos os dias para entregar os livros e apanhar outros na biblioteca itinerante do SESC, a minha única diversão. Aos poucos o céu vai escurecendo, as lâmpadas dos postes acendendo. Um boliviano torcedor do Sampaio Correia chato e abusado de carro com o som alto de uma versão funkeira do hino do seu clube O negão forte barbeiro esposo da irmã de uma ex-amiga Tati que foi companheira do ator Auro Juricié vai para o trabalho de guarda de segurança. Kerouac animou-me a escrever como sei. A confissão de Raskolnikov para a frágil Soniae o safado do Svidrigailov ouvindo atrás da porta no outro quarto. A sofrida Catierina e seus filhinhos amedrontados, abraçados dentro do baú chorando, a malvada da senhoria a alemã Amália quebrando as poucas coisas e expulsando-os do quero. A realidade dura da miserabilidade de uma cidade portentosa com Petersburgo no século XIX. Uma linda lua brilhante surge por trás das casas na direção do Piancó. O vento refresca os sentimentos.
ESCANCARO AS FOLHAS DA JANELA para o sol entrar. Arrumo a minha cama, dobro o lenço e o penduro no varal ao lado de outras roupas. Na cozinha minha cunhada corta uma galinha sobre a pia, Larisinha lava as louças. Seu Pietro no banheiro. Ontem dei um passeio por trás do mercado, na Praça do Bacurizeiro onde Ademir preparava o jantar numa lata grande enegrecida pela fumaça da improvisada fogueira no chão próximo ao muro. A companheira Sena sentada calada numa das raízes da Barricudeira, um rapaz sentado num engradado fumava desesperadamente um cachimbo de crack. Contornando pela rua l8 bem no canto com avenida, encontrei meio-escondido o solitário Jack, um rapaz moreno com feições de índio peruano, cabelos lisos, mediano e que gosta também de Dostoievski, que sempre lhe empresto. Conversamos quase por uma hora assuntos variados de Hitler, Balzac, Hemingway (gostou de "Por que Os Sinos Dobram", mas não de "O Velho e o Mar" - Contou-me que está lendo Gilberto Freire, o sociólogo pernambucano, autor do antológico "Casa Grande e Senzala" - Seu Pietro vai a luta e tropeça na soleira da porta, fazendo um barulho esquisito. - O que foi isso? - espantou-se a minha espantada cunhada - Vocês são muito abusados saem do meu pé - Grita para os gatos que rodeia os seus pés.
A casa fica estranha e silenciosa sem a presença da minha irrequieta cunhada sempre marcando, falando, gritando, brigando seja com quer que fosse. Jack apareceu, trouxe os livros que lhe emprestei há alguns anos atrás e não conseguiu ler “Ilusões Perdidas” e outros ambos do grande Balzac”. Convide-o para entrar. Bruce o cão rosnou, levei-o a sala do computador, onde cair na asneira de pedir-lhe para ler um trecho de "Enquanto Escrevo" no site da editora. Ansioso para saber a sua opinião, a todo o momento o perturbava com a mesma pergunta enjoada “Tá gostando”? “Tá bom”? o que acabou irritando-o a paciência dele que parou imediatamente de ler. O entendi. Mostrei-lhe o meu humilde quarto, o meu canto, os meus livros - emprestei-lhe "As Aventuras de Nick Adams" de Hemingway e "O Grande Gatsby" do mestre Fitzgerald. Cozinhei uns ovos com caldo e verdura, qua almocei e guardei o resto para jantar e comecei a reler "Ilusões Perdida", estava com saudade de Pai Sechard, o forreta, ébrio de vinho, David, o filho e o belo poeta Luciano de Rubempré e a bela Senhora de Bargeton - de Angouleme - leio dois monstro sagrados da sagrada literatura o francês Balzac e o russo Dostoiévski. Assisti uma comédia de l956 - "Nunca fui santa" com a exuberante Marilyn Monroe.
MANHÃ ENSOLARADA na casa estranha sem a minha cunhada sentado no sofá grande o único na sala, além das três cadeiras de plástico; duas brancas e uma vermelha encostado ao lado da porta e a de macarrão de balanço. Uma estante de aglomerado com a televisão no meio e nas laterais com as portinholas de vidro escurecido onde repousa alguns livros. De um lado os grandes clássicos e outros livros em francês.
PROMETI A MIM MESMO não escrever as mesmas coisas que passei anos repetindo nesses cadernos sem fim. O Guarda impassível em pé no canto dos corredores e as funcionarias em jalecos brancos transitando de um lado para outro. Não consigo escrever como gostaria, as imagens misturam-se e a linguagem desaparece. Ontem estava tão desanimado que não digitei nada, apenas corrigir e ouvi Réquiem de Mozart - chateado sem forças para enfrentar uma depressão - ainda bem que tenho Balzac para me confortar, assim como Kerouac. O momento que vivo não é dos melhores, mas vou empurrando. Sonhando e jogando na Quina de um dia quem sabe não sai dessa lisura sem fim. Também não é dos piores, dá para viver, mesmo sem dinheiro, estou acostumado com essa vidinha, nunca tive dinheiro - ganhei apenas o necessário para as despesas básicas e comprar uns livros usados no sebo Poeme-se a preços módicos. Nunca serei um best-seller, meus livros nem meus conhecidos querem comprar, ou melhor, ao menos vê-lo no site, sou obrigado a mendigar esse favor - mas jurei não o fazer mais. Peguei a minha ração literária. Os três exemplares. Uma condensação da obra que iniciou o movimento realismo "Germinal" de Emilio Zola; "Sidarta" do mestre alemão Hesse, o mesmo autor de "O Lobo das Estepes" e uma biografia de um inglês Richard Burton (que confundi com o ator britânico) escrito por Ilia Trofanov - guardei Balzac e o drama de Lucien e viajo nessas novas vertentes.
Uma lua bonita clareia os meus enegrecidos sonhos. Encerrei a leitura de "Germinal". Todos dormindo. Um ônibus vazio passa na avenida deserta. Os latidos dos cães e a minha solidão arejada por um vento sutil. Minha adorável cunhada chegou, ainda não obteve o êxito desejado na sua missão, mas aos poucos vai desenrolando.

Sou Brasileiro, tenho mais de 50 anos, sou autodidata, serralheiro, adoro escrever e adoro os clássicos Dostoiévski, Balzac e Cervantes. Sou colaborador do jornal Extra onde todos os domingos publico um capitulo do meu romance "Tuberculose".

O grande caderno azul

I
Tarde na grande sala pequena de III Casa Bamba/Vila Embratel. Com uma daquelas monstruosas ressacas pós-natalina. Estreando esse grande caderno azul. Pela manhã comprei uma caneta que não funcionou e passei a manhã toda sem escrever. Graças a minha cunhada companheira de Professor achou uma delas com a pequena Clarinha que a escondia de mim. Perdi o diário anterior no dia de natal, muito doido de álcool em companhia de Dr. Oswaldo, fizemos uma incursão nos baixios do campo do Piancó na casa de Lourival. O cheiro forte de urina de cão emana da capa do sofá. A mão esquerda com o dedo mindinho acidentado não quer sarar. Lendo Soljenitzin "A Mão Direita". Meu filho apareceu aqui na véspera do natal, enchendo-me de alegria e esperança, depois de um pequeno desentendimento com a pequena Larissa, confesso que fui culpado por ter me exasperado atoa. Mas deixa pra lá, passou incólume. Olhei Dona Van, o grande amor da minha vida, a minha eterna June quando fui deixar o meu filho na casa deles. Ela estava exuberante como sempre com a cara enfezada sentada na calçada alta em frente o muro da casa de Seu Carrinho Cotia conversava com sua grande amiga Dona Sebá. Trocamos algumas palavras, mas não adianta ela não gosta de mim. O corpo um pouco febril
O corpo dolorido, parece que fui socado a ponta pé. Minha cunhada volta da rua. Antenor, o deficiente visual casado com minha sobrinha Sara no computador. Concluir a leitura do livro do russo Soljenitzin e volto a ler com entusiasmo "Luis Lambert" do grande mestre Balzac. A cadela late no quintal. Clarinha atentada e irrequieta faz as suas no terraço. O odor típico do meu calçãozinho preto sujo. Estou um caco, esses grodes natalinos quase provocaram a III Guerra aqui no sagrado lar dos Bambas. Fui intolerante, autoritário e acabei discutindo com Larissa.  Essa minha bebida esta me tirando do meu rumo. Por que será estou embriagando-me constantemente e ficando agressivo, discutindo besteira e não respeitando o próximo?  Levanto-me para fechar a janela do quarto onde durmo. O dedo latejando como sempre. Professor, o meu irmão mais velho, o chefe honorário da clã acordou ainda pouco, banhou-se e tornou sai para a noite. E o caderno azul. Fraco debilitado pelo uso abusivo de álcool, como se fugisse da realidade e procurando na bebida uma realização impossível . Tudo que quero é me reencontrar como ser humano e levar uma vida tranquila longe desse maldito vicio que aos pouco corrompe a minha alma e a consciência. A cachorra Chambinho eufórica com a chegada de Sara e do amiguinho dela, o ducado e tímido Ruanzinho, sobrinho de Dona Lourdes deu uma chicotada com o rabo no dedo acidentado. A garganta irritada, o estômago arreliado e o dedo, nem se fala. Tudo me chateia, não vejo graça em coisa alguma - escrever e ler  são os meus refúgios nesses momentos delicados.
- Antenor tu não quer jantar? - Pergunta a paciente esposa.
Noite
Banhei-me, sinto fome mas sem vontade de comer. Bebo agua.. o corpo fragilizado e moído assim como o meu sofrido ego. Isolado no meio do nada. A busca desenfreada da embriaguez não me leva a nada, puro retrocesso. Trabalharei na oficina somente na segunda-feira, descansarei um pouco lendo Balzac e Anatole France. Minha cunhada sentada na cadeira catando a abusada de sua cadela Chambinho, toda noite é essa mesma rotina. Preocupado com a minha saúde que parece não melhorar em nada, acho que devido as cachaças que ingeri, a mão não desinchou. Ontem enchi a lata como de praxe nem sei como cheguei aqui. Très fou - Ainda bem que não procurei conversa, agora virou moda de minha parte encher a cara e falar coisas sem nexus, desrespeitando as pessoas, chamando palavrões desnecessários. Tenho que parar com essas situações constrangedoras no dia seguinte. Quase uma semana sem digitar o meu romance "Além das Névoas Azuis" que faltam poucas folhas para a conclusão. Finalizei a boa leitura de "Luis Lambert". Estou no quarto que durmo, sentado na beira dos colchões. Um grilo solitário em algum canto tenta atrai uma companheira para acasalarem, um cão late ao longe, um ônibus que passa na avenida deserta. Professor roncando, o barulho do motor do ventilador no quarto de Larissa. O dedo doendo e eu na minha solidão de sempre com os mosquitos perturbando nos meus ouvidos.
II
Os primeiro albores de uma manhã nublada e silenciosa na ultima sexta-feira do ano. Minha cunhada ainda dorme recolhida no seu quarto as escuras. O fedor pesado das merdas e urinas dos gatos que para me atazanarem fazem daqui, o quarto onde durmo de latrina a noite toda. Pulam a cancela e fazem seu pandemônio noturno não só aqui, mas na casa toda. Os mesmos sonhos sem nexos e de violência moderada. Tive um até interessante que eu voltava a trabalhara com o velho Karl numa oficina no Portinho. Preocupado com a instabilidade da minha frágil saúde
- Larissa, Larissa - Grita minha cunhada deitada no quarto como acontece todas asa manhãs - Levanta para fazer café, vou já sair.- Uns gatos esguicham na rua. Para amenizar a fome encho a barriga de água quente. Sonhei com Mestre Balzac e sua sofrida vida financeira que apesar de ter sido um gênio literário, mas não obteve os êxitos que desejava e vivia endividado - assim como o outro gênio o russo Dostoiévski.
O suor forte na minha camiseta.
- Larissa- Grita calmamente minha cunhada ainda com paciência ou porque ainda não recarregou as energias necessárias para suas explosões verborrágicas enquanto faz a faxina obrigatória na sala do computador - Larissa, ei Larissa? - Ela começa a se irritar com a indolência da mesma que fingi esta dormindo.
Depois de alguns minutos, ela se levanta e vai para a cozinha, enche o panelão de agua do balde grande, acende o fogo no fogão e o coloca em cima. O estomago  dar voltas de fome.
Enchendo a perigosa caixa d'agua que ameaça a desabar a qualquer momento, uma das pernamancas de sustentação, do lado do baixo muro do vizinho foi detonada pelos ferozes cupins. Minha cunhada finalmente foi fazer os seus exames num laboratorio particular pras bandas da Feirinha, mas antes, ia apanhar um dinheiro na casa de Daniele que lhe prometeu custear os mesmos. Começo a ler "Serafitas", mais um romance filosofico do mestre Balzac.
III
Na oficina tentando apaziguar a minha irrequieta alma com os últimos acontecimentos de origens alcoólicas. Meio ressabiado, olho para os lados, temeroso de ter feito alguma besteira enquanto estava sob efeito maléfico dela. Apanhei  os últimos cinco reais e coloco na porta-cedula. Seu Carlos,o borracheiro na labuta com um pneu que teima em não querer sair da calha. Uma cliente vem fechar um negocio, diz que amanhã trará o dinheiro. Vamos ver, uma esperança.Se for da vontade do Senhor que seja bem-vinda. Seu Cardoso Puro passa com sua sacolinha de compra. "Serafitus" já começa enveredar pelos caminhos filosóficos-cristão, assunto que não sou muito chegado. E o affaire Deline me tira de tempo, não sei quando poderei solucionar esse problema que esta tirando o meu sossego.. Oh! Vida poeta! - mas tudo culpa tua que quer ser muito doido, acompanhar loucuras dos outros, querer ser o que não és. Então acaba te prejudicando com essas ressacas homéricas que te deixa prostrado, atrasando toda a tua existência. Vou ler Anatole France.
No quarto  onde durmo, a leitura foi interrompida com a chegada de Zé Caraca que acompanhou-me até encerrar o expediente. -"Ei! Mamãe a senhora me dara um bombom?? - Pede Larissa. O silvo da panela de feijão, o cheiro forte de merda dos gatos, assim como no sofá de urina.
Começo da tarde - Minha infatigável cunhada fez a faxina aqui no quarto onde durmo, mesmo assim o fedor continua. Professor chega da rua com uma novidade, a morte de Reginaldo Ui-Ui, exímio passista da Flor do samba, o corpo está sendo velado na sede da Escola no bairro do desterro.Antenor curioso tenta puxar conversa:   - Quem é Reginaldo?
- Tu não conheces, ele é lá do Desterro - responde exasperada minha cunhada sem dar muita trela.
O velho Reginaldo Pátria Amada trabalhou como garçom numa boate que Pai Bamba teve na Zona. Uma triste e desagradável noticia, a pensão de Mama Grande não será mais paga expirou o prazo. Agora que o bicho vai pegar.  Com a pensão e a aposentadoria a situação já era caótica, imagina  agora. Larissa frita alguma coisa. Seu Jailson popularmente conhecido com Pé-de-Pato passa carregando uma sacola no ombro com seus passos pé-de-patoliano, meio trôpego pelo álcool rumo a sua residência que divide com Dona Rita Marley - são um casal que vivem se ameaçando com facas e porradas, mas no fundo se amam a maneira deles. O corpo continua na mesma malemolência de sempre. Sarinha e as  colegas se preparam para uma viagem. termina a Sessão da Tarde. Clarinha me serve um chá com um bolo imaginário. Dormi um pouco, mas o resto da tarde fiquei deitado lendo "Historia Cômica" (que de cômica não tem nada) do mestre Anatole. O fedor forte que entranhou no meu corpo devido a uma urina de um gato no sofá.
Começo da noite - Venho para o terraço,lá dentro a mesma rotina sempre, minha cunhada braba gritando para os seus amados bichanos. Uma leve brisa que vem do mara - Antenor com o pote de farinha na mão. O Mestre Serralheiro Preguinho desempenando algumas barras na sua oficina na Praça das Sete palmeiras. Chega um amiguinho de Sara e uma amiguinha vem fazer companhia a ele. Antenor com sua sacola com a comida da cadela. O amiguinho presenteia uma sandália para a amiguinha. O casalzinho feliz se despede. Ela feliz entra com a sacola na mão. Bruce encabuloso late estranhando a menina.
- Chambinho - Grita minha cunhada.As vozes dos jogadores de dominó na casa de Seu Correia mais embaixo.

Livros Publicados: Itinerario Poetico & espiritual do Desterro - poesia - 2000 - Maskara "Um Olhar sobre o Desterro" - poesia - 200l - Jornal pequeno "Le Cahier Rouge du Pere Joseph" - romance - 2012 - Edilivre, Paris "Além das Névoas Azuis" - romance - 2013 - Clube de autores, Brasil "Cronico de Uma Tuberculose Anunciada" - diário - 2014 - Clube de Autores,Brasil "Enquanto escrevo" - diário - 2014 - Clube de Autores, Brasil "Antologia Poética" -poemas - 2014 - Clube de Autores, Brasil "E;mais de um Amor Efêmero" - 2014 - Clube de Autores, Brasil

Autobiografia poética

Uma viagem sentimental
para o meu mundo particular
da minha paixão chamado Desterro
da casa 503 - rua Afonso Pena
onde minha mãe enterrou meu cordão umbilical

das chuvas cinzas nas tardes de verão
quando o odor salgado das marés de março
misturadas as fumaças das fabricas
e o fedor insuportavel do esgoto entupido no calor do meio-dia
invandindo nossas vidas em formação.

Local onde vive: São Luís MA

escritor Raimundo Nonato Rodrigues

Retrato de um porto chamado desterro

barcos - grandes e pequenos
brancos e negros
ancoravam lá no porto
embarcavam e desembarcavam
mercadorias, animais, peixe das praias distantes

carroceiros, motoristas, peixeiros, traficantes e compradores se misturam em volta de uma grande balança
pesam, compram, recebem, pagam e retornam aos seus pequenos mundos

cabôcos, barqueiros, carregadores e viciados
discutem o preço das coisas que eles carregam e recebem

barcos a vela - barcos de pesca
abandonados e sujos na praia
onde velhos viciados da fumaça perfumam o crepúsculo e as putas fazem sexo
no tombadilho ao lado de ratazanas
que trituram os restos da sociedade

EMAIL: r.n.rodrigues@hotmail.com

Certidão de nascimento

nasci no Desterro
criei-me no Desterro
e com certeza vou morrer no Desterro

Eu sou o Desterro
o Desterro sou eu

Sou um Desterrense
não um Desterrado

Site/Blog: rnrodrigues.over-blog.com

Cartão postal

em algum lugar existe
não sei onde mas existe

não conheço a cidade
mas aquela praça estou conhecendo (agora)
não sei onde é - mas ela existe

em qualquer parte do mundo
em qualquer pais
em qualquer estado ou condado
em qualquer cidade
ela existe
existe sim!

Mande AGORA comentários para o autor.