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O Que é o Positivismo? Convidamos o leitor a passar uma vista no mundo e observar as aspirações dos diversos povos. Constata-se um anseio geral de paz, um sentimento de fraternidade universal, uma busca de bem estar material e espiritual, mesmo através da desordem atual, que reclama uma orientação e uma doutrina esclarecedora para unir as pessoas, as famílias, as pátrias e a sociedade inteira por um único ideal de convergência. Entretanto, esta doutrina já existe desde meados do século XIX, fundada na França por Augusto Comte. Ele organizou o saber humano, baseado na ciência, sem questões teológicas ou metafísicas, distinguiu os conhecimentos abstratos da ciência dos conhecimentos concretos da tecnologia, classificou as ciências: Matemática, Astronomia, Física, Química, Biologia, Sociologia e Moral ou Psicologia Positiva, completando a escala enciclopédica, mediante a fundação das duas últimas. O Filósofo, sucessor de Aristóteles e de Descartes, retomou o caminho de reformador social de sua mocidade e tornou-se Apóstolo e continuador de Moisés, Buda, Confúcio, São Paulo, Maomé, enfim, o verdadeiro Pontífice da Humanidade. A sua doutrina, o Positivismo, é um culto de amor e reconhecimento pelos parentes, pelas instituições sociais, pela pátria, pelos antepassados e pelos grandes homens; é uma filosofia real, útil, certa, precisa, orgânica, relativa e sobre tudo simpática; é um sistema de vida moralizador, um regime conveniente para todas as raças, todos os povos, todas as classes sociais, de convivência sem conflitos, sempre oriundos dos excessos egoístas e que desaparecem quando se subordina o egoísmo ao altruísmo. Seu lema fundamental é "O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim". Suas regras básicas são "Viver para outrem" e "Viver às claras". Como divisa Política, abrangente e sociológica, aconselha "Ordem e Progresso". Ser positivista é amar, conhecer e servir à Família, à Pátria, à Humanidade. A Influência no Brasil: O positivismo começou a repercutir no Brasil por volta de 1850. A doutrina de Augusto Comte chegou através de trabalhos elaborados por intelectuais. No Colégio Pedro II, na Escola Militar, na Escola da Marinha, de Medicina, Politécnica, encontrou grande repercussão. O crescimento pelo interesse por esta filosofia, acabou provocando um fenômeno no sentido de que o Positivismo no Brasil acabou ganhando mais repercussão que na França. No Brasil o Positivismo dividiu-se em duas partes, quase sempre antagônicas: de um lado, os ortodoxos, seguidores da Religião da Humanidade e crentes no Grande Ser, representados pelos apóstolos Miguel Lemos e Teixeira Mendes; do outro lado, os dissidentes ou heterodoxos, cujos nomes mais importantes foram Luis Pereira Barreto, Alberto Salles e Pedro Lessa. O positivismo religioso teve pouca importância entre nós. O positivismo filosófico e político teve os seus cultores e por tal motivo se desenvolveu até que dominado por outras filosofias praticamente desapareceu. Apesar de serem pacifistas, os militares positivistas têm cumprido rigorosamente com os seus deveres profissionais, estimulados pela cultura do amor à Pátria e pelo empenho de proceder de maneira exemplar em todos os seus atos. Nunca fugiram ao combate. Pelo contrário, sempre lutaram com entusiasmo pelas causas que abraçaram. Preferir a paz à guerra e procurar soluções humanas para os conflitos tem sido a meta dos estadistas e dos grandes chefes militares. No auge da civilização militar, adotou-se o princípio "Si vis pacem para bellum" - se quereis a paz preparai-vos para a guerra - seguindo o qual foi estabelecida na antiguidade a paz romana que acabou com as pequenas hostilidades generalizadas. Nos chefes militares modernos encontramos as maiores manifestações pacifistas. Frederico II, o Grande, afirmava que "se fosse Rei da frança, não se daria mais um tiro de canhão na Europa" e na carta a Villiers de 18.12.1785 "estou com os sentimentos de preferir a paz à guerra". O nosso bravo Osório "dizia que o seu maior desgosto era ver sua pátria em luta, e achar-se em um campo de batalha; e que a sua data mais feliz seria aquela em que lhe dessem a notícia de que os povos civilizados, pelo menos, festejavam a sua confraternização, queimando os seus arsenais". Foch, o comandante dos Exércitos Aliados em 1918 escreveu: "Decididamente, o dever é partilha de todos os homens: acima dos exércitos para comandar vitoriosamente, está o país para servir; está a justiça para respeitar; acima da guerra está a paz". Eisenhower tem uma declaração semelhante e o general Norman Schwarzkof, comandante das Forças Aliadas na Guerra do Golfo Pérsico, afirmou em fevereiro de 1991: "Nenhuma pessoa inteligente pode ser a favor da guerra". Relativamente aos positivistas convém lembrar que Augusto Comte, como aluno da politécnica, promoveu a formação de um batalhão de artilharia para a defesa de Paris na última batalha dos Cem Dias. Benjamin Constant esteve na linha de frente na Guerra do Paraguai, donde só saiu por cair doente. No glorioso 15 de novembro assumiu o comando da 2a. Brigada até a chegada de Deodoro e cavalgou na frente da tropa até o fim da jornada. Foi ministro da Guerra por sete meses, de 15.11.1889 a 22.6.1890, tendo criado a Comissão de Reforma das Escolas Militares (Rio, Rio grande do Sul e Ceará), a Comissão para Organização do Código de Justiça Militar, a Escola Superior de Guerra, e a Comissão de Reorganização do Exército. Nunca se descuidou , portanto, da operosidade militar. Além dos exercícios nos quartéis e campos de manobra, houve o trabalho penoso da Comissão Rondon que absorveu e sacrificou muitos positivistas. Nas duas Grandes Guerras Mundiais, os positivistas estiveram nos seus postos. Quem lamenta a vitória do Exército sobre a Revolução Federalista e os rebeldes de Canudos confunde os fatos e atribui aos positivistas coisas com que eles não tem nada a ver. São antipatias gratuitas dos que desconhecem as obras e a incomparável grandeza de Augusto Comte. Os militares positivistas não pregam a violência, exceto contra a própria violência, mas não fogem da guerra. Se houve algum período de menor atenção à parte prática da instrução militar, a culpa não cabe aos positivistas que, logo ao reassumirem os postos da direção, promoveram a sua remodelação. A cultura geral é necessária aos chefes militares e não colide com as obrigações profissionais. Na defesa da República dirigida por Floriano, muitos civis positivistas pegaram em armas, como Saturnino Brito, Manuel Miranda, Júlio de Castilhos, Pinheiro Machado, etc. Figuras como Benjamin Constant, Rondon, Trompowsky, Manuel Rabelo, Raimundo Sampaio, Poli Coelho, Klinger, Alfredo Severo e tantos outros positivistas só honraram o Exército Brasileiro. A influência na vida de Euclides da Cunha: Em 1875, Euclides é matriculado no Colégio Caldeira, em São Fidélis. Dirigido pelo Professor Francisco José Caldeira da Silva, natural da ilha da Madeira. Homem bastante inteligente, com ótima cultura, viera para o Brasil por causa de suas avançadas Ideias republicanas. Sendo assim, sofreu grande influência daquele mestre com ideais republicanos. No Colégio Aquino, figuravam entre os Professores Benjamim Constant, mais tarde também seu professor no Colégio Militar em que as aulas técnicas ocasionalmente eram substituídas pela propaganda política republicana e a disseminação da doutrina positivista. Benjamim Constant pertencia à Ala dos Heterodoxos. Dessa forma Euclides assimilou os princípios fundamentais do positivismo, reforçando ainda a sua Ideia republicana, mas seu espírito crítico e embasamento científico nunca permitiu que se entregasse totalmente e intelectualmente ao positivismo ou a nenhuma outra corrente de pensamento. Euclides tinha temperamento inquieto e tortuoso, sempre à busca de algo que o inquietava, para demonstrar esse seu espírito e posicioná-lo nesse mundo político e social, tomemos um trecho de seu estudo "Da Independência à República": " Porque, em verdade, o que houve foi a transfiguração de um sociedade em que penetrava pela primeira vez o impulso tonificador da filosofia contemporânea. E esta, certo, não a vamos buscar nesse tão malsinado positivismo, que aí está sem a influência que se empresta, imóvel, cristalizado na alma profundamente religiosa e incorruptível de Teixeira Mendes." " As novas correntes, forças conjugadas de todos os princípios e de todas as escolas - do contismo ortodoxo ao positivismo desafogado de Littré, das conclusões restritivas de Darwim às generalizações de Spencer - o que trouxeram, de fato, não foram os seus princípios abstratos, ou leis incompreensíveis à grande maioria, mas as grandes conquistas liberais do nosso século; e estas compondo-se com uma aspiração antiga e não encontrando em nós arraigadas tradições monárquicas, removeram, naturalmente, sem ruído - no espaço de uma manhã - um trono que encontraram." Com tudo isso podemos concluir que embora o positivismo declaradamente tenha desaparecido no Brasil, ainda restam pensamentos e práticas sociais que nos levam a fazer ainda, uma reflexão sobre sua praticidade para a sociedade brasileira. Não esquecendo que no Rio de Janeiro temos ainda um templo da Igreja Positivista do Brasil. Prof. Guilherme Félice Garcia é um dos Coordenadores e Professores dos Ciclos de Estudos e professor nas cidades de Ribeirão Preto, Jaboticabal, Ituverava, Orlândia e São Joaquim da Barra. Fonte: www.casaeuclidiana.org.br |