Terapia da Cozinha

Características predominantes da obra "O cabeleira"

Quais as características predominantes da obra O cabeleira de Franklim Távora?
Franklin Távora figura ao lado dos romancistas José de Alencar, Bernardo Guimarães e Alfredo Taunay, entre outros, como um escritor que trouxe à literatura brasileira o gosto pelo sentimento da natureza, evocando a paisagem aliada ao enfoque de personagens que simbolizam os arquétipos do sertanejo. No entanto, como a maioria de seus colegas de geração, escreveu também para o teatro. E é justamente esse lado menos conhecido do artista, que o estudioso Cláudio Aguiar está resgatando, com a obra Teatro de Franklin Távora. As obras reunidas neste volume por Aguiar representam significativos exemplos de dramas realistas aparecidos justamente no momento em que tal movimento ganhava força no cenário da dramaturgia brasileira.
Franklin Távora nasceu em Baturité, CE, em 13 de janeiro de 1842, falecendo no Rio de Janeiro, RJ, em 18 de agosto de 1888, após passar longas temporadas em Pernambuco. É o patrono da Cadeira nº 14, da ABL, e formou-se pela Universidade de Direito do Recife, celeiro de grandes escritores no período. Um dos fundadores da Revista Brasileira, foi intérprete literário de um regionalismo que vinha se exprimindo ideologicamente desde o início do século. Távora defendeu o que chamava uma literatura do Norte, em oposição a uma literatura do Sul, considerada por ele cheia de estrangeirismos e antinacionalismo. Ficou conhecido, especialmente, pelas obras Três Lágrimas (1870), Cartas de Semprônio a Cincinato (1871), O Cabeleira (1876), O Matuto (1878) e Lendas e Tradições do Norte (1879). Nesta entrevista, Aguiar aborda a vida e a obra do dramaturgo nordestino.
Como poderíamos classificar a presença de Franklin Távora na literatura brasileira?
Ela acha-se bastante documentada nos mais importantes livros que tratam de nossa história literária, como os de Sílvio Romero, José Veríssimo, Lúcia Miguel-Pereira, Antonio Candido, para ficar apenas nos mais conhecidos. A marca fundamental aparece com o romance Um Casamento no Arrabalde, de 1869, que o situa como uma das principais obras que se caracterizam por abandonar o tom romântico então predominante. Por isso, boa parte da crítica viu nesta obra de Távora um momento precursor do realismo no contexto da literatura brasileira. O mesmo acontecia com sua estréia no Teatro de Santa Isabel, no Recife, com a peça Um Mistério de Família, de 1861, embora a primazia sempre tenha recaído para autores que então freqüentavam o eixo Rio-São Paulo. Sílvio Romero chegou a ver em Távora mais faro psicológico e firmeza das tintas do que em Alencar, no qual reconhecia, por outro lado, maior imaginação. José Veríssimo classificou Um Casamento no Arrabalde como um dos melhores da literatura brasileira. Lúcia Miguel-Pereira, apesar de propensa a destacar mais os defeitos do que os acertos da obra de Távora, chamou a atenção “para os novos rumos que delineia”, querendo dizer com isso que Távora naquele romance apontava para caminho nitidamente realista. Candido considerou Um Casamento no Arrabalde a obra-prima de Távora exatamente pelo “traço realista”. Então, em rápidas palavras, verificamos que Távora afirma-se desde os primeiros passos literários, quer no romance, quer no teatro, como um autor realista. Isso não significa que não tenha tentado, ainda muito jovem, obras com fortes laivos românticos, as quais não alcançaram nenhuma repercussão e logo foram abandonadas pelo próprio autor, como ocorreu a Os Índios do Jaguaribe, de 1862.
Qual a importância do teatro de Franklin Távora, onde convivem num mesmo espaço o regionalismo, certa preocupação realista, histórica, e enredos de teor folhetinesco?
A importância do teatro de Távora, segundo penso, não reside basicamente na possibilidade de conviver no mesmo espaço circunstâncias de gêneros, movimentos ou escolas. As peças selecionadas, a meu ver, fogem de esquemas regionalistas ou históricos e centram-se em questões fundamentais da própria vida humana: a honra e a desonra de pessoas que são feridas em seus sentimentos mais íntimos e sagrados, ainda que preponderem aspectos relevantes em determinada época. Creio que a importância do teatro de Távora está exatamente no elevado senso da condução do drama. Do ponto de vista da historiografia literária destaco, porém, fatores que influenciaram o surgimento de intensa fermentação dramática que apontavam para novos caminhos do teatro brasileiro. O principal deles era o enfoque realista que deixava para segundo plano o romantismo, também, à época, ocorrendo no Recife com as mesmas características do Rio de Janeiro e São Paulo. E mais: a novidade recifense surgia da pena do jovem Franklin Távora, com apenas 20 anos de idade, que conseguia levar à cena no Teatro de Santa Isabel um drama com o concurso de grandes companhias e renomados atores, circunstância que no mínimo chancelava a qualidade de seu texto.
Alguns críticos consideraram Franklin Távora o primeiro romancista do Nordeste. Mas dizem que, no final da vida, mostrou-se desgostoso com a literatura. Qual terá sido o motivo?
Távora realmente leva vantagem cronológica sobre o aparecimento do primeiro romance cearense, isto é, escrito por autor cearense, quando, em 1862, publicou Os Índios do Jaguaribe, no Recife, aliás, anterior a Iracema, de José de Alencar, que é de 1865. No entanto, não é um romance de regionalismo extremado, mas, sim, extremadamente romântico. Nele há um certo ufanismo mesclado a um saudosismo que só uma atitude romântica poderia justificar. Foi uma obra totalmente abortada. Tanto que ele prometia continuar a publicação do resto do romance e não se tem notícia da edição dos tomos seguintes. Quanto ao fato de revelar-se desgostoso no final da vida com a literatura, também não encontrei em sua trajetória nenhuma razão plausível para tal atitude. O que constatei foi justamente o contrário. Revelou-se um escritor bastante forte para não sucumbir diante das injunções adversas da vida, das ingratidões, do sofrimento com a atividade burocrática, das dificuldades financeiras. Ele, porém, teve momentos de realização pessoal em sua curta vida (morreu aos 46 anos), creio, decorrentes exatamente de atividades literárias, de jornalismo militante, polêmicas e campanhas ligadas a princípios dignificantes e construtivos, como a defesa da liberdade, da fraternidade e da igualdade entre os homens, tríade que, ao longo da história, tornou-se apanágio e obsessão daqueles que miram utopicamente o horizonte e nunca o próprio umbigo.
Fonte: br.answers.yahoo.com