Conquiste todos os dias o seu marido

A primeira carta que abri foi a sua, Lúcia. Você dá as indicações necessárias e, em seguida, passa a seu caso. E faz essa exclamação: "Meu marido deixou de gostar de mim! Meu marido não gosta mais de mim!". Informa que vocês casaram apaixonadíssimos. É, não resta dúvida, uma desgraça. E o que a preocupa e atormenta é saber qual dos cônjuges tem a culpa da atual situação. Você não concebe que haja uma tragédia sem culpados. Está claro que você põe toda a responsabilidade sobre os ombros do seu marido. Destaco de sua carta - tão fremente de dor e indignação - os seguintes trechos: ..."os homens são assim mesmo... os homens não prestam... os homens não são sinceros"... Ao passo que a mulher, segundo seu ponto de vista, possui todas as virtudes e nenhum defeito. Você, então, invoca, em causa própria, o que você é, o que você tem feito. Em resumo: você é uma esposa exemplar, fidelíssima, atenta aos deveres, esquecida dos direitos, dona de casa infatigável, que não refuga, em caso de necessidade, nem a cozinha, nem o tanque. Aduz uma prova definitiva de sua abnegação: "não tenho nem tempo para me pintar". Como se não bastasse tanto devotamento e sacrifício, você vai além: a fim de não sobrecarregar os gastos do esposo, não compra vestidos e chega a esta perfeição realmente incomparável - "tenho uma única combinação!". Tudo isso seria normal, se seu marido ganhasse pouco. Mas ganha muito, ganha bastante! Logo, você acredita que as privações que se impôs crescem de valor.

Isso diz você. Agora vejamos minha opinião. Suas qualidades domésticas, eu as considero de primeira ordem. Ótimo que você seja assim. Mas não basta, Lúcia. É pouco. Sei também que você é fiel. Mas a fidelidade significa apenas uma virtude e a condição de esposa exige várias virtudes. Você faz muita economia, faz economia demais. E uma virtude assim imoderada passa a ser defeito, e dos mais graves. Sobretudo, porque você exerce seu senso de economia contra si mesma, contra sua graça de mulher, contra a sedução de sua imagem. Uma mulher que, tendo dinheiro, vive com uma única combinação - ou duas - está se condenando a uma triste sorte amorosa. Eu compreendo o seu drama, que é nada mais, nada menos o drama de milhares de mulheres. Vejo você, no dia de seu casamento, ainda noiva. Qual foi sua convicção íntima, profunda, irredutível? De que o bem-amado era para sempre seu, de que era uma propriedade sua, uma conquista em termos definitivos. Para que se enfeitar, se embelezar, tornar-se graciosa e fascinadora para um homem que já lhe pertencia? Pensando assim, você errou. Porque, na verdade, nenhum homem é para sempre nosso. Nós precisamos conquistá-lo sempre, nós precisamos conquistá-los todos os dias. Nisso se resume o amor, nesta conquista cotidiana. Pergunta você, em seu desespero, se não há amor eterno. Há, minha pobre Lúcia. Mas é uma eternidade toda especial que, pode acabar, pode durar seis meses ou até quinze dias. Certo poeta dizia do próprio amor: "...que seja eterno enquanto dure". Somos nós que fazemos o nosso amor eterno, com muita graça, muita feminilidade, um esforço incessante e uma paciência infinita. Quem não quiser realizar este esforço ou demonstrar esta paciência, não tem direito de se queixar do destino. Porque a culpada é ela mesma. Você diz que, ao chegar seu marido, você está exausta. E pensa que isso constitui título de glória. Engano, Lúcia. Você, exausta, moída de cansaço, saturada de sono, incapaz, já, de coordenar as Ideias, de compor uma frase, você não seduz seu marido, não o encanta, não arrebata. Ele achará, não resta dúvida, que você é uma formidável dona de casa, mas não encontrará este encanto, esta fascinação, que também pertence à condição de esposa.

Sei que você está atônita diante de minhas ponderações que, afinal de contas, nada têm de notáveis, e apenas exprimem verdades cotidianas e eternas. Mas o pior não é isso. O pior é que você daqui a dois ou três dias se esquecerá de tudo o que Myrna lhe diz agora. Você incidirá, então, nos mesmos erros e defeitos. Continuará achando seu marido culpado de tudo e você de nada. Desculpe, que eu lhe fale assim claro. Mas digo apenas verdades. Estou vendo, neste momento, seu futuro. Dia a dia vão crescer as suas incompatibilidades com o companheiro. Entre ele e você, uma incompreensão cada vez mais patética. Tenho pena, muita pena, mas é o destino, Lúcia. Antes de concluir, vou lhe dar um conselho, a si e a todas as mulheres casadas, conselho que você não vai seguir, porque não é está sua sorte:

- Conquiste seu marido todos os dias!

Extraído do livro: Não se pode amar e ser feliz ao mesmo tempo (Compre e leia o livro, vale a pena)