Infeliz da mulher que não sabe perdoar

Com você, Juannita, acontece o seguinte: é casada há 36 anos e foi, recentemente, abandonada pelo marido. Você tem toda razão de estar espantada com a vida, de achá-la cruel, brutal, indigna de ser vivida. A rigor, seu marido não mereceria perdão. Nenhum homem tem direito de deixar uma esposa que o acompanhou, com um máximo de fidelidade de solicitude, através de 36 anos. E teoricamente, você deveria se conservar irredutível, fechada no seu amor próprio. Mas você é mulher, Juannita. E ai de nós! Para a mulher é muito difícil conciliar o amor próprio e o amor de um determinado homem. Quantas vezes a vida não exige o sacrifício de um desses dois sentimentos? Reconhece que é bonito, lindo, uma atitude de orgulho e de intransigência. Mas semelhante atitude não resolve nada, pois redunda em prejuízo da própria mulher, de sua felicidade, do seu lar. Creio mesmo que, para a mulher, existe uma arte, uma sabedoria, realmente indispensáveis - a arte de não ver, a sabedoria de ignorar. Ao contrário do que se diz vulgarmente, o melhor cego ou cega é aquela que não quer ver. Esta cegueira voluntária existe como autodefesa na vida da mulher. Dirá você, Juannita, que, muitas vezes, a esposa ou noiva ou namorada tem que ver, quer queira, quer não. Seu caso, por exemplo. Seu marido a abandonou. Mesmo que você ficasse fisicamente cega, teria que tomar conhecimento do fato. Que fazer, então? Perdoar. Sei que é duro, é penoso, mas necessário. Trinta e seis anos constituem um bem comum que não pode ser abandonado. Em amor, o passado vale mais que o presente. Cada dia que passa é um vinculo novo, um elo. A soma de muitos dias e anos dá a união de um homem e uma mulher uma força tremenda. Os velhos amores são como os vinhos antigos - tornam-se melhores, de uma qualidade mais pura, mais intensa. Por isso, eu sustento uma opinião que pode parecer estranha para muita gente: abandonar a esposa na lua de mel é menos insólito do que fazê-lo depois de 36 anos de vida em comum. Juannita explica que o esposo a deixou por causa de uma fortuna. E dá indicações: "já temos filhas casadas, duas solteiras e uma neta já moça". Tudo isso torna o caso doloroso. E você, Juannita, diante de uma desgraça tamanha, volta-se para mim e pede uma orientação.

Você deve perdoar, Juannita. Não será nem a primeira, nem a última mulher a perdoar. O nosso destino é perdoar, perdoar sempre, ao namorado, ao noivo e marido. E, depois, ainda perdoamos aos filhos, aos netos, aos genros etc. Cedo aprendemos que a nossa vida se baseia, não no amor próprio, mas no amor alheio. Não vivemos nem mesmo para a nossa felicidade. A felicidade da mulher é inteiramente reflexa. Ela é feliz com a alegria dos outros, quero dizer, com a alegria do marido, dos filhos. Pois bem. Você vai ao encontro do seu marido; e não o censure, não o condene. O culpado odeia a expiação. Fale, não em si mesma, fale nos filhos, no lar. Diga: "Guardemos as aparências". Apenas isso. E se ele voltar, como vai acontecer, você, pouco a pouco, com muito tato e doçura, sem nunca fazer referencia aos erros que ele cometeu, irá pouco a pouco reconquistando o seu amor. Ele, então, passará a dar à sua companhia um novo valor. Verá que tudo aquilo que você fez e faz por ele não tem preço. Será a sua redenção, Juannita.

Extraído do livro: Não se pode amar e ser feliz ao mesmo tempo (Compre e leia o livro, vale a pena)