Fragmentos do classicismo

... Fuja daqui o odioso
Profano vulgo, eu canto
As brandas Musas, a uns espritos dados
Dos Ceos ao novo canto
Heróico c generoso
Nunca ouvido dos nossos bons passados.
Neste sejam cantados
Altos Reis, altos feitos.
Costume-se este ar nosso à Lira nova ...

... I u de palma, e de louro
Com razão coroado.
Eu da humilde, e sempre verde hera.
Seguindo tuas pisadas
Nas nuvens levantado
Assi serei senhor; descansa e espera ...

... Vai com descostumada.
E leve pena. Afonso, pelo ar claro,
Deixando desprezada
A inveja, que em seu dano
Perseguir o melhor tenta c mais raro.
Esprito às Musas caro,
Já te vejo ir voando
Em nova forma, muito mor que humana
Novas penas criando
Livre do baixo, e caro
Peso da terra, qu'o esprito dana. ...

... Prenderam as Musas por nova aventura
O Amor em laços, e prisões de flores.
Entregraram-no em guarda à fermosura.
Que atado o tenha bem. porém sem dores.
Ajunta Vénus does, e com brandura.
Que soltem, roga, o filho, seus amores.
Mas inda que já seja resgatado.
Dali fica a servir acostumado ...

... Mel puro da tua doce boca mana.
Meu Licidas; teus versos favos são.
Febo tempera a tua suave cana.
Nunca a voz te enfraqueça; nunca a mão
Te canse; nunca este ar deixe de ouvir-te
Ao sol, à sombra, em inverno e verão.
Fresco leite no tarro vou mungir-te ...

... Veio Vénus, sorrindo-se consigo,
O riso é falso, esconde a dor no peito.
Androgeo, diz, consola-te comigo
A quem devia Amor ser mais sogeito,
Androgeo, que à mãe sua? pois tu sabes
Quanto mal o seu arco me tem feito.
Bem é que com tuas Musas não te gabes
Que resististe a Amor, a quem devendo
Ficas, que em tal amor, Androgeo, acabes. ...