Poema: O rego

Queriam canalizar
as águas pro monjolo
mas o que abriram foi um rego de céu.
            Agora
a manhã fugiu do céu
e veio morar dentro do açude.
De tarde
o céu entorna o crepúsculo no açude,
cujo silêncio paralítico
os sapos espetam
com canafístulas de gluglus.

As estrelas lavam roupa de luz
nos espraiados.
Já houve até quem visse anjos
- muitos anos - voando
nas asas dos pirilampos.
Foi desse jeito
que os homens escravizaram um retalho de céu,
amarrando-o ao rabo do monjolo.

Extraído do livro: Primeira chuva (Compre e leia o livro, vale a pena)