Nasceu no sítio Boa Vista, na vila Caxias (1823), Estado do Maranhão, onde um comerciante português vivia com uma pobre mestiça brasileira, que lhe serviu de objeto para gerar o filho Antônio Gonçalves Dias, que veio a ser uma das glórias da poesia brasileira. Aos seis anos de idade, foi tolhido do convívio materno, chegando a ser arrancado das mãos de sua genitora. Sem a mãe, que havia sido abandonada de vez pelo pai, tornou-se uma criança triste, não obstante o carinho que lhe devotava a madrasta. Aos 14 anos de idade, mudou-se para São Luís, onde seu pai foi assassinado (1837).
A vida que lhe parecia adversa, deu-lhe um pequeno alívio, pois a única pessoa que lhe restou da sua trágica adolescência, sua madrasta, não poupou esforços para dar-lhe esmerada educação, enviando-o para Portugal, onde estudou Direito em Coimbra. Sentindo-se estrangeiro em Portugal e com saudades do Brasil, fez sua primeira poesia, a Canção do Exílio, que foi declamada em todas as escolas brasileiras públicas e particulares. Alexandre Herculano, em seu artigo na Revista Universal Lisboense (1846), reconhece Gonçalves Dias como o primeiro grande poeta do Brasil, dizendo ser a Canção do Exílio o registro de nascimento do futuro da literatura brasileira. Após formado, teve a oportunidade de pesquisar e tornar-se versado nos clássicos portugueses e na literatura européia. Ainda, vivendo de escassos recursos, enviados pela madrasta, fez parte de grupos literários portugueses, tornou-se coadjuvante no movimento romântico de Portugal e começou a escrever em prosa e verso.
De volta ao Brasil (1845) ficou pouco tempo nas cidades de São Luís e Caxias, no Maranhão, transferindo residência para o Rio de Janeiro (1846), quando então, aos 22 anos de sua vida, conheceu uma menina de 14 anos, Ana Amélia Ferreira Vale, por quem se apaixonou, endereçando-lhe seus mais inspirados verso de amor.
No livro Crônicas, de Charles J. Dunlop, p. 86, Ed. Americana, 1973, está escrito: "A denominação Latoeiros – é Melo Morais que informa – revelava à posteridade que as artes no Rio de Janeiro floreciam e que naquela rua só habitavam artistas e artesãos desse gênero. No entanto, apagou-se-lhe o título para dar o de Gonçalves Dias, "que não passa de um poeta de Segunda Ordem e que plagiou, em suas produções, diferentes poetas alemães e franceses."
Poderia haver discordância quanto à mudança de nomes, porém não há por que diminuir e desprezar um vate glorificado pela maioria do povo brasileiro. Acresce, além disso, afirmar que a literatura é uma arte, e ele era um artista do verso. Como poderia um alemão ou francês ensinar-lhe a feitura de versos de cunho nacional e indianista?... Haja vista os seguintes: Minha terra tem palmeiras,/ Onde canta o sabiá;/As aves que aqui gorjeiam,/Não gorjeiam como lá. Esta quadra traz como epígrafe estes versos de Goethe: Kennest du das Land, wo die zitronen Blühn./Im dunkeln Laub Gold – Orangen glühn./ Kennest du es wohl? – Dahin! Dahin/ Mocht ich... ziehn. Tradução em versos: Sabes da terra em que os limões florescem/Na escura rama, e além laranjas resplandecem,/Porventura a conheces? Para lá/ Para lá! Desejara ir... já.
Gonçalves Dias, que se distinguiu como poeta lírico, enamorado dos índios e da natureza brasileira, além de haver tomado parte no movimento que liberou as nossas letras do domínio clássico português, exerceu o magistério no centenário Colégio Pedro II do Rio de Janeiro. Escreveu: Primeiros, Segundos e Últimos Cantos e Dicionário da Língua Tupi. Publicou os poemas Timbiras, I – Juca Pirama, Sextilhas de Frei Antão, bem como várias poesias dedicadas aos indígenas. Um poeta versátil, dos mais populares e influentes na área intelectual, o representante máximo da corrente indianista. O amor que ele dedicou ao índio brasileiro, traduzido em belíssimas estrofes, é demonstrado em Juca Pirama e Canção do Tamoio, peças épicas e antológicas, em que há um grito de guerra e as nações Timbiras e Tamoios, Tapuias e Tupis e tantas outras entrechocam-se em lutas renhidas pelos domínios de suas tabas. Já na poesia Não me Deixes, o autor se transmuda, em vez de grito de guerra há um grito de clemência. Cultivou também o teatro, a filologia, a etnografia e a história. Ele, Castro Alves e Olavo Bilac constituem uma admirável trindade poética e nacionalista. Em São Luís, capital do seu estado, ergueram-lhe um monumento, de mármore, em forma de palmeira, e assim ele aparece no topo de uma coluna rodeada de palmeiras, contemplando eternamente aquelas magníficas paragens da sua terra natal.
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