O jornalista e o poeta de pedra

João Cabral de Melo Neto: O Homem sem Alma & Diário de Tudo, de José Castello, 272 pp., Editora Bertrand Brasil [tel. (21) 2585-2070 e (11) 3171-1540], Rio de Janeiro, 2006
"Um notável documento humano - apaixonado, turbulento, ousado e enlouquecido. Um artista genial, um ser frágil." (Silviano Santiago)
Publicada pela primeira vez em meados da década de 1990, esta polêmica e aclamada biografia crítica acerca de João Cabral de Melo Neto, escrita por José Castello, é agora reeditada pela Bertrand Brasil em versão revista e ampliada. Em João Cabral de Melo Neto: O Homem sem Alma, tendo como matéria-prima cerca de trinta horas de entrevistas, Castello traça o perfil de um poeta rigoroso e delicado – incapaz, no entanto, de lidar com seus próprios sentimentos.
A parte inédita, Diário de Tudo, traz agora os bastidores das conversas, com anotações que Castello fazia após cada encontro. Estas páginas, na visão de Silviano Santiago, "são uma pequena obra-prima... Nada mais doloroso e pungente do que enxergar o poeta, encerrado à meia-luz no luxuoso apartamento do Flamengo, sendo tomado por crises de melancolia".
João Cabral de Melo Neto (1920-1999), um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos, foi, notoriamente, uma pessoa fechada e avessa a qualquer tipo de declaração confessional. Esse famoso "homem sem alma", um ser supostamente antibiografável, atraiu o prestigiado escritor e jornalista cultural José Castello, que redigiu esta "biografia intelectual" com a qual, ao fim da leitura, é possível obter um detalhado perfil humano e emocional de um poeta envelhecido e angustiado.
"Eu não tinha um nome para este diário", relata o autor na apresentação de Diário de Tudo. "Então, me lembrei de um comentário de João, na primeira vez em que lhe mostrei meu caderno verde. `Este caderno é um diário, em que anoto a parte mais íntima de nossas conversas´, eu lhe expliquei. Ele se mostrou curioso, mas não pediu para folheá-lo. Perguntou que tipo de coisas eu anotava. `Tudo de que posso me lembrar´, expliquei. `Miudezas, pequenas impressões, comentários soltos, tudo me serve.´ Demonstrando indiferença, João se limitou a dizer: `Eu tenho o meu Museu de Tudo. Você tem o seu Diário de Tudo´. Com seu improviso de poeta, ele me dava de presente um título. Restava-me honrá-lo."
Assim como o legado do poeta, a obra de José Castello cresceu com o tempo. João Cabral de Melo Neto: O Homem sem Alma – esta, nas palavras de Silviano Santiago, "autobiografia/biografia (as duas ao mesmo tempo) de João Cabral e José Castello" –, acrescida do surpreendente Diário de Tudo, revela-se hoje ainda mais pertinente do que na época de sua primeira aparição.
José Castello nasceu em 1951 no Rio de Janeiro e é mestre em Comunicação pela UFRJ. Foi repórter da revista Veja, chefe de redação da IstoÉ (sucursal do Rio) e editor do caderno "Ideias" do Jornal do Brasil. Foi, ainda, cronista e repórter literário de O Estado de S.Paulo. Atualmente, escreve crítica literária regular para a revista Bravo!, o site Nominimo, o mensário Rascunho e os jornais Valor Econômico, O Globo e O Estado de S.Paulo.
É autor de Vinicius de Moraes: O Poeta da Paixão, que recebeu o Prêmio Jabuti, Vinicius de Moraes: Uma Geografia Poética e Na Cobertura de Rubem Braga. Seus livros mais recentes são Inventário das Sombras, o romance Fantasma, que em 2002 mereceu Menção Honrosa do Prêmio Casa de las Américas, de Cuba, e Pelé – Os Dez Corações do Rei (Ediouro, 2003). Em 2003, lhe foi dedicado um volume da série As melhores crônicas de..., organizado pela crítica literária Leyla Perrone-Moisés. Vive, desde 1994, em Curitiba.
Fonte: observatorio.ultimosegundo.ig.com.br