Seus versos não tinham amarras...

Foi em Recife, no dia 19 de abril de 1886, que nasceu Manuel Carneiro de Souza Bandeira. Filho de engenheiro, fez seus estudos primários na capital pernambucana. Ainda bem jovem mudou-se para o Rio de Janeiro e completou seus estudos secundários no tradicional Colégio Pedro II. Em 1903, foi em busca do que pensava ser seu futuro, o curso de arquitetura da Escola Politécnica de São Paulo. No ano seguinte, atacado pela tuberculose, foi obrigado a abandonar os estudos e a buscar tratamento nas estações de clima da Suíça. Naquela época, sem antibióticos, era muito comum que as pessoas de famílias abastadas acometidas da doença fossem procurar o clima dos Alpes.
Voltou para o país em 1914 e três anos depois publicou seu primeiro livro de poesias, A Cinza das Horas - de influência parnasiana e simbolista. Nas frases da obra pode-se notar perfeitamente a amargura de um jovem sem saúde e limitado fisicamente. Seu amargor aumentou nos anos seguintes. Sua mãe morreu em 1916 e a irmã, que também era sua enfermeira, faleceu dois anos depois. Em 1919, publicou Carnaval e perdeu seu pai. Mudou-se para o Rio e foi morar na rua do Curvelo, onde ficou até 1933.
A sucessão de tragédias familiares e a luta diária contra a doença afinavam seu fabuloso dom literário e sua obra, vagarosamente, começou a deslocar-se para o modernismo. Porém, em 1922, participou, sob protesto, da Semana de Arte Moderna - mesmo que a leitura de sua poesia "Os sapos", por Ronald de Carvalho, ter sido um dos momentos marcantes do evento. Manuel Bandeira recusou-se a comparecer por não concordar com os violentos ataques feitos aos parnasianos e simbolistas.
Em 1925, ganhou o primeiro dinheiro com literatura, 50 mil réis, colaborando para o Mês Modernista, do jornal A Noite. Do tempo que viveu na Rua do Curvelo saíram as poesias de O Ritmo Dissoluto, Libertinagem, e uma parte de A Estrela da Manhã. Entre 1929 e 1930 escreveu crônicas semanais para o Diário Nacional e para várias rádios, além de traduções e biografias. Em 1937, ganhou o Prêmio da Sociedade Felipe de Oliveira (5 mil cruzeiros). Alguns dias depois declarou: "Nunca eu vira até aquela data tanto dinheiro em minha mão" - Manuel Bandeira tinha então 51 anos.
Em 1940 vestiu o jaleco da Academia Brasileira de Letras e incluiu nas suas Poesias Completas o volume Lira dos Cinquent'anos. Assumiu a cadeira de Literatura Hispano-americana na Faculdade Nacional de Filosofia, em 1943. Ainda na década de 40, publicou Belo Belo - com a nova edição de suas Poesias Escolhidas - e Mafuá do Malungo, impresso em Barcelona pelo também poeta João Cabral de Melo Neto. Nos dourados anos 50 lançou Itinerário de Pasárgada (memórias), De Poetas e de Poesia (crítica) e as crônicas de Flauta de Papel. E nos tumultuados anos 60 editou Estrela da Tarde, Estrela da Vida Inteira (poesias) - livro que a Editora José Olympio lançou em homenagem aos seus 80 anos - e Andorinha Andorinha, crônicas organizadas por Carlos Drummond de Andrade. No dia 13 de outubro de 1968, com 81 anos de idade e coberto de glórias literárias, morreu o poeta Manuel Bandeira.
Os versos de Manuel Bandeira não tinham amarras. Jogava livremente com as palavras costurando-as com uma linha fina de ceticismo. Em vários momentos parecia rir de suas tragédias. A vida cheia de episódios tristes deixou marcas na sua obra. Tanto que o crítico Afredo Bosi, em um de seu ensaios, afirmou: "A biografia de Manuel Bandeira é a história de seus livros. Viveu para as letras."
Fonte: www.terra.com.br/almanaque/literatura/