Uma poesia de Manuel Bandeira

Profundamente
Quando eu adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de bengala
Vozes cantigas e risos
Ao pé de fogueiras acesas
No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?
- Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônho Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão eles?
- Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.