Pergunta: O espiritismo diz que, para se comunicar com os espíritos é necessário ter sensibilidade, alguns chamam de dom; que a existência desses mesmos espíritos não se percebe pela fé, mas sim pelo entendimento, ou seja, de forma cientifica. Sendo Ciência, então porque alguns têm o “poder” de conversar com os espíritos e outros não? Se for mesmo Ciência deveria ser como um telefone, que qualquer pessoa liga e qualquer pessoa atende, sem a necessidade de ser um “escolhido” para tal.
Resposta: A doutrina espírita foi apresentada como sendo um corpo de ensinamentos, de esclarecimentos e de elucidações assentadas num tripé: em uma das suas bases encontra-se a Filosofia, na outra a Ciência e na outra o contexto religioso.
A partir dessa premissa o espiritismo ficou sendo conhecido como um movimento filosófico-cientifico com aspectos religiosos; para outros o espiritismo é uma religião com o porte de doutrina filosófica, mas com uma preocupação cientifica. Mas seja lá onde nós enquadremos a expressão ciência, ela não diz respeito ainda a interação do médium com os espíritos.
A ciência, chamada pelo codificador Kardec, referia-se ao fato de que quando o Espiritismo surgiu, os espíritos haviam criado toda uma “tecnologia” para movimentar pranchetas, lápis, etc., para chamar a atenção dos homens e mulheres daquela época, e o que para muitos era apenas um conjunto de acontecimentos aparentemente frívolos, interessantes e mesmo engraçados, para Kardec foi apenas o fio do novelo, ou seja, ele percebeu uma causa inteligente por trás daquilo ali.
Kardec juntamente com outros foram descortinando o que estava ocorrendo, qual era o sentido profundo, qual o sentido oculto por trás daquilo ali. Pouco a pouco esses espíritos começaram estabelecer códigos de comunicação e pouco a pouco esta comunicação se estabeleceu. Notadamente a comunicação veio através de duas médiuns, em idade ainda juvenil, que muito impressionava o professor Rivail ? que viria a usar o pseudônimo de Allan Kardec?, pelo conteúdo filosófico profundo das respostas dadas pelos espíritos a certas questões. Alguns aspectos foram demonstrando à Kardec que algo muito sério, muito profundo, muito bem elaborado estava exercendo essa função dessa causa inteligente, que não era percebido.
As questões apresentadas nas muitas reuniões de estudos na época envolviam aspectos religiosos, questões filosóficas e também os assuntos de importância científica. As respostas que os espíritos davam sobre esses assuntos, demonstravam a kardec que aquilo realmente era o pano de fundo tão perseguido pela curiosidade humana, por explicar as regras do jogo da vida na Terra.
Aquele era o pano de fundo filosófico, algo que nós não damos muito valor, mas que se chama de Justiça Divina, que se expressa através do mecanismo das leis de causa e efeito, ação e reação, e tudo isso é depositado nas mãos de cada filha ou filho criado pelo Pai e cada um tem o livre arbítrio para fazer com isso o que quiser, agindo como quiser na vida e interferindo como quiser na vida dos outros.
Kardec foi percebendo que o assunto era muito sério e por ser tão sério ele fazia parte da ciência da vida, e a ciência deveria avançar, para tentar, ai sim, criar mecanismos de averiguação, de codificação e de interação com esse fenômeno, ou seja, com o conjunto de fenomenologia que estava se descortinando. Ele disse que o Espiritismo era também Ciência, porque através de médiuns jovens, meninas de 14, 15, 16 e 17 anos vinham respostas profundíssimas, no campo da Astronomia e no campo da Filosofia, que somente mentes muito dotadas nesses campos poderiam ofertar e não aquelas meninas.
Essas respostas também começaram chegar através de outros médiuns espalhados pela França. Kardec pôde perceber que havia uma causa inteligente maior, um circuito vibratório muito grande por trás daquilo.
Nesse sentido, o método cientifico aplicado por Kardec foi o empírico, que se baseia na observação dos fatos. Ele não é muito bem aceito por outro tipo de método cientifico extremamente racional, tanto que muitos cientistas nem admitem a utilização do termo Ciência, para o Espiritismo. Como o professor Rivail era um cientista e outros tantos cientistas corroboraram com ele, o Espiritismo nasceu com essa presunção muito bem posta e que teria de ser, para as pessoas do mundo, não uma religião a mais, mas uma doutrina de vida a ser seguida e um conjunto de fenômenos a ser ainda descobertos, compreendidos e codificados pela Ciência. Quando a Ciência conseguisse fazer isso, talvez ela conseguisse interagir com essa Fenomenologia.
Assim, não estar na mediunidade, por enquanto, o aspecto cientifico colocado nas entrelinhas da pergunta, pois que mediunidade envolve o ser humano. Nós somos extremamente imprecisos, imperfeitos e a ciência que Kardec se referiu é uma ciência mais profunda, mais ampla. Nós temos a chamada Ciências Exatas: Matemática, Física, Química que independem do ser humano, elas simplesmente existem, o ser humano vai decodificando a natureza, a realidade ao seu redor, a equação matemática, uma equação de física, um demonstrativo químico, ela simplesmente ocorre cabalmente de forma demonstrável. Já a Psicologia e outras ciências não são exatas, mas também são consideradas ciências, mas há um campo de subjetividade muito grande intrínseco a aquele procedimento cientifico, por se tratar de algo que depende do ser humano, é um outro tipo de Ciência, não deixa de ser Ciência. Mas a Ciência ainda não trabalha com a fé e ainda não trabalha com nada que seja fora dos cincos sentidos do corpo físico e a mediunidade está alem desses sentidos, por isso ainda se não classifica esse aspecto como ciência.
Nesse sentido, a questão da interação dos “vivos com os mortos” será Ciência, quando do jeito que existe telefone entre as nossas casas, existirem telefones daqui para lá e de lá para cá. E isso já está sendo feito. Há mais de duas décadas que cientistas, pesquisadores, estudiosos e simples curiosos vêm fazendo experiências na Transcomunicação.
Por estranho que possa parecer, os resultados até hoje atingidos, os mais sérios nunca foram comprovados como fraudes, eles são sérios. Já apareceu Einstein do outro lado de uma televisão. Já apareceram espíritos famosos, espíritos desconhecidos, crianças, já apareceu de tudo nesses procedimentos de transcomunicação com gravadores. Você deixa televisores, computadores, gravadores ligados, em certos padrões de ondas e simplesmente aparecem vozes de espíritos, eles vêm interagindo. Está havendo o ponto de convergência entre o esforço cientifico do lado dos encarnados e esforço cientifico do lado dos desencarnados, para chegar ao ponto comum.
As fofocas espirituais dizem que daqui a alguns séculos os médiuns vão estar desempregados, porque a comunicação entre os que se amam independe de distância e dimensão. Simplesmente os vivos da Terra poderão falar com os mortos da Terra, através de procedimentos cientificamente postos, ou seja, através de tecnologia. Então o médium estará desempregado, que bom! Isso sim será ciência. Mas a mediunidade, com a imprecisão do médium, não pode ser chamada de Ciência. O médium não tem poder nenhum sobre o processo de comunicação, quem o tem são os espíritos. Nenhum médium, com o mínimo de consciência, pode se vender como sendo alguém que tem algum poder, porque não tem! Se eu disser que vejo espíritos, você pode dizer: você viu porque eles quiseram, não é pelo ato de vontade do médium que isso ocorre, não é porque o médium seja isso ou aquilo. Os espíritos dizem, acertadamente, que vem de lá pra cá, a iniciativa é sempre de lá para cá, então é algo que quem está do lado de cá não domina. Sendo assim não tem como estabelecer parâmetros de analises e métodos científicos sobre essas questões, mesmo no campo do empirismo, porque você não controla o processo, e a Ciência pretende controlar todas as fazes do processo, para poder equacionar.
Então, respondendo a pergunta objetivamente, o aspecto cientifico da questão não reside no médium com o espírito, ou de alguém ser excluído, ou porque alguém não foi escolhido, isso não é Ciência. Por enquanto é apenas o mecanismo que os espíritos utilizam para de alguma forma interagir conosco, na tentativa de ajudar a família encarnada para que ela possa progredir. Mas muitas imprecisões de erros ocorrem no exercício da mediunidade. Eu sou o maior exemplo disso, para mim mesmo. Porque eu sei o tanto que eu estrago o que vem de lá para cá.
Ainda não surgiu a Ciência que possa estudar esses aspectos da interação dos vivos com os mortos, do mesmo jeito que a Psicologia ainda enfrenta certas dificuldades no campo de conceituações formais aceitas por todos, na interação entre os vivos com os vivos. Muitas escolas brigam (aqui eu estou diante de um grande psiquiatra, ele não vai me deixar mentir), grandes escolas brigam até hoje umas com as outras, cada uma defendendo o seu ponto de vista. Então isso ainda carece de uma definição maior no contexto do pragmatismo científico. Nós ainda estamos evoluindo nesse aspecto.
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