Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou pra tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
Carlos Drummond de Andrade
fun·ção
(latim functio, -onis, cumprimento, execução, trabalho, exercício) - substantivo feminino
1. Festa; festividade.
2. Exercício peculiar a cada um dos órgãos.
3. Exercício de atribuições.
4. Trabalho.
5. Uso especial para que algo é concebido. = FUNCIONALIDADE, UTILIDADE
li·te·rá·ri·o - adjetivo
Relativo a letras, à literatura ou a conhecimentos humanos adquiridos pelo estudo.
Fonte: www.priberam.pt
A função total deriva da elaboração de um sistema simbólico, que transmite certa visão do mundo por meio de instrumentos expressivos adequados. Ela exprime representações individuais e sociais que transcendem a situação imediata, inscrevendo-se no patrimônio do grupo. Quando, por exemplo, encaramos a Odisséia, o aspecto central que fere a sensibilidade e a inteligência é esta representação de humanidade que ela contém, este contingente de experiência e beleza, que por meio dela se fixou no patrimônio da civilização, desprendendo-se da função social que terá exercido no mundo helênico. A grandeza de uma literatura, ou de uma obra, depende da sua relativa intemporalidade e universalidade, e estas dependem por sua vez da função total que é capaz de exercer, desligando-se dos fatores que a prendem a um momento determinado e a um determinado lugar. Esta função é aparentemente menos acentuada na literatura oral, que parece limitar-se ao âmbito restrito dos grupos em que atua e que a produziram. Todavia, quando surgem possibilidades de comunicação entre os grupos, a sua universalidade pode afirmar-se, e até mais do que sucede com as obras da literatura erudita, — pois se de um lado ela radica em experiências peculiares ao grupo, de outro encarna certos temas da mais acentuada intemporalidade, como os de alguns mitos, análogos em vários povos. Daí o encanto e a emoção que as lendas e canções primitivas despertam em nós, mesmo precariamente traduzidas e arrancadas ao seu contexto.
A função social (ou "razão de ser sociológica", para falar como Malinowski)
comporta o papel que a obra desempenha no estabelecimento de relações sociais, na satisfação de necessidades espirituais e materiais, na manutenção ou mudança de uma certa ordem na sociedade. Assim, os episódios da Odisséia, cantados nas festas gregas, reforçavam a consciência dos valores sociais, sublinhavam a unidade fundamental do mundo helênico e a sua oposição ao universo de outras culturas, marcavam as prerrogativas, a etiqueta, os deveres das classes, estabeleciam entre os ouvintes uma comunhão de sentimentos que fortalecia a sua solidariedade, preservavam e transmitiam crenças e fatos que compunham a tradição da cultura. Na literatura dos grupos iletrados, talvez esta função prepondere, pesando mais do que na literatura erudita dos nossos dias, feita para a leitura individual e voltada antes para a singularidade diferenciadora dos indivíduos, do que para o patrimônio comum dos grupos.
Considerada em si, a função social independe da vontade ou da consciência dos autores e consumidores de literatura. Decorre da própria natureza da obra, da sua inserção no universo de valores culturais e do seu caráter de expressão, coroada pela comunicação. Mas quase sempre, tanto os artistas quanto o público estabelecem certos desígnios conscientes, que passam a formar uma das camadas de significado da obra. O artista quer atingir determinado fim; o auditor ou leitor deseja que ele lhe mostre determinado aspecto da realidade. Todo este lado voluntário da criação e da recepção da obra concorre para uma função específica, menos importante que as outras duas e frequentemente englobada nelas, e que se poderia chamar de função ideológica, — tomado o termo no sentido amplo de um desígnio consciente, que pode ser formulado como Ideia, mas que muitas vezes é uma ilusão do autor, desmentida pela estrutura objetiva do que escreveu. Ela se refere em geral a um sistema de Ideias. O autor dirá, por exemplo, que tencionou mostrar como a vida é enganadora e como a virtude é uma questão de aparência, — coisas que poderíamos imaginar Machado de Assis falando das Memórias póstumas de Brás Cubas. Do seu lado, o público dirá se a obra lhe mostrou ou não esta concepção. Neste caso, a obra pode ser dita interessada, no sentido próprio, e não sectário, embora geralmente a função ideológica se torne mais clara nos casos de objetivo político, religioso ou filosófico.
Fonte: Literatura e Sociedade – Antonio Candido - Compre e leia o livro, vale a pena.
Para Roman Jakobson, teórico russo, os gêneros estão associados às funções da linguagem. Para ele, o ato comunicativo (oral ou escrito) se constitui a partir de uma inter-relação entre emissor e destinatário. Dependendo do objetivo da comunicação, predominará uma dada função. As funções da linguagem, segundo Jakobson, são seis:
Função Referencial é aquela em que prevalece o referencial, ou seja, o extra-artístico (o mundo e seus momentos). O emissor do texto enfoca de modo mais objetivo aspectos do mundo real.
Função Apelativa ocorre quando o falante, o emissor, centra o texto no receptor da mensagem.
Função Expressiva demonstra as impressões bastante subjetivas do emissor.
Função Metalinguística quando o emissor fala sobre a própria linguagem.
Função Fática visa a testar se a comunicação entre emissor e receptor está se efetuando.
Função Poética é aquela em que o emissor se utiliza dos aspectos sonoros, visuais e formais das palavras para maximizar a comunicação. Essa função predomina nos textos literários em que os aspectos estruturais da linguagem são muito relevantes.
Obviamente, diz o teórico, que num ato comunicativo podem estar presentes simultaneamente todas as funções, mas, geralmente, dependendo das intenções do emissor, há o predomínio de uma delas. Exemplos de excertos e suas respectivas funções de linguagem predominantes:
Função Referencial: “Eis São Paulo às sete da noite. O trânsito caminha lento e nervoso. Nas ruas, pedestres apressados se atropelam.”
Função Apelativa: “Chora de manso e no íntimo... Procura Curtir sem queixa o mal que te crucia: O mundo é sem piedade e até riria Da tua inconsolável amargura.” ( Manuel Bandeira )
Função Expressiva/Emotiva: “É noite. Sinto que é noite não porque a sombra descesse (bem me importa a face negra) mas porque dentro de mim, no fundo de mim, o grito se calou, fez-se desânimo” ( Carlos Drummond de Andrade )
Função Metalinguística: “Eu faço versos como quem chora De desalento... de desencanto... Meu verso é sangue. Volúpia ardente... Tristeza esparsa... remorso vão... Dói-me nas veias. Amargo e quente Cai, gota a gota, do coração.” ( Manuel Bandeira )
Função Fática: “O senhor não acha? Me declare franco, peço. Ah, lhe agradeço. Se vê que o Senhor sabe muito, em ideia firme, além de ter carta de doutor.” ( Guimarães Rosa )
Função Poética: “Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada E triste, e triste e fatigado eu vinha. Tinhas a alma de sonhos povoada, E a alma de sonhos povoada eu tinha.” ( Olavo Bilac )
Funções da Linguagem # Função Referencial: é centrada no referente, no assunto, e apresenta linguagem objetiva, clara, definida, em que predomina a denotação, usando-se sempre a 3ª pessoa do discurso. # Função Emotiva: é centrada no emissor, apresenta linguagem subjetiva, em que há traços estilísticos, como interjeições, pontuação expressiva, adjetivos e há o uso da 1ª pessoa do discurso. # Função Conativa (Apelativa): centra-se no receptor, apresenta vocativos, frases imperativas e optativas, busca convencer o destinatário da mensagem e usa a 2ª pessoa do discurso. # Função Fática: é centrada no canal, busca assegurar a comunicação, a transmissão da mensagem, é o canal sendo testado para medir sua eficiência. # Função Poética: centra-se na mensagem, tem por objetivo deixar a mensagem mais expressiva, através da seleção e da combinação dos signos, e não se restringe apenas à poesia.
# Função Metalingüística: é centrada no código e caracteriza-se pela explicação da linguagem por meio da própria linguagem. As funções de linguagem concorrem entre si, isto é, num mesmo texto aparece mais de uma função mas, normalmente, uma é predominante.
Fonte: Literatura brasileira – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Gerência de Ensino e Pesquisa – Departamento Acadêmico de Comunicação e Expressão
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