Desde muito cedo começamos a estudar. Os primeiros contatos com a escola acontecem aos dois ou três anos de idade, quando somos deixados num berçário, creche, maternal ou coisas do tipo. Porque isto acontece? Simples, nossos pais precisam trabalhar para nos dar o que comer e pagar as muitas contas que brotam diariamente. Por conta desse isolamento familiar e precoce convívio social estudantil, cada vez mais cedo, o ser humano inicia o questionamento quanto ao seu futuro profissional e econômico. Exemplos como os dos pais, em grande parte das vezes, serve como anti formula para os passos a serem tomados. Os estudantes das escolas públicas sofrem muito com as dificuldades de sobrevivência nesta sociedade consumista em que nos encontramos. Ele tem a vontade de vencer, o que significa poder consumir; tem o exemplo mais ou menos infeliz de seus pais, que pouco podem ajudá-los neste assunto, e por fim, uma escola cheia de problemas estruturais, que não o desenvolvem a contento para "vencer".
Por muito tempo este quadro teve pinturas sombrias, o estudante da escola pública acatava sua condição de trabalhador desqualificado e repetia a vida de seus pais, ou lutava para não aceitar a pressão social com as armas que tinha. Qual era? Trabalhar para pagar uma faculdade particular, geralmente localizada longe de sua residência, em cursos pouco atrativos para o mercado, e com qualidade de ensino quase sempre questionável. Com sorte, e muito esforço, talvez conseguisse um pequeno lugar ao sol. Felizmente, alguns ou talvez muitos destes que conseguiram um lugar ao sol passaram a lutar e defender uma melhor condição de estudo para esta juventude sem muita perspectiva.
Surgiram termos como "cotas", "ENEM", "vestibular social" "responsabilidade social", etc. Hoje vivemos um momento em que as cores sombrias do quadro estudantil público começam a ganhar cores, discretas é bem verdade, mas parece-me ser irreversível. Se tudo continuar a caminhar desta maneira, vislumbro um mundo menos desigual. Acredito que até mesmo esta necessidade de "vencer" acabará por ser vencida, pois numa sociedade equilibrada, as pessoas estarão felizes o suficiente para não quererem "tudo" o que veem. O planeta é limitado e todos os recursos devem ser compartilhados, sem abundancia, sem escassez. Uma universidade pública e gratuita é um exemplo destes recursos; não pode ser escassa nem abundante para os alunos do ensino público. Deve haver um equilíbrio harmonioso entre todas as camadas sociais, mas para que isso funcione é necessário melhorar as condições desde o início dos estudos, lá no berçário, creche, maternal ou coisas do tipo.
Autor: Arnold Gonçalves
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