Talvez porque seja o país mais populoso do mundo, e porque seja um dos maiores em território e com diversas riquezas minerais. Porque tenha uma economia totalmente voltada para a produção de bens de consumo para exportação e pouco consumo interno. Porque sua mão de obra é barata, já que não há comércio de bens de consumo significativo dentro de seu território. Porque o governo incentiva o desenvolvimento industrial. Porque o regime de governo é mantido à quase um século, e não há troca de partidos e ideologias no poder. Até mesmo os lideres permanecem a frente do país por longos períodos. Esta ausência de mudanças poderia ser uma tragédia, mas não foi. Hoje a China é a segunda maior potência econômica mundial.
Nos últimos anos a China vem deixando de ser apenas uma super exportadora, para também se tornar uma super importadora. Aos poucos, e quando lhe convém, abre nichos de seu mercado interno para o consumismo. Qualquer compra da China será assombrosa, e eles nem precisam expor toda a sua população ao consumo. É um imenso poder de manipulação econômica, mas também e principalmente política. Por ser um país comunista, penso que a impressionante inserção da China na movimentação da economia mundial tem mais objetivo político do que comercial.
Todo esse processo teve início no final da década de 1970 com forte incentivo à produção agrícola familiar. Em meados de 1980 foi a vez de criar e fortalecer a indústria que era quase inexiste no país, para isso foi necessário abrir algumas cidades ao capital estrangeiro, como uma espécie de ilhas de capitalismo em meio ao mar de comunismo. No início de 1990 foi a vez de interiorizar esse processo industrial e de consumo. Foram feitas várias experiências em pequenas regiões, e conforme o modelo econômico ia se apresentando eficaz, ia sendo expandido para outras regiões. Fato que tornou a China um país de alta importação, além de exportação. E que também facilitou a sua admissão como membro da Organização Mundial de Comércio.
Nos anos 2000 a China concentrou-se em adequar-se aos mecanismos de mercado da OMC, e deu início aos trabalhos de desenvolvimento interno de vários segmentos, como telecomunicações, medicina e serviços financeiros. E mais recentemente no que diz respeito à melhora das condições no mercado de trabalho e estabelecimento de maiores garantias sociais. Já que uma das maiores censuras mundiais é quanto ao trabalho tido como escravo em território chinês. O resultado de todo este trabalho é que o superavit comercial da China é atualmente bem menor do que se supõe, devido ao imenso movimento de modernização do país, o que necessita de muita importação de todo tipo de bem, principalmente daqueles com maior tecnologia agregada, cujo custo é bem alto.
O futuro vem mostrando uma China cada vez mais importadora de produtos primários, como o algodão e diversos minérios; e cada vez mais produtora de produtos com benefícios agregados. Sua economia parece estar entrando numa nova fase de simples transformadoras de manufaturados, para criadora de manufaturados. Novas tecnologias e produtos começarão a surgir na China com maior intensidade. O que resta saber é se todo esse avanço chinês é bom ou não, já que nos acostumamos a ter os Estados Unidos como o todo poderoso senhor da economia mundial e sabemos como eles se comportam perante os pequenos. A pergunta é “como a China se comportará perante nós se ela se tornar a maior?”.
Autor: Arnold Gonçalves
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