Carne fraca é o nome dado para uma operação da polícia federal deflagrada em março de 2017. Esta operação provavelmente teve como ponto de partida e inspiração, fatos ocorridos no estado do Paraná, em meados de 2014, quando houveram sérios problemas entre a fiscalização e alguns frigoríficos. Estas desavenças culminaram com o afastamento de um fiscal responsável, que, indignado, despachou para Brasília um farto volume de documentos e provas. A polícia federal estava assim, diante de um pernicioso esquema muito maior do que parecia ser. Uma mistura de corrupção e práticas absurdas na produção de alimentos, e que acontecia desde a muito tempo.
Esta operação ganhou as redes sociais e a grande mídia cobriu com afinco. Foi uma das maiores operações já registradas pela polícia federal. Criou um problema descomunal em relação às exportações brasileiras, já que o Brasil é o maior exportador de carne do mundo. Empresários influentes foram presos, assim como fiscais Políticos se viram envolvidos, inclusive alguns que estão dentro do atual governo. É fato que percentualmente, o número de fiscais envolvidos foi pequeno, ainda mais o de frigoríficos, mas todo o sistema fica em alerta quando ocorre uma situação tão grave quanto esta. A maquiagem de produtos estragados é um caso sério de risco à saúde pública. Mais uma vez o deus Dinheiro mostrou sua força em nossa sociedade.
O fato é que apesar da indignação, o ocorrido foi um fator positivo para o nosso crescimento social, afinal, até fevereiro de 2017 estes patifes estavam tranquilamente vendendo suas carnes estragadas para o nosso almoço e churrasco dominical. E nós, os otários, estávamos felizes, como sempre, agradecendo a Deus e aos bons e nobres empresários que se esforçam dia e noite para nos servir com produtos de qualidade. Infelizmente, penso que estamos vivendo numa espécie de letargia, onde nada que possa acontecer irá nos tirar do cotidiano, e no dia seguinte à deflagração da operação, as filas nos açougues e os pacotes de salsicha indo para os carrinhos de supermercado, continuaram da mesma maneira como sempre foram.
Mas de tudo que vi nesta semana de março em que muito foi falado sobre o assunto, o que mais me incomodou mesmo foi como a preocupação maior sempre foi com os dólares da exportação que poderiam ser perdidos. Fico aqui pensando no cidadão que consumiu estas carnes estragadas, eu mesmo posso ter sido um deles. Em nenhum momento vi a preocupação em rastrear estes produtos e consumidores potencialmente contaminados. Depois vamos parar num pronto socorro e o que o médico consegue dizer é que foi uma virose. E que é assim mesmo, e tome um antibiótico que mata tudo, e que se piorar pode voltar, e se não voltar é porque ficou bom... ou então... morreu.
Autor: Arnold Gonçalves
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