Até alguns anos atrás, cada instituição de ensino superior tinha seu próprio e exclusivo vestibular, e em sua grande maioria cobrando uma boa quantia pela participação do candidato. Somente as instituições de ensino superior da rede pública ofereciam gratuitamente a participação no vestibular ao candidato, mas as suas provas eram proibitivas para quase a totalidade dos candidatos formados em escolas públicas do ensino médio. Era sem dúvida uma contradição, os alunos da rede pública acabavam na malha de ensino superior da rede privada, e os egressos das escolas particulares de ensino médio na rede pública de ensino superior. A maior parte das faculdades/universidades particulares esperavam o resultado das universidades públicas para efetuarem os seus vestibulares, assim poderiam pegar mais alguns abastados que ficaram de fora. Quanto mais tardiamente era o vestibular, pior era a reputação da instituição de ensino.
No início da década de 2010 surgiu o ENEM e as coisas começaram a mudar. O candidato poderia se concentrar basicamente para uma única prova e concorrer com a intensão de ingressar numa instituição específica, mas podendo aproveitar o esforço para outras opções alternativas. Com isso vimos jovens se deslocando pelo Brasil afora, indo de Goiás para Santa Catarina; de São Paulo para Bahia; etc. Muitas escolas da rede privada rapidamente aderiram ao resultado do ENEM na expectativa de não verem seu número de alunos minguarem. Alunos com nota boa no ENEM também passaram a serem vistos com bons olhos, já que naturalmente conseguiriam boas notas durante o curso e manteriam o padrão de nota média dos cursos num patamar aceitável, já que a péssima apuração final do aprendizado nos cursos causaram inclusive o encerramento de atividade em várias faculdades/universidades da rede privada.
Atualmente vemos que o sistema vem se acomodando gradativamente ao advento do ENEM e que a quantidade de jovens que aceitam aventurar-se em locais muito distante de sua terra natal vem diminuindo. Aos poucos, os vestibulares das melhores escolas particulares veem recuperando prestigio e participação exclusiva. As universidades públicas ainda mantem o atrativo da gratuidade, e de uma pseudo melhor qualidade no ensino. Com a pressão governamental e empresarial pela privatização do ensino, aliado a sofríveis condições físicas e estruturais do campus e dos frequentes acontecimentos de greves, invasões e falta de segurança; há tendência de que o ensino público se apequene cada vez mais e o privado tome conta da maior parte deste que é chamado de nicho econômico da educação. Sendo assim, se queremos ter um país com ensino de verdade, temos que nos alinhar aos grupos que defendem a educação para todos.
Autor: Arnold Gonçalves
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