A vida é como um laboratório de teatro onde ninguém sabe ao certo qual a sua fala, ou em que momento deverá participar. É formada quase que exclusivamente por cenas de improviso, e neste cenário de surpresas é muito provável que as pessoas se comportem de maneira indecisa, e por consequência, indefinida. É o normal em nossa existência humana não sabermos o que fazer diante de quase todas as coisas, visto a dificuldade e tempo que leva, em relação as demais espécies, um filhote humano para chegar a situação de adulto, ou seja, de auto sobrevivência. O discernimento humano nem sempre é um benefício, e a indefinição é um desses problemas; os demais animais geralmente agem de imediato.
O que espera a sociedade em relação a nós não é o que podemos chamar do resultado de uma precisa reflexão a respeito de como ser e qual rumo tomar perante a vida, mas simplesmente a definição urgente rumo ao caminho comum do curral, da vala dos explorados que mantém a engrenagem em funcionamento. Muitas pessoas hesitam, e a sociedade cria dificuldades para que elas se posicionem rapidamente em direção ao caminho “correto”, e somente diante dessas dificuldades é que algumas dessas pessoas mudam para o perfil socialmente “correto”.
Alguns, ainda assim, persistem na indecisão entre o aceite e a perseguição social. Ficam em estado inerte, não tomam partido, não se metem em ação. Os motivos são variados, pela nobreza filosófica, ou pela pobreza da preguiça; não importa. Consciente ou inconscientemente, eles sabem ou sentem que o caminho a seguir não deveria ser aquele que a sociedade lhe diz, e estancam tal qual um burro diante da cobra peçonhenta. São milhos que não vingam, não eclodem para a sociedade, não se transformam em deliciosa pipoca. Úteis, sim, cada elemento tem seu papel social, e na natureza artificial, assim como na real; o milho também terá a sua utilidade no final.
Assim, os indefinidos, os fracos, os providos ou desprovidos de inteligência, etc. Ocupam papeis primordiais na sociedade, ninguém decide por si só estar na base, na sustentação estrutural. Todos querem o bom, o que há de melhor, o prazer, o cume social. De uma forma ou de outra o milho fará a alegria da sociedade; virando a deliciosa pipoca, ou servindo de alimento para engordar o delicioso frango que será temperado e assado. Querendo ou não; indefinido ou não; todos nós estamos no mesmo laboratório da vida, é só uma questão de percepção.
Autor: Arnold Gonçalves
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