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O Brasil é um país rico com grande parte da população pobre, então a solução é relativamente simples; distribuição de renda. Justamente o que não estamos vendo acontecer. Esta ideologia retomada recentemente de que tem que trabalhar para merecer o ganho é conversa fiada, ninguém trabalha mais que o pobre, e a zona leste de São Paulo sempre foi referência em se tratando de trabalhador que dá duro e continua na linha da pobreza. “Pobre tem que sofrer.”; “Quero que o povo se exploda.”... Não é de hoje que o Brasil está em construção, e a parte boa ainda está por chegar (só para a massa trabalhadora), então arregaçar as mangas e mãos ao trabalho pessoal. E assim o Brasil vai sendo construído por muitos para proveito de poucos. Na década de oitenta o grupo Plebe Rude já perguntava “Cadê minha fração, até quando esperar...”; E Raul Seixas ironizava “A solução é alugar o Brasil...”. De lá para cá muita coisa mudou no país e a zona leste de São Paulo pode ser tomada como exemplo. A avenida Sapopemba era uma das avenidas mais violentas do país; falar que morava em São Miguel causava terror para qualquer ouvinte; Parada XV era a estação de trem mais sinistra e perigosa que se possa imaginar; a “civilização” acabava no viaduto da antiga estação Vila Matilde; em Parque São Rafael era raro um dia sem estupro; Vila Industrial, Jardim Planalto, Parque Santa Madalena, Jesus me salve; Avenida Marechal Tito, Estrada do Lajeado, passando pelo Jardim Robru rumo Guaianazes, só por Deus... Assim era a zona leste, assim era São Paulo, Assim era o Brasil. Era sem dúvida nenhuma muito pior, mas isso não quer dizer que se tornou justa e plena. Assim como na década de oitenta o asfalto chegou para o extremo da ZL, alegrando as pessoas, mas deixando o esgoto correndo pelas guias; as comodidades de nossos dias enfeitam e iludem muitas vidas recheadas de carências e necessidades. A população da ZL sempre me pareceu diferente em relação aos outros extremos de São Paulo, pois nela era visível haver mais esperança que nos outros lugares, mesmo sendo ali um lugar tão ou mais miserável. E como melhorar para valer e de forma definitiva é a questão que aflige todos nós, e por ser uma questão que está dentro de cada um já abre a possibilidade de que a resposta esteja em cada um de nós também. É o que atualmente se diz quase como em tom de moda: “Cidadania”. Mas por enquanto, como falou Emicida, “cidadão ainda é apenas uma cidade grande...”. Todos ainda estão isolados apesar de ocuparem espaço comum em seus guetos sociais. O medo é provavelmente o maior dos problemas que impedem as pessoas de se tornarem cidadãos, pois o sistema não vai querer que venham tirar sua abrangência de poder. O brasileiro terá que ter coragem e muita esperteza para se tornar cidadão, pois a verdadeira cidadania é inimiga do sistemão, e sabe o que o sistemão faz com os inimigos? Autor: Arnold Gonçalves |
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