|
Manhã de segunda, dia de voltar ao trabalho, Fulano levanta-se cambaleante rumo ao banheiro, mas sem antes parar o olhar em seu celular. Muitas mensagens, vai verificar... - E aí, Fulano! Onde você tá?... Tô te procurando desde ontem... Não atende telefone mais?... Preciso te avisar... Seu tio morreu... Mas você não tá em nenhum lugar... Abandona as mensagens, vai ao lavabo para acordar, péssimas notícias logo ao iniciar o dia. Volta pensativo e finalmente responde ao apelo familiar. - Sicrano, a porcaria da companhia telefõnica vive tirando minha linha do ar, vou ficar só com o celular. Conta aí... o que é que foi? - O tio não se sentiu bem ontem a noite... dor no peito, falta de ar... levamos para o hospital, mas já estava mesmo ruim. O coração parou... sem avisar. Foi rápido, sem muito sinal. - Pô cara, tô abalado, sem palavras para falar. É triste esta hora de morrer... - Pelo menos descansou sem sofrer, não meteram nas máquinas, nem entubaram. O enterro vai ser ainda hoje, tu vem? - Sicrano, tô no osso. Sem carro, sem dinheiro, e ainda tenho que trabalhar. Os cara da firma não tão nem aí. Nunca vão liberar. Querem é mais... Vou ficar por aqui e rezar. - Nosso tiozão! Vai refugar? Sempre teve com a gente toda vez... - É a vida, ela não te deixa parar, não dão trégua nem para a gente chorar os parentes e amigos que morrem perto do horário comercial. - Sei como é... escravo até na hora de morrer... vou rezar por ti... Autor: Arnold Gonçalves |
Redação anterior |
|
Próxima redação |