Estamos muito distantes de entender as razões que levaram a acontecer, e muito menos saber porque não termina nunca. Para quem vê de longe, e transformando para os padrões típicos de nossa terra, a impressão que fica é a de que em algum tempo no passado remoto, um determinado e específico pedaço de terra foi vendido ou cedido para duas famílias ao mesmo momento; não se sabe qual delas se apossou da terra primeiro, mas logo, a outra também fincou suas raízes por lá, e desde então brigam pela posse definitiva e total do espaço. A família mais abastada leva vantagem e incorpora a maior parte do terreno, elevando, inclusive, grandes construções, mas a mais pobre não desiste, luta determinada pelo que julga ser seu. Ambas se sentem no direito à terra por honestamente terem adquirido este terreno. Assim, temos um impasse infindável, onde somente será solucionado se uma da famílias abrir mão do direito ou deixar de existir.
A evolução humana, isto vale para todos, não atingiu tal expansão de despreendimento pelas coisas materiais, logo, não há como uma das famílias abrir mão deste espaço, pois certamente não encontrarão outro lugar para ficar. Os seus membros acabariam ficando espalhados por diversas casas distantes e incomunicáveis entre si. Em algum momento da história isto realmente aconteceu, e muitos destes familiares não foram bem recebidos, sendo inclusive assassinados de forma brutal. O resultado foi o retorno forçado ao terreno original e intensificação nos conflitos com a família que houvera ficado na terra.
A situação fica mais agravada pelo fato de que cada família comunga de religião diferente e antagônica. O que torna muito mais difícil o entendimento entre ambas para o usufruir comunitário do mesmo espaço. Essas religiões reforçam o direito de exclusividade pelo terreno, e pregam para não abrir mão de núcleos importantes ao uso coletivo. Como nós vemos por aqui, quando famílias entram em processo de luta pela terra, e as mortes começam a ocorrer, tendem a ficar constantes, graças as ações de vingança e retaliação. É um círculo vicioso de complexa dissolução. Somente com muita diplomacia e a iniciativa de ceder espaços e cessar ações violentas e restritivas será possível a convivência pacifica. Mas nós por aqui sabemos que briga por terra sai faisca.
Autor: Arnold Gonçalves
|