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A alfabetização e a formação de professores.

Apesar de todos os esforços dos mais diversos governos que já passaram por aqui, o analfabetismo ainda persiste em nosso país. Números estatísticos dão conta de que em 1900 tínhamos 65% da população analfabeta e que cem anos depois ainda restavam 13,6% nesta mesma situação. Em cem anos não foi possível erradicar este mal social, e o que é pior, criou-se outro segmento preocupante, o do analfabetismo funcional.

A alfabetização ganhou importância com a necessidade de formar mão de obra para as novas necessidades que surgiram com a industrialização. As novas profissões passaram a exigir cada vez mais a capacidade de leitura e uma mínima interpretação dos textos indicativos de como proceder. E assim foi feita a estrutura de alfabetização em nosso país, com o sentido quase que exclusivo de preparar os alunos para o trabalho especializado. Esta abolição do processo de meditar sobre o assunto, de indagar, perguntar, pesquisar; foi até tido em alguns momentos, como um grave problema, passível de recriminação, repressão e perseguição.

O mesmo se deu com a formação dos professores, cada vez mais relegada a segundo, terceiro, quarto plano. O professor, detentor de uma das mais nobres e valorosas carreiras, hoje é tratado como vagabundo por diversos indivíduos da sociedade, inclusive dentro da classe política dominante. A cada tempo tem que reciclar de acordo com os novos métodos administrativos e de ideologia. Foi ABC, depois MOBRAL, agora o EJA. As políticas públicas são criadas como se fossem remédio, mas daqueles que não curam definitivamente.

O professor fica de mãos atadas, pois pouco pode fazer diante da progressão continuada, da evasão, da degradação dos estabelecimentos de ensino. Ganha o mínimo para sobreviver, e não tem as condições necessárias para pesquisar e se aprimorar. Como melhorar a vida dos alunos, se a sua não é suficientemente boa? Os orçamentos governamentais são pouco generosos com o setor da educação, e quando os recursos aparecem, é comum caírem nas mãos de administradores perversos.

Hoje, o único meio de se viver com dignidade sendo professor, é ministrando aulas no ensino superior das grandes universidades, onde, salvo as cotas, só irá encontrar alunos formados no ensino fundamental da rede privada. Ao que parece, o futuro da educação é ser entregue totalmente ao mundo empresarial, e nos resta torcer para que eles não cheguem a conclusão de que é bom ter um percentual de analfabetos, de forma a voltarmos no tempo e retornar-mos aos números de 1900.

Autor: Arnold Gonçalves


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