Se fosse fácil, a sociedade não estaria discutindo sobre o assunto através de décadas, talvez, séculos. A água é matreira e escorre pelos cantos causando novas formas de calamidades afrontando cada solução apresentada. Quanto mais as cidades crescem, maiores são os impactos causados por estas inundações. Está aí um dos maiores problemas a serem enfrentados; as cidades não deveriam ser tão populosas da maneira que vemos atualmente. E se pelo menos crescesse de maneira mais ordenada...
O crescimento desordenado das cidades impacta e muito na qualidade de vida das pessoas, e o problema das enchentes está entre as causas deste decréscimo em qualidade. As ruas são engolidas pelas construções, que avançam sem fim. Muitas delas não permitem sequer espaço para calçadas e guias minimamente qualificadas. O comum é não haver qualquer recuo na construção dos imóveis. Espaço para terra, grama, jardim, árvores... Nem pensar. Como é que a água vai se infiltrar na terra? Nem a parte da vazão de águas da chuva é feita corretamente. E aí...
Os bairros quase sempre surgem pelo processo das invasões. A maximização do uso do espaço é regra. Cada invasor luta por seu território, e neste caos, ninguém vai pensar no social, na área de circulação, vazão, muito menos preservação. Cada qual quer demarcar seu quadrado e construir para onde for possível. Só depois, muito depois, vem o poder governamental executivo instalando gradativamente as melhorias básicas de uma cidade, e o trato das águas da chuva, e mesmo do esgoto, ficam para traz.
E assim vamos vivendo em meio a tremenda algazarra social. O que pode ser feito para minimizar as dificuldades é adaptar-se. Casas com andares superiores, escotilhas, mobiliário de alvenaria, e tudo mais que a criatividade permitir. Muitas cidades simplesmente soterram seus rios e riachos, mas mesmo que leve anos, a natureza resgata seu espaço em algum momento. E por aquelas ruas o rio voltará a correr incontrolavelmente. Com tantos sinais de ignorância social, creio que a solução só pode estar na evolução de cada célula humana formadora desta sociedade que ainda sonha em ser civilizada.
Autor: Arnold Gonçalves
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